Pular para o conteúdo
OPRESSÕES

Acabar com a folia do machismo também no carnaval

Por: Sueny Moura, de Belém, PA.

O carnaval no Brasil teve origem durante o período colonial, as primeiras manifestações foram praticadas por escravos, sua história está relacionada as manifestações culturais e a ocupação coletiva do espaço público pelas classes populares (1). No entanto, a partir de 1960, o carnaval passou a ser uma atividade comercial lucrativa, tornando-se uma produtiva indústria carnavalesca. Uma das mercadorias vendidas nesse período é o corpo da mulher, principalmente das mulheres negra, objeto de consumo sexual e geração de lucros.

O ambiente supostamente democrático, onde as pessoas podem se divertir com liberdade, abre alas para outra face do machismo, a violência contra as mulheres. No país onde o estupro é uma cultura, o carnaval pode se tornar um período onde o assédio, o abuso sexual e em última consequência, o estupro, é permitido. Para uma boa parcela dos homens, o fato das mulheres estarem bêbadas ou sobre o efeito de outra droga, usarem roupa com decote ou curta, ou simplesmente participarem de uma bloco de carnaval é um convite para a apropriação sem consentimento de seus corpos.

Uma pesquisa realizada pelo Instituto Avon em parceria com o Instituto Data Popular em 2014, entre jovens de 18 a 24 anos, demonstrou que apesar de 96% dos entrevistados terem percepção sobre a existência do machismo no Brasil, boa parte reproduz valores conservadores em relação as atitudes e comportamentos das mulheres, por exemplo, 80% dos jovens acham incorreto as mulheres ficarem bêbadas em bares, festas ou baladas e 78% das jovens revelaram terem sido assediada em locais públicos.

As formas mais comuns de assédio relatadas pelas informantes são, receber cantada, tocar o seu corpo numa balada e ser assediada fisicamente no transporte público (2). Durante o carnaval casos de abuso e assédio sexual acabam sendo naturalizados. Outra pesquisa realizada pelo Instituto Data Popular em 2016 para a campanha Carnaval sem Assédio, revela o quanto atitudes machistas durante o carnaval são uma ameaça para as mulheres. 49% dos entrevistados afirmaram que carnaval não é lugar para mulher “direita” e 61% acreditam que uma mulher solteira que vai pular carnaval não pode reclamar de ser cantada (3).

Infelizmente, o machismo ameaça as mulheres todos os dias, os dados sobre violência contra as mulheres são alarmantes. O balanço da Secretaria de Política para as Mulheres (SPM) contabilizou, através do atendimento realizado pelo Ligue 180 – Central de Atendimento à Mulher – 555.634 atendimentos somente no primeiro semestre de 2016, uma média de 3.052 por dia. Dos atendimentos realizados, quase 68 mil foram relatos de violência, correspondendo a 12,23% do total. Entre os relatos, 51% foram de violência física; 31,1% psicológica; 6,51% moral; 1,93% patrimonial; 4,30% sexual; 4,86% cárcere privado; e 0,24% tráfico de pessoas (4) . No Brasil um estupro é registrado a cada 11 minutos e 90% das mulheres tem medo de sofrer violência sexual (5). As estatísticas são apenas uma mostra da gravidade da violência contra as mulheres, sabemos que a maioria dos casos não são registrados.

Neste carnaval não vamos deixar o machismo fazer a folia. Assédio sexual é crime! Não deixe de constranger o assediador, faça uma escândalo e denuncie! Contar com a ajuda das amigas também é muito importante. Em casos de violência contra a mulher ligue 180 ou procure a delegacia das mulheres de sua cidade, caso não haja, procure a delegacia mais próxima e exija ser respeitada.

No dia 8 de março, as mulheres estão organizando uma grande mobilização contra a violência machista no mundo, aqui no Brasil também as mulheres prometem parar e tomar as ruas para lutar contra o feminicídio e os ataques do governo ilegítimo de Temer, que com a colaboração do congresso de corruptos querem aprovar a reforma trabalhista e da previdência, mais uma violência contra as mulheres. Por nem uma a menos, nem um direito a menos, Fora Temer!

1 Disponível em: http://www.geledes.org.br/historia-carnaval-no-brasil; Acesso em: 24 fev. 17.

2 Disponível em: http://www.agenciapatriciagalvao.org.br/dossie/wpcontent/uploads/2015/07/DATAPOPULAR_AVON_violenciajovens.pdf; Acesso em: 24 fev. 17.

3 Disponível em: https://catracalivre.com.br/materia-especial/carnaval-sem-assedio- 2017/; Acesso em: 24 fev. 17.

4 Disponível em: http://www.brasil.gov.br/cidadania-e-justica/2016/08/ligue-180- registra-mais-de-555-mil-atendimentos-este-ano; Acesso: 24 fev. 17.

5 Disponível em: http://www.agenciapatriciagalvao.org.br/dossies/feminicidio/pesquisa/9o-anuario-brasileiro-de-seguranca-publica-forum-brasileiro-de-seguranca-publica-2015/; Acesso em: 24 fev. 17.

Foto: Coletivo NegrAção