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CULTURA

Pequeno comentário sobre ‘La La Land – Cantando Estações’

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Por: Paula Farias, de Fortaleza, CE

Consegui assistir ao filme ‘La La Land’, que vem devorando muitos prêmios e é um dos grandes indicados para o Oscar deste ano. Fui assistir sem grandes expectativas, ou euforia. Fui porque gosto de cinema (ainda que não seja um francês). Em se tratando de uma homenagem ao gênero ‘musical’, quase desisto de ficar até o fim nos primeiros cinco minutos de filme. A música ‘Another Day of Sun’ na abertura foi como se John Travolta de ‘Grease’ dissesse: ‘eu estou aqui’. Bem, ele não estava, mas Grease está junto a tantas outras referências aos musicais clássicos do cinema. Não desisti e saí satisfeita com o que vi e ouvi.

Não espere sair do cinema com reflexões nas alturas
A ideia do filme é simples e bem Hollywood. Um romance entre um jovem casal, Mia e Sebastian, dividido em estações do ano: Inverno, Primavera, Verão, Outono e Inverno. Ela sonha em ser uma atriz bem sucedida. Ele sonha em abrir um club de jazz. Mas, como milhões de jovens no mundo todo, estão presos em vidas que ainda não decolaram. Nem só de sonhos sobrevivem os jovens subempregados em Hollywood. Então Mia trabalha em um café e Sebastian não tem um trabalho fixo. Aí aparece uma importante mensagem: a dúvida que paira entre jovens na escolha de uma carreira, as idas e vindas para chegar ao sucesso que em tempos de crise e retirada de direitos está cada vez mais longe.

Calma aí que eu não estou dizendo que o filme é ‘esquerdista’, ou faz uma crítica ao capital, ou à indústria cinematográfica. O que quero dizer é que o drama aparece e que a grande saída é adaptar-se. No filme aparece como a grande transformação dos personagens ou o amadurecimento dos jovens. Não espere sair do cinema com reflexões nas alturas. Os personagens aceitam os destinos que lhes são impostos em nome do sucesso.

Não deixe o jazz morrer, ou como ser revolucionário sem ser tradicionalista
Mas, quero falar aqui das músicas e da paixão pelo jazz do jovem Sebastian, o que me fascinou. Sebs é um apaixonado pelo jazz, um virtuose do piano, que só vê beleza no ‘jazz puro’; no jazz tradicional de ícones como Miles Davis, Coltrane, Charlie Paker, entre outros.

A angústia de Sebs é que diversos clubs dedicados ao gênero estão sendo fechados e o público que gosta do gênero cada vez mais restrito, mais velho. Talvez uma das cenas mais marcantes do filme seja quando Sebs vai explicar para Mia o que é jazz e porque não podemos deixá-lo morrer. Mia não gostava de jazz até então. “Jazz é revolucionário, é o futuro da música”, define Sebs. É uma cena bonita.

O diálogo entre um músico de ‘jazz moderno’ convencendo Sebs a assinar com sua banda também é um momento marcante. A frase marca: “O Jazz está morrendo por causa de pessoas como você [Sebastian]! Como você vai ser revolucionário sendo um tradicionalista?”

Como não deixar o jazz morrer? Essa é uma boa questão para os amantes do jazz. Como conquistar um público jovem? É necessário adequar-se à contemporaneidade para não deixá-lo morrer? Como ser revolucionário no jazz sem ser tradicionalista?

Reparem no céu de La La Land
Tem outras coisas que devemos prestar atenção no filme. De fato, tem belas fotografias, tem efeitos de luz que deslocam os personagens e dão um ar de sonho ao filme. Llembrem-se: é um musical. Mas, há cenas belas como a do cinema com ‘Juventude Transviada’; no planetário; no parque. Reparem no céu do filme, é muito lindo.

Há um fluxo permanente entre ‘novo’ e ‘antigo’. Um número de sapateado interrompido por causa do toque do celular é um exemplo. Muitas referências de filmes antigos como Juventude Transviada, Levada da Breca, Grease, Cantando na Chuva, Casablanca e outras tantas.

Também nota-se uma transformação nos valores traduzidos por cada época. Nos musicais dos anos 1940-1950 o amor era mais relevante que o sucesso, por exemplo. Por amor, abria-se mão até do sucesso. Em La La Land, a felicidade pode ser a realização do outro; pode ser a realização profissional individual. O amor, nesse caso, transforma-se.

Esse é o terceiro filme de Chazelle, um jovem diretor. É dele o filme ‘Whiplash – em busca da perfeição’ sobre um baterista que busca atingir a perfeição no jazz. Revela que Chazelle é um apaixonado pelo gênero.

La La Land me interessou por ser uma homenagem aos musicais e uma defesa (por minha conta e risco) dos sonhos e do jazz. E também por marcar a necessidade das mudanças e que tudo se transforma. Até o amor.

Assistam!