Pular para o conteúdo
MOVIMENTO

A vida dos nossos colegas importam

63c72b3f-b03b-4b8c-b858-735b9ab2a91d

Por Fernando da Silva, Metalúrgico Contagem, MG

Fiquei desempregado por mais de um ano. Esse mês enfim consegui um emprego, abaixo da minha formação, um salário baixo e com poucos benefícios. Mas, na atual situação tive que aceitar.

Tenho sido acolhido muito bem pelos meus colegas de trabalho. Tod@s tem me ajudado em cada coisinha a aprender e a me adaptar ao novo trabalho.

A fábrica é composta majoritariamente por mulheres, e é com duas mulheres que tenho aprendido o meu trabalho. Mulheres muito capazes e hábeis em tudo que fazem.

Todo início de trabalho nos sentimos como uma criança perdida tentando aprender uma enormidade de coisas, por mais simples que sejam. Estava tudo indo bem, na medida do possível, até que um dia desses pela manhã, pouco tempo depois de começarmos o trabalho, fomos chamados para uma reunião com o responsável da segurança do trabalho.

Não era uma simples reunião orientativa, era o comunicado de que um colega que trabalhava no terceiro turno havia se acidentado. Ele vinha fazendo horas extras extensivas e às vezes trabalhava até quatro horas a mais da jornada de trabalho, sendo que de acordo com a CLT as horas extras diárias não devem ultrapassar a duas horas.

Como de costume, na apresentação do responsável pela segurança do trabalho, o acidente aconteceu porque o nosso colega se descuidou, ou seja, ele foi o culpado pelo próprio acidente.

O próprio representante da empresa disse que sabe que existem cobranças, que temos que trabalhar muito para bater as metas e cumprir os prazos e mesmo assim culpou o nosso colega pelo acidente.

As empresas nos dizem para termos cuidados, cumprir as orientações, mas nos impõem pressões e metas que trabalhando de forma correta se torna impossível atingir os resultados. E no final dizem que nós somos culpados pelos acidentes conosco.

Não, a culpa pelos acidentes de trabalho é das empresas e do capitalismo na busca frenética pelo lucro. Esses são os verdadeiros responsáveis por meu colega ter quebrado vários dedos e arrancado o pedaço de um. Como não temos plano de saúde, a empresa não deu nenhuma assistência, ele teve que ser atendido pelo SUS e só conseguiu fazer a cirurgia depois de três dias esperando em uma maca de hospital.

Nós trabalhadores dependemos do trabalho para sobreviver e sustentar nossas famílias e por isso nos submetemos a certas situações riscos para não perdermos os nossos empregos, ainda mais numa situação onde o desemprego só aumenta e no Brasil já passam de treze milhões de desempregados.

Nos últimos dez dias foram dois acidentes. Essa é uma realidade comum dos operários no Brasil e no mundo, uma triste realidade que precisa ser mudada. No dia 28 de abril é o Dia Mundial em Memória às Vítimas de Acidente de Trabalho, iremos fazer a Greve Geral e nos lembrar de todos os colegas de trabalho que sofreram acidentes, só com a luta poderemos impedir que novos acidentes aconteçam, pois o próximo acidentado pode ser um de nós.

É preciso mudar a lógica capitalista do lucro. É preciso construir uma sociedade onde as empresas sejam estatais e sua produção esteja voltada para o bem-estar da população e não para o lucro dos patrões. As vidas dos nossos colegas importam! Por isso lutamos por uma sociedade socialista!