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O mito do aumento do emprego pós-Reforma Trabalhista

21/02/2017- São Paulo- SP, Brasil- Empresa de tercerização de segurança e limpeza seleciona candidatos, causando grandes filas, no bairro de Campos Elíseos, no centro de São Paulo. Foto: Cesar Itiberê / Fotos Públicas

Por: Eric Gil*, da coluna de Economia do Esquerda Online
*do Instituto Brasileiro de Estudos Políticos e Sociais (IBEPS)

As reformas do governo Temer vieram cheias de mitos e promessas ilusórias. Assim foi a PEC do Teto de Gastos e a Reforma da Previdência. Sobre a primeira, diziam, à época, ser a única medida possível para não estourar o orçamento fiscal. Já sobre a segunda, o futurologismo furado ainda diz que se não reformar a Previdência hoje, daqui a alguns anos o governo não pagará mais a aposentadoria para ninguém.

Não é diferente no caso da Reforma Trabalhista, que deve ir ao plenário do Senado na próxima semana. Com uma taxa de desemprego de 13,3% para o trimestre de março a maio, publicado pelo IBGE, o argumento de que a Reforma Trabalhista trará mais emprego pode seduzir bastante um trabalhador que esteja desempregado, ou com membros de sua família nessa situação.

Este argumento foi primeiramente utilizado para justificar a aprovação relâmpago da liberalização total da terceirização, ocorrida em março deste ano. Um argumento minimamente inusitado para o caso da terceirização. Vejamos o porquê. Imaginemos uma situação concreta. Trabalhadores terceirizados têm uma carga horária de trabalho média três horas maior do que de um trabalhador contratado diretamente por uma empresa. E de quebra eles ainda recebem 25% a menos de salário.

Passando a ser possível terceirizar todos os setores de uma empresa, o empresário pensará que economizará no gasto com o empregado, logo o substituirá correndo, pois eles trabalham mais e ganham menos. Logo raciocinará: “Oba, se eles trabalham três horas a mais do que os anteriores, vou precisar de menos gente pra fazer o mesmo trabalho”. Bingo! A promessa de aumento de emprego se torna rapidamente numa realidade de aumento da taxa de desemprego, pois os patrões substituirão seus antigos empregados por menos trabalhadores para fazer a mesma quantidade de trabalho.

Como se não bastasse o argumento furado, a própria Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) fez uma pesquisa com empresários de São Paulo e chegou à conclusão que para 70% deles, a Reforma Trabalhista não é grande incentivo a contratação e investimentos. Ou seja, nem piorando a vida do trabalhador a taxa de desemprego vai cair.

Na verdade, o que define fundamentalmente o nível de emprego de uma economia não são as leis trabalhistas, e sim o nível de atividade econômica. É algo tão banal a ser percebido que poderíamos imaginar: como o argumento do governo faria sentido se tínhamos praticamente as mesmas leis trabalhistas há três anos, quando a taxa de desemprego era menor do que 5%?

Não nos enganemos, os únicos beneficiados por todas estas reformas é o empresariado, único setor que apoia as reformas. Não se engane, Temer, o trabalhador não é besta: segundo o Datafolha, 64% dos entrevistados acham que a Reforma Trabalhista privilegia mais os empresários do que os trabalhadores, e 63% acham o mesmo para a terceirização.

Foto: 21/02/2017- São Paulo- SP, Brasil- Fila reúne candidatos para vagas em empresa de segurança e limpeza, no bairro de Campos Elíseos, no centro velho da capital paulista.