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BRASIL

Novas caras, velhas ideias

O prefeito João Doria sancionou nesta segunda-feira (20) o Projeto de Lei 56/2005, aprovado pela Câmara Municipal de São Paulo, que institui punição administrativa a quem pichar imóveis públicos ou privados na cidade. Os vereadores aprovaram o texto em duas votações realizadas durante este mês, a última em 14 de fevereiro. Foto: Heloísa Ballarini / SECOM-PMSP

Por: Camila Lisboa, de São Paulo, SP

O prefeito de São Paulo João Dória, do PSDB, se consolida cada vez mais como o retrato de uma nova classe política, que enfatiza sua pouca relação histórica com a vida política brasileira. Essa identidade ganhou força e popularidade, a ponto não só de elegê-lo em primeiro turno para prefeitura da capital paulistana, como hoje, um setor de seu partido cogita lança-lo candidato a governador ou até mesmo presidente do Brasil.

É a primeira vez que Dória ocupa o posto de figura política central do PSDB e da vida política em geral. Mas é necessário dizer que sua relação com a política é antiga. João Dória foi presidente da estatal Embratur, nos anos 80, cargo definido por nomeação de políticos do poder tradicional.

Mas de qualquer forma, para a grande maioria da população, trata-se de um político novo, rico, bem sucedido e que, por isso, não precisaria se envolver em esquemas de corrupção, um dos motivos pelo qual a população se encontra em alta desconfiança com toda a classe política, independente do partido.

No entanto, a nova cara de Dória defende ideias velhas, antigas, que não têm capacidade de fazer uma sociedade funcionar com serviços públicos razoáveis e acessíveis, sem corrupção, e com segurança. Essas ideias são tão velhas e desconfiáveis que a proporção entre quem apoia Dória não é igual a quem apoia seus planos de privatização.

O DataFolha realizou duas pesquisas. Uma delas questiona a população de São Paulo sobre uma provável candidatura de João Dória para o Governo de São Paulo ou para o Palácio do Planalto. A outra pesquisa investigou a opinião da população sobre a concessão dos parques públicos da cidade para a iniciativa privada e também sobre o plano geral de privatizações do tucano.

Na primeira pesquisa, uma ampla maioria rechaçou a ideia do atual prefeito ser candidato a outros cargos. Este resultado combinado à elevada aprovação de sua gestão, nos permite concluir que a população paulistana quer que o prefeito resolva os problemas da cidade como prometeu resolver. Além disso, a utilização do cargo de prefeito como trampolim político não foi bem vista em outras ocasiões, como no caso de José Serra, que deixou o cargo de prefeito para ser candidato ao governo do estado.

Essa movimentação é muito semelhante à atitude dos políticos tradicionais e, assim, a população não vê com bons olhos essa possibilidade. Segundo a pesquisa, na opinião de 55% dos entrevistados, Dória deve se manter à frente da prefeitura.

De outra parte, ainda que o povo de São Paulo aprove a atual prefeitura – de forma desigual, variando de acordo com a renda, como vimos em pesquisa sobre sua popularidade ao final de seu primeiro mês de gestão – quando questionada sobre a entrega dos parques da cidade, o principal projeto de Dória para este mês de abril, a opinião é majoritariamente contrária. Ao todo, 53% rejeitam essa proposta. Este índice sobe para 67% entre os mais jovens, com até 24 anos.

Entre os que frequentam os parques, a reprovação do projeto de entrega sobe para 55%. Em relação ao seu plano de privatização, que busca entregar, em um primeiro momento, o autódromo de Interlagos e o Anhembi, há uma divisão de opinião. 48% são contrários e 44% a favor. A rejeição a privatização cresce em relação aos cemitérios (53% são contrários e 39% são a favor) e em relação à venda dos dados dos usuários do Bilhete Único (77% são contra, e 18% a favor).

Segundo o próprio DataFolha, os favoráveis às privatizações encontram-se em níveis de renda mais elevados e possuem maior grau de instrução formal. E os contrários são de níveis de renda mais baixo.

Também nos é possível concluir que quando se trata de serviços mais utilizados pela população de baixa renda, a opinião contrária cresce, pois supomos que este setor se expressa de forma mais categórica. A população da periferia pouco frequenta os parques da cidade, afinal poucos são localizados nas regiões mais periféricas. O Parque do Carmo, por exemplo, na região de Itaquera foi citado espontaneamente por apenas 12% dos entrevistados como local que frequentam.

Percebemos, portanto, que mesmo com toda a publicidade da Prefeitura, a população já começa a perder a paciência, ou minimamente questionar os sentidos da gestão de João Dória. Afinal, é sobre os direitos do povo que trabalha e precisa que as consequências drásticas da ideia e projeto privatista vão se manifestar.

Na semana passada, a Frente do Povo Sem Medo articulou uma plenária dos movimentos sociais e organizações políticas de São Paulo, para organizar a resistência contra essas velhas ideias, que tentam enganar a população através de uma cara nova.

Foto: Dória sanciona projeto de lei que prevê multas aos responsáveis pelos pixos e grafitagens, em São Paulo. Heloísa Ballarini / SECOM-PMSP