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OPRESSÕES

Sobre o 8M em Natal, RN

Por: Luana Soares e Rielda Alves, de Natal, RN

As imagens dos atos do 8 de março do mundo inteiro estão colorindo as redes sociais e enchendo nossos olhos de esperança. Diante da crise econômica mundial, de grandes ataques aos trabalhadores e, em especial, aos setores oprimidos, as mulheres tomam em suas próprias mãos a tarefa da luta contra os planos econômicos de austeridade dos governos, acompanhados do aumento de posições e alternativas conservadoras e reacionárias. Milhares foram às ruas nos Estados Unidos, na Argentina, no Uruguai e na Europa, em uma histórica ação coordenada de mulheres.

No Brasil, as imagens também nos enchem os olhos. Enquanto no Palácio do Planalto o presidente ilegítimo deixava escapar todo o seu machismo em frases que remetem ao papel da mulher no trabalho doméstico, as mulheres na rua mostraram que toparam a parada e nem uma está sozinha. Em São Paulo, em Brasília, no Rio de Janeiro, Salvador e Fortaleza foram alguns dos maiores atos, com lindas imagens. Provamos novamente que é possível resistir ao pacote de maldades do governo e dos deputados corruptos.

Na maioria dos locais, só foi possível termos imagens assim porque os movimentos, coletivos de mulheres e partidos e organizações da nossa classe construíram atos unitários, tendo como pautas centrais o combate à violência e à Reforma da Previdência de Temer. 

O 8M em Natal
Em Natal a organização do 8 de março começou com antecedência, com diversas organizações e movimentos que, apesar das divergências, buscavam construir a luta nas ruas contra a Reforma da Previdência, em defesa dos direitos das mulheres. Apesar disso, infelizmente, não foi possível construir um único ato em Natal. Acabaram sendo convocados dois atos com o mesmo tema e com horários diferentes, contrariando a dinâmica de unidade que deu o tom em outros atos pelo país a fora.

Consideramos um equívoco que o movimento de mulheres tenha se dividido, justamente num período duro de contrarreformas trabalhistas, previdenciária e políticas, que representa um retrocesso de muitos direitos conquistados pelas trabalhadoras e trabalhadores. O momento exigia a mais ampla unidade contra tudo isso. Essa é a maior tarefa para a esquerda. O ato convocado para a manhã foi plural, construído por diferentes entidades sindicais, movimentos sociais, coletivos autonomistas, movimento pela humanização do parto, partidos políticos e mandatos. O ato da tarde tinha o mesmo caráter e mesma pauta, mas, de forma precipitada e equivocada, foi marcado e anunciado como um evento apenas da Frente Brasil Popular.

Diante do caminho da divisão, nós, mulheres do MAIS, juntamente com companheiras da LSR, tivemos a iniciativa de escrevermos uma carta para a Frente Brasil Popular, em nome destas organizações, propondo que o ato passasse a ter uma convocação mais ampla, para além das organizações que compõem a FBP, e que fossem incorporadas as organizações que se dispusessem a fazê-la, que fosse aberta para que qualquer organização pudesse intervir, fazerem falas, levarem seus materiais de agitação, mesmo que isso implicasse na exposição das divergências políticas.

Foi um chamado sincero, de quem acreditava de que era possível ainda resgatar a unidade e, assim como dezenas de ativistas da cidade, se recusava a aceitar uma divisão em um momento como esse. A FBP respondeu positivamente a nossa proposta, chegando, inclusive, a modificar a convocação e organização do ato, que passaram a ser feitos pelos “Movimentos de mulheres do campo e da cidade”. Um passo importante das companheiras e que possibilitaria a participação e a convocação por parte de outros setores, inclusive do conjunto da CSP-Conlutas.

Nós participamos e convocamos os dois atos, sendo consequentes na busca da unidade para lutar. Não encontramos motivos para não participarmos e estivemos presentes nas ruas de Natal o dia inteiro fortalecendo a luta contra a Reforma, Michel Temer e em defesa das mulheres, da mesma forma que muitas companheiras.

O 8 de março em Natal deve servir como um exemplo a não se repetir no dia 15. Se depender do MAIS, organização da qual as duas autoras do texto fazem parte, estaremos todos juntos ocupando as ruas de Natal, num grande ato com os movimentos sociais, centrais sindicais, partidos de esquerda, construindo a paralisação nacional contra as reformas do governo.