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BRASIL

E se os militares tomassem o poder, como seria?

Por: Evandro J. Castagna, de Curitiba, PR

O regime dos quartéis seria transportado ao país. Hoje em dia os “praças” (soldados, sargentos e cabos) são proibidos de lutar pelos seus direitos, não podem criar sindicatos e fazer greve, não elegem seus comandantes. São considerados pelos oficiais comandantes como “corpos sem cabeça”. Obedecem a um comando indicado pelos governadores e presidentes, que é quem de fato manda. Portanto, não haveria liberdade política no Brasil. É o que chamamos de ditadura.

As lideranças das organizações da classe trabalhadora que se manifestarem contrárias ao regime serão duramente reprimidas, como são os soldados insubordinados. Os que defendem um “golpe militar” no Brasil já classificam os sindicatos, partidos de esquerda e movimentos populares (ou qualquer tipo de oposição que comprometa seu comando) como “organizações terroristas”.

Portanto, os sindicatos seriam totalmente controlados por direções indicadas diretamente pelos militares, os chamados “pelegos” ou “calças curta”, os que fugirem do controle seriam extintos, as lideranças presas, torturadas, ou assassinadas. Os políticos, partidos e demais organizações de direita e patronal seriam incorporados como “braço civil” de apoio à ditadura militar. Atualmente, a alta cúpula das forças armadas é escolhida a dedo pelos políticos e partidos da burguesia industrial, bancária, comerciária e latifundiária.

O governo e o regime seriam como um espelho ao funcionamento que já existe atualmente nos quartéis, só que em escala nacional.

Tudo isso pra quê? Para implementar, pela força bruta, os ataques à classe trabalhadora e manter as taxas de lucro para o capital financeiro (via principalmente pagamento da dívida pública) diante da crise econômica internacional do capitalismo.

Não existe desacordo na alta cúpula dos militares em relação aos cortes na saúde e educação, os ataques à CLT, a previdência e assistência social. Essa cúpula já vinha acompanhando as medidas de austeridade de Dilma Roussef e nada fazia, tanto é que permaneceu a mesma depois do golpe. Esses generais são todos inimigos dos trabalhadores.

O alto comando das forças armadas também observou calado o espetacular golpe institucional que derrubou Dilma Roussef. Apoiou Temer e inclusive foi beneficiado recentemente com o restabelecimento da autonomia sobre medidas administrativas e financeiras.

Um dos comandantes, o General Villas Boas afirmou que as Forças Armadas estarão prontas a atender qualquer requisição do presidente para a realização imediata de operações, no sentido de se manter a Lei e a ordem, nos estritos limites da Constituição Federal, garantindo a transição política e continuidade do processo democrático que o Brasil vivencia, contra a reação daqueles que planejam a conturbação social.

Podemos vivenciar parte desta disposição na violenta repressão aos manifestantes que lutavam contra a PEC 55 em Brasília, no dia 29 de novembro de 2016. Não será diferente nas próximas batalhas.

As forças armadas , por mais contradições que tenha em seu interior, são instituições do estado capitalista/burguês, controladas por multimilionários, seus políticos e partidos. Quando a dominação já não se dá pelo convencimento, o poder da burguesia é exercido pela força bruta. Em última instância, o estado burguês/capitalista se resume não só a um destacamento de homens armados, como também a elementos materiais, prisões e instituições coercivas de toda espécie .

Resta saber se as baixas patentes, filhos e filhas de trabalhadores, cumprirão as ordens de seus autoritários e elitizados comandantes, contra seus próprios familiares. De nossa parte, atuaremos para que fiquem do lado da maioria, explorada e oprimida, contra a burguesia parasitária que lucra com a fome, a miséria e a destruição do planeta.

A unidade entre os camponeses pobres, pequenos comerciantes, os praças e o conjunto da classe trabalhadora é fundamental para reverter este quadro. A defesa de democracia nos quartéis, com eleição dos comandos, direito à sindicalização e greve para soldados, desmilitarização da PM e controle popular das forças armadas é fundamental como contraponto ao programa autoritário de dominação do capital financeiro internacional