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BRASIL

Prisões na cúpula dos transportes cariocas: o que falta para baixar o preço das passagens?

03/07/2017- Rio de Janeiro- RJ, Brasil- Em mais um desdobramento da Operação Lava Jato, a Polícia Federal cumpre oito mandados de prisão contra pessoas ligadas à cúpula do transporte rodoviário no Rio de Janeiro, na operação batizada de Ponto Final. Na foto o empresário Jacob Barata Filho, preso ontem(02) no Aeroporto Internacional Tom Jobim/Galeão, quando embarcava para Portugal Foto: Tânia Rêgo/EBC/FotosPúblicas

Por: Alexandre Vander Velden, do Rio de Janeiro, RJ

O ano de 2013 foi marcado por centenas de manifestações de rua pelo Brasil, que tiveram como estopim a luta contra o aumento das passagens do transporte. As ‘Jornadas de junho’ apontaram o sucateamento dos serviços públicos e o conchavo entre políticos e ‘máfias do transporte’ pelo país. Antes que as jornadas acabassem, o casamento de Beatriz Barata em Copacabana foi ocupado por manifestantes que distribuíam baratas de plásticos aos convidados, denunciando as planilhas de custos adulteradas que beneficiariam os empresários de ônibus no Rio de Janeiro. O avô de Beatriz, Jacob Barata, conhecido popularmente como o “Rei dos Ônibus”, seria o maior beneficiado nesse esquema.

Nesse domingo (2), a família Barata voltou a ser notícia nos jornais. Dessa vez, devido à prisão de Jacob Barata Junior, que tentava embarcar para Portugal apenas com passagens de ida.

Como desdobramento da Operação Lava Jato, outras figuras importantes ligadas ao setor de transportes foram detidas, com base na delação do ex-presidente do Tribunal de Contas do Estado, Jonas Lopes, e do doleiro Álvaro Nobis. Figuras como Rogério Onore, ex-presidente do Detro (departamento responsável por fiscalizar o transporte rodoviário), Lélis Teixeira, presidente da Fetranspor (Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado) e Marcelo Traça Gonçalvez, presidente do SETERJ (Sindicato das Empresas de Transportes Rodoviários do Estado do Rio de Janeiro).

As delações parecem tardiamente corroborar o que a população há tempos já sabia: as altas passagens e a precaridade do transporte público no Rio de Janeiro é resultado de um amplo esquema de corrupção que envolve tanto os empresários do transporte, como diversos políticos e os órgãos de fiscalização.

As investigações apontam que as empresas de ônibus pagavam propina para agentes públicos em troca do reajuste das tarifas e da manutenção de contratos superfaturados. As empresas teriam distribuído cerca de R$ 500 milhões de propina entre 2010 e 2016, sendo quase metade desse valor para autoridades que ainda não tiveram seus nomes revelados, pois possuem foro privilegiado. O peemedebista e ex-governador Sérgio Cabral, que atualmente cumpre pena de 14 anos por lavagem de dinheiro e corrupção, teria recebido e distribuído cerca de R$ 120 milhões de “bonificações” da Fetransport por aumentos de passagens. Vale lembrar que as empresas recebem subsídios do governo, computados em cerca de R$ 28 milhões mensais nesse ano de 2017.

A troca de favores e as propinas envolvendo os empresários, políticos e agente públicos desmascara o discurso que tenta convencer que a privatização e a maior autonomia da iniciativa privada significa melhores serviços e tarifas à população. Os trabalhadores que gastam muito dinheiro e excessivas horas todos os dias para chegarem a seus trabalhos veem, ano após ano, prefeitos e governadores do Rio de Janeiro elegerem-se alegando que revisarão os contratos da máfia do transporte. Nas eleições municipais de 2016, Marcelo Crivella (PRB) se comprometeu a diminuir o preço das passagens e repreender as empresas que não concluíssem a troca dos ônibus refrigerados. Após eleito, nada fez sobre o assunto.

É preciso diminuir o preço das passagens e acabar com a máfia dos transportes
Para acabar com a farra da máfia dos transportes, que é sinônimo de precaridade e altas tarifas, é preciso que os trabalhadores, ativistas, movimentos sociais e os partidos da esquerda se mobilizem. É preciso denunciar o preço abusivo e artificial da passagem e propor soluções imediatas.

Se o valor das passagens ia para o bolso de políticos e corruptos na forma de propina, que esses valores sejam revistos imediatamente e seu custo seja reduzido
Não há justificativas para as empresas cobrarem valores tão altos e isso sempre esteve claro para a população. Após a prisão de Barata Junior e de seus comparsas, não há como negar o que todos já sabiam. No entanto, a diminuição do preço das passagens é apenas nossa tarefa imediata, pois o transporte público tem que sair das mãos do nefasto conchavo entre o poder público e as empresas. É preciso arrancar o controle do sistema de transportes desses empresários, assim como acabar com o poder das federações patronais.

É preciso que o transporte público seja estatizado, voltando para as mãos da prefeitura, e que seu controle seja feito pelos trabalhadores e suas entidades, pois são os únicos capazes de definir as reais necessidades da população do Rio de Janeiro
Apenas, assim, podemos avançar na luta pela reivindicação histórica do passe livre para toda a população. Pela imediata redução das passagens de ônibus. Estatização do transporte público. Transporte é direito e não mercadoria.

Foto: Tânia Rêgo/EBC/FotosPúblicas