Em qual instituição devemos confiar?

Por Ademar Lourenço, de Brasília, DF

Alexandre de Moraes foi aprovado ontem na sabatina do Senado sobre sua indicação ao Supremo Tribunal Federal. Foram 19 votos contra 7 na Comissão de Constituição e Justiça da casa. Sua indicação segue agora para o plenário do Senado, onde certamente será aprovado. O que isto quer dizer?

O chefe do Poder Executivo, Michel Temer, indicou para o STF seu ministro, que fez favores pessoais a ele no caso do hacker que roubou dados do celular de sua esposa. Temer é investigado na operação Lava-Jato, que será tema de julgamento no Supremo. O chefe do Poder Legislativo, Eunício de Oliveira, que também está envolvido na Lava-Jato, coordenou a sabatina.  Agora Alexandre de Moraes passa pelo plenário do Senado, cheio de corruptos, e vai ser parte da corte mais importantes do Poder Judiciário.

Alexandre de Moraes será um retrocesso. E o caminho dele ao STF mostra como os três poderes no Brasil funcionam. Os favores pessoais, os interesses empresariais e a politicagem é quem manda nos gabinetes chiques de Brasília. O interesse do povo passa longe. Além do Poder Executivo totalmente ilegítimo com Temer na presidência, não podemos esperar muita coisa do Legislativo e do Judiciário.

No meio dessa sujeira, em qual instituição devemos confiar? Vivemos dias difíceis. A previsão de crescimento da economia do Brasil para 2017 será de apenas 0,5%, segundo o Banco Mundial. E a instituição tem sido otimista. No ano passado, ela previu queda de 2,5%, mas o tombo deve passar dos 4%. Se nenhum dos três poderes fazem nada, quem poderá nos salvar?

Na internet a gente vê de tudo. Tem gente defendendo a volta da ditadura, volta da monarquia, gente querendo separar estados do Brasil e todo tipo de bobagem. O deputado Jair Bolsonaro, com sua diarreia verbal, desvia as esperanças de muitos para caminhos sombrios. Até Lula, que parecia morto, é visto por alguns como uma oportunidade para tempos melhores.

Para nós, a saída é a mobilização da classe trabalhadora. Não existe solução mágica nem salvador da pátria. Também não podemos confiar nas instituições deste regime político. Aquelas e aqueles que vivem de seu trabalho devem confiar apenas nas suas forças. Na história sempre foi assim. Todos os direitos que temos foram conquistados.

As instituições atuais estão a serviço da classe dominante. São os donos do dinheiro que dão as cartas no Executivo, no Legislativo e também no Judiciário. Foi a burguesia que criou o atual regime político. Ele só favorece a classe trabalhadora se for pressionado pela mobilização.

Quem aponta a solução são as mulheres que vão ás ruas contra o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. São os servidores do Rio de Janeiro, que estão nas ruas contra as maldades do governador. São os estudantes que ocuparam escolas no ano passado. Cada trabalhador e cada trabalhadora é parte da solução. E parte do problema.

Parece difícil hoje organizar os trabalhadores por seus direitos. Mas não é impossível. As lutas surgem, é necessário que elas se unifiquem e que as direções dos movimentos sociais articulem essa unidade. Para isso, as organizações de esquerda cumprem um papel essencial. E o conjunto da militância, independente de ser ou não de uma organização, deve fazer sua parte.

Março será um mês de lutas. É hora de fazer trabalho de base e mobilização. Boa parte da população ainda tem ilusões nas instituições e em salvadores. Há muito o que fazer.

Foto: pt.wikipedia.org/wiki/Alexandre_de_Moraes