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BRASIL

OPINIÃO | Sobre o ocorrido em São Januário no Clássico dos Milhões

O clube carioca já havia sido proibido, no início da semana, de mandar seus jogos no estádio São Januário, por conta da briga generalizada que aconteceu no clássico contra o Flamengo, no último final de semana. A confusão, que se estendeu para as imediações do estádio, deixou um torcedor cruzmaltino morto.

Por: Bruno Pinheiro Lima*, de Fortaleza, CE

vasco x flamengo2No último sábado (8), estive presente em São Januário, no Rio de Janeiro, para acompanhar o clássico Vasco x Flamengo. Como um apaixonado pelo futebol, toda vez que venho visitar os familiares a amigos no Rio de Janeiro, me programo para visitar o meu primeiro amor, o Vasco da Gama. E o que presenciei estava longe de ser uma visita amorosa. Não é de hoje que as arquibancadas de São Januário são hostis, não só para o time adversário, mas também para o seu próprio torcedor. Eurico Miranda transformou São Januário numa verdadeira ditadura. Não importa se você é idoso, mulher, ou criança. Um “FORA EURICO!” em alto e bom som pode te render no mínimo uma agressão física. A principal torcida organizada do clube é a sua força política nas arquibancadas, que com mão de ferro, impõe seus interesses particulares com apoio ao atual e eterno presidente do clube.

Me surpreendeu também o extremismo de muitos torcedores ali presentes, onde vestir uma camisa diferente da nossa nos torna inimigos. Isso mostra o quanto a nossa sociedade está doente. Na saída do estádio fiquei preso por mais de uma hora entre a cavalaria da PMRJ e bombas que eram arremessadas em nossa direção, sem se importar que existiam crianças e adolescentes em meio ao caos. A ação da polícia ao lado de fora do estádio foi descabida e desproporcional. A violência que tomou conta de São Januário e arredores mostra a face falida da segurança pública do Rio de Janeiro.

O Club de Regatas Vasco da Gama tem como seu maior feito não as conquistas dentro do gramado, que são muitas. Mas, a tradição histórica pelo seu ineditismo. De ter sido o primeiro clube do Rio de Janeiro a aceitar negros, operários e filhos de imigrantes no seu elenco num período em que o futebol era o esporte preferido da aristocracia carioca. De não ter se curvado para a burguesia e ficar de fora das principais competições justamente por não aceitar a exclusão de seus atletas do clube. Foi revolucionário quando em 1927, através de grande mobilização de sua torcida formada por base operária, arrecadou verba e ergueu, em São Cristóvão, o que se tornaria, até a construção do Maracanã, o maior estádio da América Latina.

Por nossa tradição histórica, o extremismo, a homofobia e a violência em geral não cabem dentro dos muros de São Januário. Precisamos resgatar nossa tradição. E ao estado do Rio de Janeiro foram anos e anos de exploração e desvios de verbas de governos e prefeituras, de Garotinho, Sérgio Cabral e Pezão, passando por Eduardo Paes e agora Marcelo Crivella.

O Rio de Janeiro precisa voltar a ser a cidade maravilhosa. E não somente um “maravilhoso cenário para uma cidade”, com um belo cartão postal, mas sem educação, saúde, lazer e segurança para seus moradores e visitantes.

Por isso, eu grito #FORAEURICO, #FORAPEZÃO e #FORATEMER!

Em tempo
Clube carioca está impedido de mandar seus jogos no estádio e próxima partida contra o Santos, no dia 16, no Estádio Nilton Santos, acontecerá com portões fechados ao público, segundo decisão da CBF.

*Bruno é Carioca, Vascaíno e ativista em Fortaleza
Graduado em Licenciatura Plena em Ciências Biológicas pelo Centro Universitário Augusto Motta (UNISUAM-RJ);
Cursando especialização em Planejamento e Gestão Ambiental pela Universidade Estadual do Ceará (UECE).

Fotos: Reprodução Lance

*O texto reflete a opinião do autor e, não necessariamente, a linha editorial do Esquerda Online.