Neste carnaval… um basta à exploração e à opressão

Editorial 24 de fevereiro |

Hoje (24) começa oficialmente a festa de Carnaval. Em todas as cidades do Brasil, das pequenas vilas às grandes capitais, foliões irão tomar as ruas com suas fantasias para comemorar o reinado de Momo. É uma verdadeira festa popular, não apenas pela quantidade de gente que participa, mas pelo protagonismo do povo nos blocos que vão às ruas. Durante essa época do ano, é o povo que controla o país com seus sambas, frevos, maracatus e marchinhas.

Ao chegar ao Brasil, a festa europeia pagã que foi transformada pela Igreja em dias de fuga antes da Quaresma se misturou com a cultura do povo negro e dos indígenas, transformando-se numa das mais belas festas do mundo e se manifestando com regionalidades que passam pelos blocos e tradicionais escolas de samba do Rio de Janeiro, o ‘Ilê Aye’ em Salvador, o ‘Galo da Madrugada’ em Recife e uma infinidade de ritmos, cores e blocos por todo o país.

Mercantilização e Resistência

Infelizmente, como tudo que atrai multidões, o Carnaval também foi transformado em mercadoria. Os cordões e os camarotes vips servem para separar quem pode e quem não pode pagar, as prefeituras exigem dos foliões que respeitem o monopólio e bebam apenas a cerveja do patrocinador, as Escolas de Samba se transformaram em impérios milionários com enredos feitos sob medida para agradar quem pode pagar.

Mas há resistência. Os blocos de rua se multiplicaram na maioria das cidades, muitas vezes enfrentando as proibições das prefeituras ou suas tentativas de cooptá-los completamente. Marchinhas e cordões com conteúdo contestador e que ironizam os políticos e a classe dominante continuam a se proliferar. Os eventos que ocorrem nos bairros afastados das periferias, que atraem pouco interesse de turistas e governos, continuam a acontecer organizados pelos próprios moradores.

O Carnaval de 2017 também promete ser muito politizado. Em vários blocos e ensaios já foram entoados o coro ‘Fora Teme’ expressando o repúdio dos foliões com o governo do PMDB. A marchinha vencedora do concurso Mestre Jonas, em BH, ironizava os ‘cidadãos de bem’ que foram às manifestações da direita, vários blocos de rua estão sendo tomados pelo clima de indignação que contagiou o Brasil na atual crise.

Assédio não pode fazer parte

O Carnaval reúne milhões de pessoas que saem às ruas para se divertir, paquerar e dançar, mas em um país profundamente machista e racista a opressão sempre dá as caras em eventos assim. Muitos homens acham que as mulheres são mercadorias e insistem em tocá-las e agarrá-las sem sua autorização, a imprensa apresenta as mulheres (principalmente as negras) como objetos a serem consumidos e os desfiles das escolas de samba, com suas rainhas da bateria, sempre reproduzem o estereótipo da mulher que existe para satisfazer o desejo dos homens.

O racismo fica evidenciado nas festas mais excludentes. A cena de um bloco fechado por cordas na Bahia, composto quase exclusivamente por brancos em uma cidade majoritariamente negra como Salvador, fala por si só. O racismo não deixa de estar presente devido à forte presença da cultura negra no Carnaval.

A luta contra toda forma de opressão deve seguir presente no Carnaval. Iniciativas como os apitos contra o assédio (onde mulheres assopram o apito se assediadas) e a formação de blocos temáticos como os ‘Mulheres Rodadas’ ajudam a defesa dos oprimidos e a conscientização dos foliões. Carnaval é festa, mas também é luta contra a exploração e opressão. É tempo de aproveitar a festa mais popular do Brasil levantando bem alto nossas bandeiras contra toda forma de opressão e exploração.

Veja abaixo o vídeo com ‘Marchinha do Cidadão de Bem’ que ironiza manifestações de direita que apoiaram o golpe parlamentar.

Foto: pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Olinda_Carnival_-_Olinda,_Pernambuco,_Brazil.jpg