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OPRESSÕES

Onde começa a homofobia?

Por: Eliana Penha, de São Paulo, SP

29 de janeiro, 16h, Shopping Penha, Zona Leste de São Paulo. Um grupo de estudantes de um curso de drag queens saem para almoçar, mas foi impedido por seguranças de entrar no shopping porque, segundo os mesmos, utilizava “maquiagem forte”. Este abuso contra o direito de ir e vir foi mais uma prova contundente da homofobia que existe em nossa sociedade.

Uma manifestação da homofobia, que se soma a diversas outras formas ainda mais violentas em nossa sociedade, que tentam impedir as pessoas LGBTs em expressar sua sexualidade livremente, sem correr o risco de serem discriminadas, ou pior, espancadas e assassinadas cotidianamente. Uma violência que vitima as pessoas LGBTs e também aquelas e aqueles que não se calam diante destas manifestações de intolerância, como o caso a partir do qual o camelô que tentou defender as travestis que estavam apanhando de dois homens na Estação do Metrô Pedro II foi brutalmente espancado até a morte.

O Brasil foi o campeão mundial de transfobia em 2016, foram 143 homicídios, 52 tentativas de assassinatos e 12 suicídios. Podemos creditar esses números na conta de muitos líderes e políticos da bancada evangélica, como Jair Bolsonaro, Silas Malafaia, Marco Feliciano e muitos outros, que com seus discursos de ódio contra as pessoas LGBTs incentivam e alimentam a violência. O Estado brasileiro, que em sua constituição se diz laico e “garante” não poder haver discriminação de nenhuma forma, não impede que os discursos de ódio contra lgbts, negros, mulheres e religiões de matriz africana sejam proferidos e vinculados em todos os meios de comunicação de massa. Se nega a avançar a legislação que trate como crime tais práticas.

A conivência com as práticas homofóbicas, machistas e racistas em nossa sociedade se expressa em vários terrenos. Na educação, por exemplo, mesmo o governo da ex-presidente Dilma Roussef (PT), pressionada pela bancada evangélica, vetou o kit anti-homofobia que seria enviado às escolas para ajudar nesta discussão, além de excluir este tema do Plano Nacional de Educação.

Alckmin (PSDB), então governador do Estado de São Paulo, seguiu a mesma lógica na construção do Plano Estadual de Educação, aprovado no ano passado na Alesp. Na Prefeitura de São Paulo, Haddad retirou a discussão de gênero do currículo e o Governo Federal golpista, ilegítimo e corrupto de Temer, não tem mulheres em seu ministério e pretende excluir qualquer possibilidade de uma abordagem destes temas com projetos como o ‘Escola sem Partido’. Estes são apenas alguns exemplos de como esta discussão é encarada pelos governantes.

É preciso que construamos um grande movimento para dar visibilidade a estes setores que estão muito longe de serem minoritários. Precisamos exigir dos governos que garantam o que está na constituição e lutar para avançar na conquista de direitos, para que a homofobia seja criminalizada e que aqueles e aquelas que a pratiquem sejam punidos exemplarmente, a começar pelos políticos que insistirem em difundir discursos de ódio contra LGBTs. Uma sociedade só é livre e desenvolvida quando os seres humanos podem exercer todos os seus direitos e especificidades individuais, como o de ser quem são sem correr o risco de morrer por isso.

Uma manifestação está sendo convocada para este próximo domingo, às 16h, no shopping Penha, em repúdio ao ocorrido. Acesso o Evento “Nenhuma Drag será barrada”, no Facebook.

Foto: Arquivo Pessoal