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BRASIL

Luto ou luta?

Rio de Janeiro – Ativistas da Anistia Internacional encenam mortes de jovens negros em protesto de mães e familiares contra a violência policial, no centro do Rio (Fernando Frazão/Agência Brasil)

Por: Matheus Quadros*, de Camaçari, BA

Os trabalhadores brasileiros acordaram neste dia 23 de março com um misto de ressaca e luto. Uma angústia que já tira o sono. A aprovação na Câmara dos Deputados do texto da PL das terceirizações é mais do que um duro ataque aos direitos trabalhistas, é sim um atentado contra as condições de trabalho, uma agressão sem dó, nem piedade, que visa apenas fortalecer as grandes empresas do país. Empresas que, em busca de seus lucros bilionários, são capazes de atentar contra a saúde pública, como ficou explicitado no escândalo da operação Carne Fraca da Policia Federal.

No momento em que está prestes a ser aprovada a reforma da previdência, que prevê idade mínima de 65 anos com 49 anos de contribuição, o que se pode aferir é que a geração afetada por estas medidas jamais irá se aposentar, afinal, como contribuir por 49 anos se as empresas não mais serão obrigadas a se submeter à CLT?

Se olharmos para o lado, vamos ver que a terceirização é uma realidade muito cruel em nossas vidas. Os setores terceirizados sofrem com uma precarização em alguns casos análoga à escravidão. As empresas ficam meses sem pagar salários, não recolhem FGTS e os trabalhadores passam anos sem tirar férias, pois as empresas fecham e reabrem com novos CNPJs a todo momento.

É importante destacar que, tanto a Reforma da Previdência, quanto a terceirização vão atingir com muito mais força os negros e negras de nosso país. Este é o setor que há anos já sofre com restrição de acesso à educação, lazer, moradia e condições dignas de trabalho. Que vez ou outra tem seu instrumento de trabalho “confundido” com arma de fogo pela polícia, sendo executado a sangue frio.

É, sem duvida, um cenário desolador, mas o desânimo gerado não pode se prolongar. Para nós, trabalhadores e trabalhadoras, estudantes, desempregados, movimentos populares só resta reagir, lutar contra estes ataques, lutar contra os privilégios dados aos empresários e garantir os direitos historicamente conquistados, lutar por condições para que a juventude negra tenha direito de trabalhar e estar viva para se aposentar.

Neste momento, não há alternativa que não seja a unidade das organizações de esquerda, juntamente com as organizações de mulheres, de negras e negros e do conjunto do movimento popular para derrotar a reforma da previdência e a lei da terceirização. Precisamos de novos 8 e 15M, mas com ainda mais força e unidade.

*Diretor do sindicato de bancários de Camaçari

Foto: Fernando Frazão / Agência Brasil (22/02/2017)