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BRASIL

Vamos com Boulos, MTST e PSOL, sem medo de mudar o Brasil

Editorial 6 de fevereiro

Os eventos de 2015 e 2016 impactaram brutalmente a conjuntura nacional. Impossível esquecer os milhares nas ruas bufando contra tudo o que poderia remeter à esquerda, num processo que culminou com o impeachment de Dilma Rousseff.

As manifestações verde-amarelas pró-impeachment marcaram a virada da situação aberta em junho de 2013. O golpe, sem tanques nas ruas, conseguiu, em um ano e alguns meses, impor a PEC do teto dos gastos, a reforma trabalhista, a lei das terceirizações, a venda do pré-sal. A agonia do desemprego é o retrato do Brasil em que vivemos hoje, um país cada vez mais desigual.

Diante da crise política, figuras reacionárias aparecem como saída para a classe média, e infelizmente, para parte da classe trabalhadora e a juventude: Bolsonaro, Sérgio Moro, Doria e MBL, e agora Luciano Huck, são algumas expressões do retrocesso. Certamente, uma de nossas tarefas mais importantes é derrotar esse setor.

Infelizmente, o PT e Lula não ultrapassam os estreitos limites da institucionalidade. Ainda tentam estender a mão ao mercado. No segundo momento do golpe, diante da condenação sem provas do primeiro colocado nas pesquisas, dizem: “Calma! Vamos vencer nas urnas”. A burguesia rompeu com o PT, mas definitivamente o PT não rompeu com a burguesia.

Ficou nítido que os de cima não estão para brincadeira. Também ficou evidente que com o PT não é possível resistir até o fim. Não à toa, no dia da condenação do ex-presidente, a Frente Povo sem Medo foi quem assumiu a postura mais radical contra o golpe.

Diante de tamanha ofensiva dos de cima, defendemos incansavelmente a unidade de todos para enfrentar o golpe. Há, no entanto, outra tarefa inadiável: a construção de uma alternativa que inicie o processo de superação do PT, mas que não se negue a dialogar com aqueles que nutrem esperanças em Lula. Alternativa que não cometa o mesmo erro de governar com empresários e banqueiros. Que seja anticapitalista e apoiada na luta e na resistência do nosso povo.

Diante do golpe, ocorreram importantes batalhas. Durante elas, pudemos ver essa alternativa brotar. A classe trabalhadora fez uma greve geral histórica que, apesar do vacilo subsequente de suas direções, mostrou força e adiou a reforma da previdência.

Foi enfrentando o golpe que o PSOL se tornou o partido que mais cresceu nos últimos anos, mesmo enfrentando o descrédito da política e do ataque da grande mídia à esquerda. Foi enfrentando o golpe que pudemos ver o crescimento de um movimento de moradia que se tornou um exemplo de resistência, o MTST. Foi do seio dessa luta que construímos uma plataforma política com o nome sugestivo de “Vamos! Sem medo mudar o Brasil!”, que não sendo um programa acabado da revolução brasileira, apresenta uma saída anticapitalista para a crise.

É diante disso que defendemos uma aliança do MTST com o PSOL também para as eleições de 2018. Essa aliança política deve ser a união do que existe de mais avançado na luta social com o polo mais dinâmico da reorganização política da esquerda. Todas as organizações e partidos da esquerda socialista deveriam se unir a esse processo em uma frente política.

Guilherme Boulos, líder dos sem-teto, é o que melhor pode expressar uma alternativa radical daqueles que com suas próprias mãos buscam garantir suas conquistas com luta. Alternativa que pode dialogar com o povo das periferias do Brasil, com os setores oprimidos.

Temos convicção de que a militância do PSOL e do MTST, junto aos milhares de ativistas que levarão essa campanha para as ruas, terão coragem e firmeza para defender um programa anticapitalista. Certamente, tocaremos o dedo na ferida, em defesa de uma saída radical para a crise social e política. Defenderemos a revogação imediata das reformas de Temer, a reforma urbana e agrária, a auditoria da dívida, a taxação das grandes fortunas, a reestatização das empresas privatizadas. Essa unidade aponta para a superação da ideia equivocada de que só podemos governar em aliança com os partidos burgueses, empresários e latifundiários.

Boulos não é mais do mesmo, porque é líder de um movimento que vem recorrendo à mobilização de milhares para conquistar suas pautas. O MTST ocupa terras destinadas à especulação imobiliária nas grandes cidades. Frequentemente é criminalizado por suas ações, como trancamento de rodovias, ocupações e atos de rua.

Há mais “socialismo” nas ações de milhares em luta pela moradia do que em declarações ultra-radicais que não movem os trabalhadores. As mobilizações de massa são um exemplo de que nada substitui a luta social de milhões para desafiar a ordem. As ideias só têm poder transformador quando inspiram a disposição de luta para mudar o mundo.

Diante da necessidade de enfrentar a direita e da incapacidade histórica do PT de cumprir esse papel, a esquerda socialista precisa tentar falar para além de si. Sem abrir mão de seu programa, é preciso buscar o ambiente para que ele seja ouvido. É preciso tentar mexer no tabuleiro, fazer a roda da história girar em um sentido progressivo. A candidatura de Guilherme Boulos aponta para uma reorganização contundente na esquerda. Pode avançar na ligação do PSOL com setores mais amplos, com os setores mais explorados e oprimidos da nossa classe. Pode expandir o PSOL para além dos seus próprios muros.

Respeitamos as instâncias de decisão do MTST e do PSOL e aguardaremos sua definição. Desde já, no entanto, afirmamos que, com muita garra, energia e, apesar das dificuldades que enfrentamos na conjuntura, com muita alegria, entoaremos: “Povo sem Medo, com Guilherme Boulos Presidente”. Queremos construir essa nova alternativa, que não admite conciliar interesses dos sem-teto com os da Odebrecht, dos sem-terra com os da Kátia Abreu, dos oprimidos com os de Eduardo Cunha, dos trabalhadores com os dos banqueiros. Nós “Vamos, sem medo”!