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BRASIL

O dia em que Curitiba parou

Protesto neste 10 de maio em Curitiba

Por: Marcello Locatelli, de Curitiba, PR

Neste momento, Curitiba está polarizada devido ao depoimento do ex-presidente Lula ao juiz federal Sérgio Moro. Em todo lugar, o assunto foi um só neste dia. Opiniões se dividem nas conversas e comentários. A cidade está tomada por um clima de tensão que mudou a rotina de boa parte dos curitibanos.

Enquanto Lula realizava seu depoimento com Sérgio Moro, manifestantes da Frente Brasil Popular, petistas e apoiadores do PT faziam um ato nas ruas da capital paranaense. Militantes de diversas partes do país começaram a chegar desde ontem (09) e continuam chegando para participar do que a Frente Brasil Popular está chamando de ‘Jornada da Democracia e em defesa de Lula’. Enquanto Lula presta depoimento, ocorre um ato político na Praça Santo Andrade e o acesso às medições da Justiça Federal está proibido.

A postura da Justiça, do Governo do Estado e da Prefeitura foi absurda. Instalaram um verdadeiro estado policial nas ruas. O abuso de poder das autoridades é mais do que evidente e preocupa as medidas que foram adotadas. Manifestantes revistados, ônibus revirados, acampamentos nas praças e barracas de agitação política foram proibidos, diversos bairros foram cercados pelas tropas de segurança, quatro helicópteros sobrevoam a cidade e o aparato policial nas ruas é gigantesco.

O dia de hoje terá desdobramentos importantes. Está nítido que as classes médias que foram às ruas de verde amarelo já não têm aquele mesmo ímpeto. Alguns de seus líderes golpistas, como Aécio, Cunha, José Serra e até Michel Temer, que as convocaram contra a corrupção nos governos petistas, agora são investigados na Lava Jato. Além disso, a Reforma da Previdência também é impopular nas classes médias. Até o jornal O GLOBO noticiou o fracasso da manifestação convocada pela direita no dia de hoje.

A natureza reacionária da Lava Jato
Está evidente aos olhos e ouvidos de todos o quanto a corrupção está enraizada nas instituições democráticas brasileiras. Seguramente, a corrupção é muito maior do que estamos vendo através da grande mídia, que, aliás, faz o que quer das informações e as utilizam de maneira claramente seletiva e direcionada, com o intuito de atacar alvos políticos convenientemente escolhidos.

A burguesia sempre se utilizou da corrupção para comprar governantes e parlamentares. Ela começa no financiamento das campanhas milionárias, que acabam desembocando em propinas e trocas de favores quando os seus financiados chegam ao poder.

O principal objetivo da Lava Jato não é e nunca foi o de colocar fim à corrupção. O Ministério Público Federal e a força tarefa liderada por Sérgio Moro são peças fundamentais de um projeto burguês reacionário, que pretendem limpar a política brasileira através de uma reforma conservadora e restritiva de liberdades.

Temer está aplicando um projeto de ataque aos direitos dos trabalhadores, que por hora se materializa na PEC 55, Reforma do Ensino Médio, Lei da Terceirização sem limites, Reforma Trabalhista e Reforma da Previdência. Tudo a serviço de beneficiar o grande capital. A experiência pós impeachment não deixa dúvidas, a Lava Jato foi quem abriu caminho para o governo golpista de Michel Temer.

Não defendemos o projeto político do PT e de Lula, não concordamos com a política de conciliação de classes aplicadas nos governos petistas e não apoiamos uma nova reedição deste tipo de governo para 2018. No entanto, não podemos fechar os olhos para fatos arbitrários que abrem caminho para a criminalização da esquerda como um todo.

Chama a atenção o fato de Sérgio Moro e da força tarefa da Lava Jato atuarem com dois pesos e duas medidas. Lembramos que Moro divulgou para a imprensa as gravações de telefonemas entre Lula e Dilma e este episódio foi decisivo para agravar a crise política que conduziu ao golpe parlamentar que derrubou Dilma no ano passado. A grande imprensa foi peça fundamental no ‘espetáculo’. O Juiz não teve esta mesma postura de exposição para todos os políticos envolvidos nas investigações da Lava Jato e, recentemente, proibiu a filmagem do depoimento de Lula, uma arbitrariedade sem tamanho.

A Lava Jato comprometeu muitos políticos, partidos e empresários na corrupção. O PT foi mais um neste jogo sujo de cartas marcadas. Mas sabemos que muitos parlamentares e ministros que hoje estão em Brasília, legislando e governando contra os interesses do povo, estão envolvidos até a medula com a corrupção sistêmica que está impregnada nas instituições da democracia brasileira. Até Michel Temer foi citado em delações da Odebrecht, e não por reforma de apartamento Triplex, mas sim por receber R$ 40 milhões em caixa dois.

Isto sem contar os diversos precedentes perigosos que estão surgindo com esta operação, tais como a limitação do direito ao contraditório, da ampla defesa e da presunção a inocência. As prisões preventivas e as delações premiadas estão sendo usadas ao bel prazer dos líderes da Lava Jato, abrindo precedentes perigosos. A tal ponto que já não se pode mais confiar nas delações, porque sem apresentar provas os empreiteiros dizem o que a força tarefa quer ouvir para conseguir a redução das suas penas.

Em defesa das liberdades democráticas
Somos contrários ao projeto político de alianças com a burguesia, que orienta a estratégia do PT. Não defendemos a reedição deste projeto para as eleições de 2018, por isso não compomos as manifestações que hoje ocorrem em Curitiba. No entanto, nos colocamos contra a prisão de Lula e contra as arbitrariedades da Lava Jato.

Caso o juiz Sérgio Moro tenha êxito em prender Lula nas próximas semanas, poderá se fortalecer a ofensiva reacionária sobre as liberdades democráticas que os partidos políticos de esquerda e os movimentos sociais conquistaram através da luta.

Quem tem legitimidade política e moral para julgar os erros e traições de Lula e da direção do PT é a classe trabalhadora. Somente os movimentos sociais e as organizações políticas que defendem os interesses dos trabalhadores e constroem a luta todos os dias têm o direito de dar o veredito sobre as relações promíscuas entre os líderes deste partido e os grandes empresários.