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EDITORIAL

João Victor, Dandara e as agressões às mulheres no carnaval

EDITORIAL 5 DE MARÇO |

A semana de Carnaval teve pelo menos dois episódios que ressaltaram a importância do tema racial e LGBT, que queremos destacar aqui:

1. O Oscar para Moonlight, Viola Davis e Mahershala Ali foi comemorado pelo movimento negro e por todos aqueles que lutam contra o racismo. A Academia fez a autocrítica da ausência de atores e atrizes negras na premiação de 2016 e premiou atuações brilhantes. Um passo progressivo.

2. O programa Amor&Sexo teve como tema principal a diversidade de gênero e a visibilidade para as pessoas transsexuais e travestis. Um programa educativo que teve repercussão na sociedade.

Compreendemos esses episódios como uma vitória do movimento LGBT e dos negros e negras, os quais, junto ao movimento de mulheres, têm sido vanguarda na lutas sociais a nível mundial.

Valorizamos o tema da visibilidade principalmente por observar que alguns acontecimentos centrais do Brasil nessa semana destacam a violência contra os negros e negras, os LGBT’S e as mulheres. São milhares de casos que acontecem a todo instante, mas queremos destacar três que foram amplamente divulgados nas redes sociais e grupos de WhatsApp e que expressam elementos de barbárie no nosso país.

1. O assassinato de João Victor na Porta do Habib’s

Um episódio, infelizmente, comum nos grandes centros urbanos: uma criança negra e pobre, na porta de uma rede de fast food pedindo dinheiro e alimento. João Victor tinha 13 anos e uma vida pela frente que foi interrompida pela agressão racista e assassina de dois funcionários do Habib’s que o espancaram na frente da rede e o arrastaram pela rua. O episódio foi gravado em vídeo e mostra a violência assassina dos funcionários orientados pela direção do Habib’s. É um caso evidente de racismo na forma de um assassinato brutal.

2. O brutal assassinato da Travesti Dandara em Fortaleza

Foi amplamente divulgado nas redes de WhatsApp nos últimos dias o assassinato da travesti Dandara em Fortaleza. No vídeo, podemos observar requintes de crueldade e covardia: agressões a soco e pedaços de pau. Junto a isso, agressões verbais transfóbicas. Um caso evidente de assassinato gerado pelo ódio aos travestis. O Brasil é o país que mais mata homossexuais, bissexuais, travestis e transsexuais no mundo.

3. Agressões às mulheres no carnaval do Rio de Janeiro e a libertação do goleiro Bruno

Foram 2154 casos de agressões relatadas à Polícia Militar, das 8 horas de sexta (24) até às 8 horas de quarta (1), no Rio de Janeiro. Esses são os dados oficiais das agressões a mulheres durante o carnaval do Rio. Sabemos que muitos casos, talvez a maioria, não chegam às estatísticas oficiais. Esses dados mostram o peso do machismo na sociedade brasileira e o tamanho da violência contra a mulher.

Por outro lado, vimos a libertação provisória do goleiro Bruno, já condenado em primeira instância, pelo assassinato brutal de Elisa Samudio, às vésperas do ‪8 de março‬, dia internacional da mulher. Foi uma evidente provocação e um sinal de impunidade frente a um episódio bárbaro de violência contra a mulher.

A título de conclusão 

As três situações relatadas acima mostram o peso das opressões na realidade brasileira. São fatos concretos que mostram sintomas de que a sociedade brasileira não anda nada bem.

O Brasil mata todos os dias negros e negras nas periferias, a maioria das vezes por meio da violência do aparato policial brasileiro. Somos a nação que mais mata transsexuais, travestis, homossexuais e bissexuais no mundo e os níveis de machismo e violência contra a mulher são alarmantes. Os episódios dessa semana comprovam isso, mais uma vez.

O horror do machismo, do racismo e da lgbtfobia atingem especialmente e mais barbaramente os oprimidos da classe trabalhadora. Em uma combinação perversa entre opressão e exploração.

O discurso da direita e da extrema brasileira, como aqueles do MBL e Jair Bolsonaro, reforçam as opressões e a violência. A esquerda brasileira, neste sentido, programaticamente, deve mais do que nunca assumir a centralidade da pauta. Ganhar a maioria do proletariado brasileiro e da juventude para combater as opressões é um dos temas decisivos para construção da revolução brasileira.