Artistas reinterpretam foto que virou símbolo da luta palestina

Por: Gustavo Sixel, do Rio de Janeiro, RJ

O jovem palestino Fawzi al-Junaidi, de 16 anos, foi preso no dia 07 de dezembro, em Hebron, na Cisjordânia, um dia após Trump ter declarado Jerusalém capital de Israel. O rapaz franzino foi acusado de lançar pedras e levado de olhos vendados por 20 soldados.  Segundo parentes, ele passava pelo local vindo de um shopping. Assim como Fawzi, 320 adolescentes e crianças palestinas estão em prisões israelenses, julgados por tribunais militares.

As cenas transformaram-se em um símbolo desta nova revolta palestina e da brutalidade de Israel e vêm sendo reinterpretadas por artistas de várias partes do mundo. Alessia Pelonzia, uma jovem designer italiana, fez um desenho a partir da foto e publicou em sua conta no Twitter, recebendo centenas de mensagens de agradecimento e respeito, principalmente de palestinos. Em entrevista à agência Anadolu, da Turquia, Alessia disse que a imagem a impressionou muito. “Eu decidi quase imediatamente desenhar algo”, afirmou.

Na pintura, os soldados têm apenas contornos, a não ser por uma parte do uniforme de um deles, que junto com as roupas do jovem, forma as cores da bandeira palestina. “Você pode ver a bandeira palestina no desenho de qualquer maneira. É algo que não pode ser silenciado. Não se pode varrer a identidade de um povo debaixo do tapete “.

Ela também defendeu o papel dos artistas na questão palestina. “A liberdade é um dos princípios básicos da arte. Não podemos nem devemos permanecer indiferentes”. E completou: “A solidariedade é a coisa mais importante nestes tempos obscuros, e acredito que é uma das armas mais poderosas contra a injustiça”, afirmou.

Pelonzi disse que decidiu não mostrar os rostos dos soldados israelenses em seu desenho porque considera que “os políticos são culpados, não os soldados. As últimas decisões horríveis e a violência vieram do topo”.

Já a designer gráfica palestina Asma Musleh, de 25 anos, fez também a sua interpretação da foto, mas não poupou os soldados e o governo de Israel, responsável pela ocupação das terras palestinas e a violência contra seu povo. A jovem desenhou grandes asas no jovem palestino e publicou no Twitter, escrevendo: “Estou livre enquanto estiver no meu país … Mas você está de passagem!”

Desenho de Asma Musleh, sobre foto de Abed Al Hashlamoun


Mohammad Sabaaneh Sabaaneh, 38 anos, é considerado um dos mais famosos caricaturistas da Cisjordânia e da Faixa de Gaza. Desde o anúncio sobre Jerusalém, Sabaaneh dedica suas charges ao presidente dos Estados Unidos. Formado em Belas Artes na Universidade de An-Najah, Sabaaaneh é cartunista em um jornal e autor de um livro de cartuns sobre a Palestina, a maior parte deles produzidos nos cinco meses em que passou em prisões israelenses, escondido dos guardas.

A exceção foi no dia 13, quando ele fez a sua interpretação da foto do jovem sendo levado pelos soldados. Sabaaneh faz uma referência a imagem dos três macacos. Acima da imagem do jovem de olhos vendados, desenhou um governante árabe tapando os ouvidos e logo abaixo uma figura escondendo a boca, simbolizando o silêncio da opinião mundial.

Cartum Sabaaaneh
Cartum Sabaaaneh

A crítica aos demais governos árabes é compartilhada pelo brasileiro Carlos Latuff. Em entrevista ao site Al-Monitor nesta semana, ele condenou a reação dos líderes. “O que me deixou com raiva é perceber que, enquanto os árabes estão protestando nas ruas, os líderes não estão fazendo nada. Ao contrário, estão mantendo a colaboração com Israel”, afirmou.

Muitas charges do brasileiro têm sido exibidas como cartazes durante os protestos no mundo árabe. Em especial a que mostra uma personagem – uma “mãe palestina” – dando chineladas em Donald Trump e recordando que “Jerusalém é a capital da Palestina” – hashtag mais usada nas últimas semanas no Oriente Médio.

Charge de Latuff, exibida em protesto.

O cartunista desenha sobre a Palestina desde 1999, quando passou 15 dias no País. Seus desenhos tornaram-se símbolo de denúncia das agressões de Israel, como  as  invasões à Faixa de Gaza. Por conta de seu trabalho, recebeu ameaças e foi incluído por uma organização dos EUA em uma lista com as dez pessoas mais antisemitas do mundo.

Graffiti no muro
A barreira de 760 km que isola os Territórios da Cisjordânia e de Jerusalém Oriental tem recebido desde 2005 as obras em estêncil do artista Bansky, marcadas pela ironia e por elementos e situações improváveis, como a de uma menina revistando um soldado. O  britânico chegou a declarar que o lado palestino do Muro do Apartheid erguido por Israel é uma “atração turística” obrigatória para grafiteiros de todo o mundo, que vêm protestar contra a prisão dos palestinos.

No dia 30 de novembro, pouco antes da frase de Trump, o artista australiano Lushsux pintou no muro uma imagem do presidente Trump em um beijo com o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu. Na legenda, Netanyahu agradece “pela parede” e Trump responde que “seu país e você sempre virá primeiro, meu amor …”

Em agosto, o mesmo artista já havia pintado Trump examinando o muro e pensando “Eu vou construir um irmão”, em referência aos planos de construir um muro na fronteira com o México. “O muro é uma mensagem em si”, disse o artista à agência Reuters. “Não preciso escrever Palestina livre ou algo assim, realmente direto. Eu apenas pinto o que eu costumo pintar. Talvez funcione melhor”, afirmou.


Mas nem mesmo seu mural resistiu à força dos últimos acontecimentos. A imagem de Trump foi coberta por tinta preta e por uma frase avisando ao vice-presidente dos EUA,  Mike Pence, de que ele “não é bem vindo”. Um recado de que todas as reuniões de negociação com os Estados Unidos haviam sido suspensas depois da declaração de guerra de Donald Trump.



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