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EDITORIAL

Rio de Janeiro: carnaval no meio do caos

Editorial 12 de fevereiro

O Rio de Janeiro é o retrato do caos. Enquanto o pré-carnaval lota as ruas da cidade, com uma programação intensa de blocos e a chegada de turistas de todas as partes do mundo, nesta terça-feira (7), a crise política e social terá mais um importante capítulo: uma nova tentativa de votar a privatização da CEDAE na Assembléia Legislativa.

Pezão segue com a corda no pescoço, depois que o TRE cassou o mandato da chapa do PMDB no governo do estado por abuso de poder econômico e político. Podem recorrer ao TSE e reverter o processo, além de ganhar tempo e continuarem governando até nova decisão. Porém, agora, há uma relação inegável entre sua governabilidade e a aprovação do acordo estabelecido com a União de ajuda financeira, com a contrapartida da venda da CEDAE.

Nesta segunda-feira (13), Pezão terá uma audiência de conciliação em Brasília com o STF para discutir uma aceleração do acordo com a União e do repasse financeiro. Para embananar ainda mais a situação, Jonas Lopes, ex-presidente do Tribunal de Contas Estadual e seu filho, Jonas Neto, estão em processo de delação premiada. Entregam detalhes do poderoso chefão do PMDB fluminense, Jorge Picciani, que está com a grandiosa tarefa de, no meio desse caos, aprovar o acordão Temer-Pezão na Alerj.

Desde o fim do ano passado, os enfrentamentos se acirram cada vez mais. Os servidores estaduais, organizados pelo MUSPE (Movimento Unificado de Servidores Públicos Estaduais), vêm impulsionando uma série de protestos que foram brutalmente reprimidos. Salários atrasados, aposentados sem receber, UERJ com ameaça de fechamento foram os combustíveis para uma revolta justa e generalizada. Pezão não conseguiu aprovar seu “Pacote de Maldades” e apelou a uma ajuda direta do Governo Federal. Longe de apaziguar a situação, e usando a privatização da CEDAE como moeda de troca, aprofundou ainda mais a mobilização, em especial dos trabalhadores cedaianos.

A situação se tornou ainda mais complexa com a ameaça da greve da Polícia Militar. Cada vez mais batalhões amanhecem com esposas, viúvas e mães de policiais militares protestando contra os atrasos no pagamento dos salários. Há todo o tipo de tentativa coercitiva por parte dos comandantes de impedir que a greve de fato se instale, combinado com uma ofensiva ideológica para que aceitem o acordo da venda da CEDAE. Mais do que nunca, é importante fortalecer o caráter unitário do movimento dos servidores, que deve resistir contra todo o pacote e não só lutar pela regularização dos salários.

Propostas como a desmilitarização da PM, que há audiência e simpatia entre as patentes baixas da polícia, e a luta contra a repressão e criminalização dos protestos, devem ser amplamente levantadas. O caso do Carlos Henrique Senna, estudante de 18 anos, membro da AERJ, que teve seu intestino e fígado perfurado por uma bala de borracha (mas que já está bem, em recuperação) e od presidente da Asservisa, André Ferraz, que corre o risco de perder a audição de um dos ouvidos, demonstram a brutalidade da repressão e merecem toda a nossa solidariedade.

A saída é a unidade dos de baixo
Pelo grau profundo de crise do Estado, é difícil ter uma precisão do que vai acontecer essa semana. Com o governo Pezão fragilizado, até Picciani na berlinda, combinado com todas as tentativas parlamentares da oposição, liderada por Freixo, de dificultar a votação na Alerj e, principalmente, o protesto de terça-feira ganhando mais e mais adesão, não está descartada a possibilidade de impedir a votação do acordo. Outra variante é o que acontecerá em Brasília, amanhã, na audiência entre Pezão e STF.

A única saída para sermos vitoriosos é ganhar a opinião pública contra a privatização da CEDAE, demonstrando que tal medida se trata pura e simplesmente de oferecer um novo ramo às corporações e investidores capitalistas com relações espúrias com o PMDB, atacando o direito da população à água e ao saneamento básico.

Com apenas 10% da arrecadação de tudo que o governo deixou de receber em isenções fiscais para grandes empresas, conseguiria arrecadar mais do que com a venda da CEDAE. Ainda por cima vendendo uma empresa pública lucrativa. Em 2015, o lucro líquido foi de R$248,8 milhões. Mas, a lógica de quem paga a conta da crise já está anunciada: tira do salário dos servidores e direitos do povo, enquanto a corja da bandidagem segue se protegendo do jeito que pode.

O dia 14, portanto, será um novo grande capítulo deste drama em que vive o Rio. Sob a liderança do MUSPE, todos os partidos de oposição e movimentos sociais estão convocando a participação no ato. A Frente Povo Sem Medo fará uma concentração unitária a partir das 9h, na Cinelândia. É hora de unificar organizações, categorias, buscar o apoio e a participação popular. No último grande ato, quinta-feira passada, as mulheres que se reuniram em Plenária para planejar a construção do 8 de março, deram uma lição de unidade da classe trabalhadora. Decidiram cancelar a reunião e foram marchando em direção ao ato, cantando em defesa dos servidores e contra a privatização da CEDAE.

Olhos de todo o país devem se voltar ao Rio esta semana. O resultado deste enfrentamento não definirá apenas a situação dos servidores estaduais, ou mesmo do povo fluminense. Temer quer fazer deste acordo com Pezão um exemplo para solucionar a crise nos estados, e uma derrota nossa poderá significar um efeito cascata de ofensiva do capital. Impedir a votação na terça, portanto, passa a ser uma tarefa de toda a classe trabalhadora. Com muita unidade e firmeza na ação, não está descartado adiar a votação, o que colocaria Pezão e Picciani numa situação ainda mais frágil, o que não seria nada mal para aumentar a alegria da chegada do carnaval.

Foto: Pablo Henrique