Opinião: Lula e a Greve Geral

Por: Lucas Fogaça, de Porto Alegre, RS

OPINIÃO* | Lula é um dos nomes mais influentes nas fábricas e na classe trabalhadora brasileira. Milhões de trabalhadores que foram beneficiados por alguns programas sociais olham o governo Temer e comparam com os do PT, em especial os de Lula, e desejam a volta do PT ao governo. Lula se posiciona claramente contra as reformas trabalhista e previdenciária do governo Temer. Mas até agora não ajuda a construir as mobilizações que podem derrubar essas reformas e o próprio governo.

As mobilizações das mulheres no 8 de março, o dia nacional de protestos e paralisações de 15 e 31 de março, a Greve Geral de 28 de Abril e o #OcupaBrasília do dia 24 de maio foram as principais ações dessa jornada de lutas contra os ataques de Temer e dos capitalistas. Realizamos uma pesquisa na página de Lula, no site do instituto Lula e do PT, da CUT e de outros veículos integralmente comprometidos com o ex-presidente para verificar como foi a posição de Lula perante essas mobilizações. Há uma série de outras notícias de outros veículos de comunicação, mas sabemos que a grande imprensa mente descaradamente e para não cair no que a Globo, a Folha de São Paulo e outros disseram de verdadeiro ou não, levaremos em consideração apenas o que disse os próprios veículos petistas.

Lula diante das mobilizações do dia 8, 15 e 31 de março

No dia 8 de março, dia internacional de luta das mulheres, a página e o site de Lula, o site da CUT e do PT mesmo que divulgassem matérias falando da luta das mulheres, não noticiaram nenhum chamado de Lula à participação dos protestos. No dia 15 de março, dia nacional de protestos e paralisações, Lula participou e discursou na Avenida Paulista em São Paulo. Mas não participou de nenhuma atividade para preparar o 15 de março. Não gravou vídeos, não participou de assembleias ou sequer fez postagens nas redes sociais convocando este dia. No dia 31 de março, Lula manteve a mesma postura dos dias 8 e 15. E dessa vez sequer foi às ruas.

Lula diante da greve geral de 28 de abril

No dia 27 de março, as centrais sindicais decidiram pela greve geral do 28 de abril. De 27 de março à 28 de abril, Lula fez 134 publicações em sua página. Nenhuma sobre a greve geral. Lula tampouco participou de qualquer atividade preparatória deste dia. Isto é, diferente dos milhares de militantes petistas que estiveram distribuindo panfletos, organizando assembleias, espalhando ideias nas redes sociais, convencendo, enfim, a população a aderir a greve geral, Lula ficou calado. Não se manifestou e também não foi para a rua no dia.

Dia 11 de abril, o programa do PT na TV, e não Lula, chamou ao final de forma tímida (11s em um programa de 10min) a construção da greve geral. Mesmo assim, só com material visual: é um letreiro com imagens de protesto. Das figuras públicas do PT que aparecem no vídeo nenhuma delas falou da greve geral.

No dia 28 de abril pela manhã, Lula concedeu uma entrevista à Rede Brasil Atual, replicada pela CUT, comemorando o sucesso da Greve Geral. O site da CUT, porém, não fala de nenhuma atividade em que Lula teria participado para ajudar a construir este dia. Logo à tarde, Lula concedeu entrevista ao jornalista Juremir Machado da Rádio Guaíba e fez uma transmissão ao vivo em sua página. Durante os mais de 30 minutos da entrevista, Lula disse que a Greve Geral foi um sucesso, mas não apontou quais eram os próximos passos da luta contra as reformas e o governo Temer.

Lula diante do #OcupaBrasília em maio

O site do Partido dos Trabalhadores publica várias matérias sobre a Marcha Nacional à Brasília, também chamado de #OcupaBrasília, que reuniu mais de 150 mil pessoas e sofreu brutal repressão policial. Nenhuma delas relaciona Lula à construção deste importante dia de luta. Nas redes sociais ou no seu site, Lula também não se manifestou. Lula tampouco foi à Brasília.

No dia 17 de maio, veio à público os áudios de JBS, Temer e Aécio. No dia 18, irromperam manifestações em várias cidades Brasil afora. A Bovespa caiu quase 9% e foi suspensa pela primeira vez desde 2008, quando estourou a crise no sistema financeiro norte americano. Lula não se manifestou sobre o assunto. No dia 20 de maio, o PT fez um programa  em rede nacional criticando Temer e pedindo sua saída. O protagonista do vídeo é Lula, mas é Rui Falcão, presidente do PT, quem chama no final do vídeo o povo às ruas por diretas já.

Como será Lula em junho?

De março pra cá, a classe trabalhadora entrou em cena, se levantou contra Temer e as reformas e mudou a conjuntura, talvez impactando na própria situação política. Nós vimos que em março, abril e maio, Lula deu entrevistas, gravou vídeos, realizou comícios e fez postagens nas redes sociais contra as reformas, mas não se conectou às ações contra elas. Não participou das assembleias, não esteve na porta de fábrica, não gravou vídeos nem deu entrevistas construindo as greves e protestos. Isto é, não participou das atividades preparatórias das ações. E pouco participou das ações em si. Ao que conseguimos registrar, apenas foi às ruas no dia 15 de março. Alguns poderiam alegar que Lula não se manifestou nas redes sociais, mas participou da luta “direta”. Julgamos que Lula é suficientemente conhecido para não ser reconhecido em assembleias e atividades de rua que certamente teriam repercussão nas redes sociais.

E por que nesses últimos três meses Lula foi contra as reformas mas não se dedicou ou sequer participou das ações necessárias para derrubá-las? E por que esse nosso interesse todo em Lula? Lula é seguido por milhões de brasileiros. É o líder mais influente dos movimentos sociais no Brasil. Nos anos 80 era um grande líder das greves do ABC e das paralisações nacionais. E o que ele diz e faz, e o que não diz e não faz, importa muito. Se nos dias 8, 15 e 31 de março, 28 de abril e 24 de maio já foram dias fortes de mobilização da classe trabalhadora, como não teriam sido se Lula tivesse jogado todas as suas forças, energia e influência para que fossem dias ainda maiores? O que aconteceria nas fábricas do ABC se Lula fosse nas assembleias convocar os operários? A quantas milhões de pessoas chegariam as ideias da greve geral se Lula se engajasse nessa luta?

Marcar um novo dia de greve geral pra logo é urgente. É questão de vida ou morte do governo Temer e também das reformas. Lula deveria se dedicar de corpo e alma a construir essa greve geral. Se fizermos uma nova greve geral ainda maior e mais forte podemos virar o jogo! A militância de base petista está engajada em derrubar Temer e as reformas. O líder petista deve estar também! Há milhões de trabalhadores que ainda confiam e nutrem expectativas em Lula. Se Lula se colocar na construção dessa nova greve geral ela poderá ser muito mais forte.

Foto: Instituto Lula

*O texto reflete a opinião do autor e, não necessariamente, do portal Esquerda Online