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EDITORIAL

Em um mundo em crise, o que significa a ida de Neymar para o PSG

Por Diogo Xavier, Recife, PE

O mundo da bola está em polvorosa, o que antes era só especulação se concretizou, Neymar vai para o Paris Saint-Germain. A notícia correu o mundo por diversos aspectos e o que salta aos olhos é o que o clube francês vai pagar pelo brasileiro, o valor da multa é de 222 milhões de euros (809 milhões de reais) a maior quantia já paga por um jogador de futebol no planeta, o recorde até o momento foi pago pelo Manchester United pelo francês Paul Pogba no valor de 105 milhões de Euros, que não é nem a metade do valor pago por Neymar.

É preciso entender de onde vem o dinheiro do PSG, o clube que era até então uma força média na França e só possuía dois campeonatos franceses, foi comprado em 2011 pelo bilionário e membro da família real do Qatar Nasser Al-Khelaifi que é dono de 70% do clube. Ele se tornou presidente do clube injetando uma quantia gigante de dinheiro todos os anos, uma despesa de 542 milhões de euros no balanço da temporada passada, que é inclusive muito obscura, já que entra nas contas do clube como “outros” o que dificulta a investigação sobre onde foi gasto e como veio esse valor. Essas quantias vêm da Qatar Sports Investments (QSI) que por sua vez é um braço da Qatar Investments Authority (QIA) um fundo que é controlado pelo governo do Catar.

A interferência do Catar no futebol não é de hoje, a sua primeira grande aparição foi justamente com o patrocínio do Barcelona em 2011, até então o clube catalão nunca havia sido patrocinado por nenhuma marca, essa chegada já no primeiro nível do futebol mundial mostrou que os catares estavam com grandes ambições. A compra do PSG no mesmo ano e a quantidade de jogadores de ponta levados ao clube francês continuaram o ritmo frenético de investimentos. O passo seguinte foi levar a Copa do Mundo para o país e conseguiram numa eleição que até hoje está sob investigações e foi uma das principais causas do FIFAGATE.

A Copa de 2022 será no país árabe e a decisão que levou a ela foi um dos grandes motivos do Fifagate e da saída da alta cúpula da entidade máxima do futebol por conta da compra de votos. Além do caso de corrupção, o Catar é acusado por cortes internacionais por trabalho escravo na construção dos estádios pra copa, até agora estimativas apontam que já morreram 1200 operários nas obras da Copa, um número assustador, mas que não provocou nenhuma medida da FIFA para com o país sede.

No meio disso tudo o Catar ainda passa por uma grave crise política, sete países (Arábia Saudita, Egito, Bahrein, Emirados Árabes Unidos, Líbia, Iêmen e Maldivas) cortaram os laços com o reinado e impuseram sanções severas sob a justificativa do Catar estar financiando o terrorismo. Por ser um país muito pequeno e de uma população majoritariamente composta por expatriados esse tipo de sanção prejudica imensamente os negócios do país e joga uma repercussão negativa sobre um país que tenta se manter a parte de vários imbróglios políticos da região. A chegada de uma estrela internacional ajuda até nessas relações internacionais, já que essas figuras são utilizadas pra fazer propaganda dos seus patrocinadores e dos donos das equipes.

O investimento no futebol no entanto não é exclusividade dos catares. Clubes da Inglaterra, que competem na principal liga de futebol do mundo, tem donos desde magnatas russos até bilionários americanos. Mais recentemente o futebol italiano foi inundado pelo dinheiro francês que comprou os dois maiores clubes de Milão. Esses gastos bilionários inflacionaram o futebol e fazem gerar muitas dúvidas sobre o real interesse desses investidores no futebol, pois os gastos são sempre maiores que as receitas e as cifras são sempre muito nebulosas. Num mundo onde a paixão fala tão alto a lavagem de dinheiro se torna algo fácil.

A FIFA e a UEFA com o Fair Play financeiro tentam evitar vendas absurdas como a do Neymar, entretanto os mecanismos de desviar essa renda por diversos caminhos faz com que possa se fazer uma transação desse tamanho sem nenhum prejuízo pro clube.

Mesmo com todo esse dinheiro jorrando do país árabe a quantia possivelmente paga por Neymar ao Barcelona é absurda. Vivemos uma crise humanitária onde os governos preferem deixar morrer milhares de refugiados do que receber essas pessoas com a justificativa de não ter como abrigar tantas pessoas, países onde a quantidade de desempregados toma rumos assustadores e empresas falindo aos montes. O mundo do futebol é um caso à parte do resto do planeta, mas cabe a pergunta se um jogador vale tudo isso.

A reflexão deve fazer as pessoas olharem a situação degradante que passa boa parte do futebol brasileiro, onde milhares de jovens abandonam as suas casas em busca de ser um novo Neymar, mas a maioria não consegue e volta pra dura realidade do povo brasileiro.

No Brasil que hoje conta com 14 milhões de desempregados a situação da grande maioria dos jogadores é difícil. Muitos desses jogadores estão em situação precária, jogam meio período e depois tem de arranjar alguma profissão precarizada pra se manter vivo o resto do ano.

Até onde vão chegar as cifras pagas no mundo do futebol?

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