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EDITORIAL

O dia depois de amanhã

Foto: Carol Burgos | Esquerda Online

Editorial 29 de junho

Ontem, dia 28 de junho, dois meses após a maior greve geral da história recente do Brasil, a Reforma Trabalhista deu o passo derradeiro em direção à sua aprovação. Depois de 14 horas de sessão, a proposta de reforma foi aprovada na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e agora pode ir para o no plenário do Senado a qualquer momento. Assim como a Reforma da Previdência, a Trabalhista é expressão de um passo a mais, talvez definitivo, da burguesia, sobre as vitórias históricas da classe trabalhadora brasileira.

O Brasil tem aguda e acima da média desigualdade social. As grandes riquezas produzidas pelo trabalho são apropriadas por um grupo enormemente reduzido e geridas diretamente pelo capital internacional. Já a pobreza, é a marca na maior parcela do povo.

O golpe civil, empresarial e militar de 1964 aprofundou o caráter subalterno do Brasil, agora diante dos EUA. O preço dessa integração foi o fim das frágeis possibilidades de um novo marco civilizatório capaz de combater a profunda desigualdade social e a superexploração. Possibilidades desenvolvidas pelo fortalecimento do peso político da classe trabalhadora urbana. Como uma das consequências disso, foi realizado o primeiro grande ataque à CLT ainda em 64, o fim da estabilidade no emprego e a criação do FGTS. Mesmo sendo de grande impacto, esse foi um passo ainda tímido.

A década de 1980 foi marcada pela emergência em grandes lutas e greves do gigante movimento sindical e dos movimentos populares. Isso precipitou o fim da Ditadura Militar e propiciou as conquistas democráticas. Porém, com a derrota da original Frente Brasil Popular encabeçada por Lula, em 1989, e em consenso com a tendência internacional de reação burguesa marcada pela reestruturação do capitalismo nos ex-estados operários, a grande conquista, ainda parcial, com a redemocratização e no contexto da Constituição de 1988, foi interrompida. Na década de 1990 foi desenvolvido um novo processo de integração do Brasil à nova Ordem Mundial globalizada. E, desde então, vimos um processo de reforma trabalhista permanente, especialmente sob o governo FHC.

Mais à frente, os governos do PT se mostraram uma grande frustração. Especialmente pela conciliação e grandes acordos com a burguesia brasileira, incapaz de encabeçar um projeto de desenvolvimento nacional com concessões de direitos e diminuição das desigualdades. Ao mesmo tempo, pela timidez na aplicação de quase inexistentes reformas. Diante disso, os setores da direita tradicional e a “promissora” nova direita aproveitaram para dar um novo golpe para aplicar com as suas próprias mãos o pacto histórico do Brasil com o imperialismo. Sob o contexto da nova grande crise econômica mundial em curso, põem em prática um audacioso projeto de “modernização” do Brasil, inclusive na sua esfera política, auxiliada em grande medida pela Operação Lava Jato. Por que estamos relembrando tudo isso?

O dia de amanhã com a Greve Geral
Amanhã, ocorrerá, em todo o Brasil, uma nova greve geral. A sua qualidade será decisiva para o futuro imediato do país. Depois do dia 28 de abril, esse é o capítulo mais aguardado pela história. Da sua vitória, ou derrota, dependem o prosseguimento das reformas e as condições para o equilíbrio de Temer no Planalto, mesmo que só até a aplicação daquelas.

É mais que necessário que a classe trabalhadora em suas distintas categorias e características, do campo ou da cidade, os movimentos sociais e populares de diferentes pautas, enfim, todo o povo se una em um grande dia de paralisações combinadas. Contudo, sabemos que a vitória dessa data está questionada. Como será o dia depois de amanhã?

A maioria das centrais sindicais, apesar da vitória do dia 28 de abril, vacilou em aproveitar para intensificar a resistência. Pelo contrário, é notório que UGT e Força Sindical botaram o pé no freio. Por outro lado, a CUT passou insegurança e, por motivos ainda a serem vistos pelos próximos passos, não foi com tudo para a construção da greve geral, fortalecendo o processo aberto na luta das mulheres no 8 de Março e o dia de lutas em 15 do mesmo mês.

Olhando para trás, apesar da heroica resistência, em particular da CSP-CONLUTAS, no dia 24 de julho, em Brasília, o melhor seria ter ocorrido uma nova greve geral no embalo positivo da anterior. Essa vacilação custou a manutenção de Temer até hoje e, mesmo sobre uma “carreta sem rodas”, chegou a colocar a Reforma Trabalhista em vias de ir para o Plenário do Senado.

Ao mesmo tempo, na base das categorias o clima espontâneo também se mostrou aquém do esperado, não sendo capaz de pressionar suas direções, muito menos de superá-las.

O dia depois de amanhã com Temer e as reformas
Caso a greve geral de amanhã for de menor adesão que a anterior, o povo trabalhador brasileiro e suas organizações em movimentos sociais, sindicais, populares e partidos políticos de esquerda devem se preparar.

Sem perder de vista a necessidade e esperança na resistência, os passos em falso deverão ser utilizados para corrigir o curso e radicalizar as lutas. Caso as centrais sindicais dirigidas por burocracias de direita, como a CGT e Força Sindical, decidam por abandonar a resistência em troca de benesses com o Estado, a CUT e a CTB devem sacudir a poeira e ir com tudo para as bases, inclusive das demais centrais, para retomar o embalo das lutas progressistas. A CSP-CONLUTAS deverá colocar suas forças, mesmo que minoritárias, totalmente nessa disputa. Mais que possível, é necessário resistir.

Contudo, o cenário pode ser um pouco pior que o de hoje. Com uma derrota, ou demonstração de fragilidade da classe na greve geral de amanhã, é possível um fortalecimento da burguesia, em primeiro lugar, para aprovar a Reforma Trabalhista. Em segundo lugar, apesar de com muita dificuldade, isso confere mais ar ao ambiente do Palácio do Jaburu. Apesar de sob forte pressão e em grande desequilíbrio, não podemos esquecer que Temer não caiu e isso tem motivos. Um cenário de arrefecimento da resistência em ação direta pode significar maior espaço para uma tentativa de reacomodação de Temer na Presidência, o que fortalece um futuro de retomada do plano inicial da aprovação da Reforma da Previdência o quanto antes.

É necessária uma nova unidade da esquerda radical para o dia nascer feliz
Portanto, é nas lutas e paralisações de amanhã e nas futuras que residem o futuro do Brasil. Mas além disso, o resgate histórico e as opiniões sobre os fatos lembrados que foram feitos no início do texto servem para elucidar a importância histórica, social e política dos momentos que estamos vivendo.

Tal qual o fatos anteriores, não bastam os acontecimentos da luta direta do povo trabalhador, é necessária a luta política. Diferente dessa política mesquinha protagonizada pelo Congresso Nacional de corruptos e conservadores, a política conduzida pela luta honesta dos trabalhadores é a única capaz de impedir o avanço dos planos da burguesia e dar um novo curso para o desenvolvimento do Brasil.

Apesar de parecer o único caminho possível, por já ter sido trilhado anteriormente, repetir as fórmulas usadas pela esquerda no passado não nos levará muito longe. A Frente Brasil Popular, se eleita em 1989, poderia ter representado uma história diferente, talvez não inversamente oposta, mas diferente da que tivemos.

Entretanto, mesmo sob novos acordos e estratégias, a cabeça desse projeto já governou o Brasil recentemente e por mais de 13 anos. Os dias em que estamos vivendo comprovam aos que hoje se embalam por ideias de esquerda, que o caminho mais curto, por mais longo e penoso que seja, nem sempre é o melhor. Hoje, a Frente Brasil Popular não é capaz de interromper o ciclo danoso de ataques aos trabalhadores. Para fazer surgir um país capaz de combater as desigualdades sociais, a pobreza generalizada, a ditadura contra jovens e negros da periferia, a superexploração e as opressões tão arraigadas é preciso um novo ciclo da esquerda radical.

O primeiro passo é unificar a esquerda que defenda uma saída profunda e estrutural para o país. Para isso, é preciso a conformação de um Frente de Esquerda para as próximas eleições, com PSOL, PCB, PSTU, MTST e demais organizações de esquerda que tenham acordo programático e com o projeto.

Desde já, essa deve se constituir nas lutas de resistência, nas lutas pelo fim do governo Temer e na defesa de uma saída democrática, que para nós parece ser melhor garantida por eleições diretas para presidente e Congresso Nacional. Mas, que não deve se prender às lutas imediatas, mas se lançar à constituição de um novo programa e de ganhar cada vez mais corações e mentes para esses. Enfim, recomeçar e reencantar.

Foto: Carol Burgos | Esquerda Online