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EDITORIAL

O que esperar dos estudantes e do 55º Congresso da UNE?

Editorial 15 de junho

Entre hoje (15) e domingo, a cidade de Belo Horizonte se tornou a capital do Movimento Estudantil brasileiro. Ocorre desde ontem (14), o 55º Congresso Nacional da União Nacional dos Estudantes – UNE. A expectativa é de que esse Congresso reúna mais de dez mil estudantes de todos os estados do Brasil.

A efervescência política e os efeitos da crise econômica rodeiam a conjuntura em torno a esse Congresso. O 55º CONUNE ocorrerá em um momento especial para a história do Brasil. Isso aumenta e muito a responsabilidade dos milhares de jovens que participam desse.

O Movimento Estudantil é um dos movimentos sociais mais importantes do país. Em momentos decisivos, os estudantes deram importantes contribuições para as conquistas de direitos sociais e políticos. Destacadamente, ainda durante a Ditadura Militar, a luta estudantil contra a repressão e em defesa da liberdade para operários feitos presos políticos pelo regime em 1977 serviu como uma faísca para detonar o ânimo da classe trabalhadora e essa insurgir em grandes greves e ocupações de fábricas. Anos mais tarde, a ditadura foi derrotada.

Já são mais de um ano em que somos governados por um presidente ilegítimo, que alcançou esse posto por meio de um golpe parlamentar. Sua tarefa? Aprovar uma série de medidas para destruir direitos sociais historicamente conquistados com muita luta, dentre elas as reformas da Previdência e Trabalhista.

A greve geral realizada no dia 28 de abril mostrou o potencial de luta da classe trabalhadora e, assim, conseguiu atrasar a aprovação da Reforma da Previdência. Isso, somado aos recentes escândalos envolvendo Temer e a JBS em esquemas de corrupção, colocou a possibilidade histórica de derrubarmos Temer e impedirmos a aprovação das reformas. Contudo, para isso será necessária muita luta, a começar pela nova greve geral convocada pelas centrais sindicais para o próximo dia 30.

Construir a greve geral
Após a grande ocupação de Brasília no último dia 24 de maio, as centrais sindicais convocaram para o dia 30 de junho, a data da nova greve geral, dois meses depois da realização da primeira dos nossos tempos. Apesar de convocada, essa não está garantida. É preciso construí-la pela base.

A primeira obrigação do CONUNE é de fortalecer o chamado à greve geral e aprovar um calendário e iniciativas de organização dessa na base, como comitês pela greve geral nos locais de estudo e bairros.

Fora Temer! Não às reformas da Previdência e Trabalhista. Diretas, já! Queremos votar para presidente e um novo Congresso Nacional
Além de não ter sido eleito, Temer tem o apoio de apenas 4% da população. Mesmo sendo odiado pelo povo, envolvido diretamente em esquemas de corrupção, esse governo insiste em continuar à frente do país, conduzindo a venda das nossas riquezas e a destruição dos nossos direitos. O governo tenta ganhar tempo. Apesar de estar por um fio, sabemos que sem luta ele não cai.

Portanto, os estudantes que foram os primeiros a travar lutas contra o governo ilegítimo e suas medidas nas mais de mil ocupações de escolas e universidades contra a PEC do Fim do Mundo agora têm o dever de dar um passo à frente nas mobilizações para derrubar Temer e suas reformas.

Mas, sabemos que enquanto o governo tenha ganhar tempo. A burguesia já se unificou e prepara uma saída controlada para quando Temer sair da Presidência, as eleições indiretas. Esse que seria o “golpe dentro do golpe” e deve ser combatido desde já, pois seria uma tentativa de piorar ainda mais as coisas para o nosso lado.

Infelizmente, há aqueles que não aprendem com os erros do passado. É sabido que figuras do PT, como o próprio Lula, têm participado de reuniões de negociação para as eleições indiretas. Ao invés de se prestar a esse serviço, Lula deveria estar colocando todo o seu prestígio junto à classe trabalhadora para construir a greve geral.

O CONUNE e os estudantes brasileiros devem repudiar qualquer tentativa de negociação de eleições indiretas, venham de onde vierem. Além disso, na esquerda ocorre um grande debate sobre qual seria a melhor saída. A luta pelas eleições diretas não só para presidente, mas também para esse Congresso Nacional de corruptos e reacionários parece ser a ideal para fazer justiça aos direitos democráticos do povo trabalhador do nosso país.

Unificar a esquerda socialista em um novo projeto político para o Brasil
A UNE, sob a direção da UJS e seus aliados, foi, durante os governos do PT, um dos principais “braços” do governo e de seu projeto de conciliação de classes. Essa direção trocou as ruas pelos gabinetes e impôs uma paralisia política à entidade.

Passados mais de uma década, um ano após o fim do governo do PT, é preciso fazer um balanço para traçar os planos políticos para o futuro. As pequenas concessões estão em risco. Não tiveram os 10% do PIB e a expansão sem qualidade cobra seu preço. Os Hospitais Universitários foram privatizados. Nas universidades privadas, o clima é de insegurança. Isso tudo mostra as fragilidades do projeto político de fortalecimento dos empresários do mercado educacional, ao invés de investir com qualidade na educação pública.

Para satisfazer as necessidades da juventude, não só o direito à educação, mas ao trabalho com qualidade; segurança; cultura e lazer; liberdades políticas e democráticas, entre outras, é necessário um novo projeto político para o Brasil. Livre de acordos com os setores conservadores dos ricos e poderosos, deve depositar suas forças nas ruas, nas praças, no povo. Só assim poderemos construir um governo que ataque a desigualdade social brutal e as justificativas racistas para impor regimes de superexploração, controle e extermínio do povo negro, em especial a juventude das periferias.

A juventude em todo o mundo vem sendo a maior entusiasta dos novos projetos políticos da esquerda radical. Aqui no Brasil, não é diferente. Sendo assim, nesse CONUNE, é dever dos estudantes retirar do passado recente as lições necessárias para o futuro. E, especialmente, depositarmos nossas esperanças no bloco político da Oposição de Esquerda da UNE, para animar a construção desse novo projeto por uma saída radical para o Brasil.

Foto: Thiago Mahrenholz | Esquerda Online