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CULTURA

Documentário Pixo: o alfabeto da disputa espacial na cidade e suas origens

Carolina Freitas, de São Paulo, SP

O documentário ‘Pixo’, dirigido por João Wainer, é uma arma crítica contra as empreitadas que João Dória vem promovendo contra os muros da cidade. O filme conta as origens da pichação, sobre como se tornou uma expressão urbana típica da metrópole paulistana desde os tempos de ditadura civil-militar.

Em meio à discussão estéril a respeito do pixo ser, ou não ser arte, o filme é preciso sobre a sua questão principal, escondida pelas polêmicas produzidas pelos grandes meios de comunicação e pelo governo: afinal, do que se trata o pixo enquanto fenômeno social?

Com uma pesquisa fiel, que retoma as pichações políticas na ditadura, as propagandas inovadoras do comércio popular com escritos e gravuras nas paredes da cidade, até chegar na pichação como prática ligada ao punk, ao hip hop e a outras manifestações da cultura do proletariado jovem de São Paulo, o documentário vai desenhando sua verdadeira gênese: a luta de classes na sua dimensão espacial.

Fica evidente, no filme, como o processo de urbanização e de formação das periferias metropolitanas, entre os anos 80 e 90, em São Paulo, determinou o pixo como grito de jovens e trabalhadores excluídos da cidade. A organização em grupos de pichadores, os desafios de pichar muros e paredes de prédios altos, a elaboração das assinaturas, as competições e as festas do universo do pixo compuseram os elementos lúdicos de um jogo de táticas espaciais que confrontaram e confrontam, com cada vez mais força, os sintomas da propriedade privada e sua vocação de “morte” da cidade à juventude e aos trabalhadores periféricos.

A perseguição e a violência policial, o preconceito de classe, os ataques de toda ordem da opinião pública fabricada, foram, até hoje, apesar de duros, completamente insuficientes para barrar a manifestação da pichação, consolidada já como resistência sistêmica à ordem espacial de segregação produzida pelo capital.

O prefeito alimenta a polêmica falseada do pixo ser um problema estético urbano, enquanto que os pichadores compreendem nitidamente contra quem estão pichando: a propriedade privada. Nas escrituras e nos registros de imóveis, a cidade pertence aos proprietários. Na rua, nos muros, nos andares mais altos, o pixo ri da segurança jurídica e assina, para qualquer um ver, que as injustiças espaciais não podem dormir tranquilas com o pesadelo de a cidade um dia ser retomada.

Documentário ‘PIXO’:

PIXO from TX on Vimeo.

 

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