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OPRESSÕES

Violência à mulher não é entretenimento: relação abusiva a gente vê por aqui (plim plim)

Por: Gizelle Freitas, de Belém, PA

Nas últimas semanas, um dos assuntos mais falados nas redes sociais é a relação abusiva que Marcos mantem com Emily, no BBB17. Não adianta a emissora tentar suavizar, o nome disso é violência machista. Também é comum ver em alguns comentários a culpabilização dela, no sentido de que aceita, que gosta, que ela não foi ao programa para arrumar namorado, e por aí seguem as barbaridades. Obviamente, não entrarei nesse mérito, afinal não tenho acordo algum com essas opiniões, contudo refletem a sociedade machista em que vivemos, onde a culpada por tudo sempre é a mulher, se é agredida, se é estuprada, se é totalmente desrespeitada.

Há 17 anos, a Globo não é a única emissora a transmitir programas que disseminam mensagens machistas, racistas, lgbtfóbicas, mas centrarei a discussão sobre esta emissora, devido ao programa em particular. O BBB mostra a mais vil competição entre as mulheres, que objetifica o corpo delas, que fomenta a briga entre @s participantes, afinal é para isso que servem as “brincadeiras” de lavagem de roupa suja. Mas, especialmente nesta edição assistimos o cotidiano de uma relação abusiva, de muitas agressões, sejam elas psicológicas, emocionais, chegando ao ponto de serem físicas, uma vez que há a denúncia por parte da participante de que ele apertou seu braço, que até ficou roxo.

A questão é: esse programa reflete o que milhares de mulheres vivem todos os dias. Qual mulher nunca teve em sua vida “um Marcos”? Pode ser que alguém que esteja lendo esta matéria responda: eu, nunca! Que bom, então, mas a regra tem sido de violência e de muita opressão, em todas suas facetas os índices de violência à mulher, infelizmente, permitem que façamos essa análise.

Outra questão importante: essa mesma emissora, que recentemente afastou de alguns projetos futuros o ator José Mayer, após a denúncia de assédio sexual que se avolumou com a campanha “Mexeu com uma Mexeu com todas”, após suspender por um dia o apresentador do vídeo show Otaviano Costa por este ter sorrido e feito um comentário que estimulava mais brigas entre o casal, dizendo que o público gosta disso, é a mesma emissora que está mantendo um agressor de mulher, que inclusive já gritou com dedo na cara de Emily e de outras, que as ameaçou dentro da casa.

Não nos enganemos, a Rede Globo somente tomou aquelas atitudes em relação ao ator e ao apresentador devido à forte campanha da mulherada contra a violência machista. Foi uma vitória nossa, e derrota – parcial – da Globo, mas esta pressão precisa continuar.

Quem assistiu ao programa nesse domingo, dia 09, com certeza ficou com o coração apertado e muito indignado com as fortes cenas de agressão por parte do participante. Para quem já viveu uma relação semelhante, imaginou que aquela situação iria acabar com uma violenta agressão física, por exemplo, soco, tapa. Eu fiquei. Inevitavelmente, as lágrimas caíram, mas de profunda raiva por aquilo ser considerado um entretenimento.

A Lei Maria da Penha diz: Art.5° Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial: (Vide Lei complementar nº 150, de 2015)

I – no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas;

II – no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa;

III – em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, independentemente de coabitação.

Embasada nesta Lei, neste dia 10, a diretora da Divisão de Polícia de Atendimento à Mulher do RJ (DEAM) determinou a investigação, e o registro de ocorrência após ver uma das brigas entre o casal. Esperamos que as providências de fato sejam tomadas, que o cirurgião plástico responda judicialmente por essas agressões. Que a Rede Globo também seja responsabilizada por fomentar situações de agressão machista em seus programas e novelas, bem como quaisquer outras violências aos setores oprimidos.

Estamos vigilantes, e somos milhares nesse combate, não à toa fizemos greve internacional de mulheres contra o feminicídio, não à toa fizemos o maior 8 de março, dia internacional de luta da mulher, dos últimos anos. Violência contra a mulher não é entretenimento. Mexeu com uma Mexeu com todas. Nem uma a menos.

Foto: Reprodução TV Globo