Pular para o conteúdo
EDITORIAL

30 anos sem N. Moreno

Por: Gil Garcia*, de Portugal

Declaração de intenções: sou um morenista de primeira hora. Continuo sendo com muito orgulho e admiração, um morenista por mais de 42 anos (vai fazer em dezembro de 2017, 43 anos).

Já não sou um seguidista acrítico. Pelo menos há mais de 20 anos. Aprendi com a filosofia e até com Nanhuel Moreno que nos ensinou que ser trotskista é ser crítico do trotskismo. Mas Hugo Bressano (Moreno) era sem dúvida daqueles vultos que cometeram erros certamente (e ele até a si próprio se caracterizou por ter passado por um período de ‘trotskismo bárbaro’) mas muito acima da média da maioria dos líderes políticos que pude conhecer no campo da esquerda revolucionária.

No futebol chamamos aos Pelés, Maradonas, Messis ou Cristianos Ronaldos de foras de série. E com razão.

Na Física também os há, Newton, Einstein, etc. Na Literatura, Garcia Marquez, J. Amado, Fernando Pessoa, Eça, Saramago, etc). Na música e na composição em português, Chico Buarque, Zeca Afonso, etc. E em muitas outras expressões humanas existem inúmeros foras de série. Porque não na política e na política revolucionária?

Na direita há as Thatcher, Reagan que inauguraram uma das piores épocas da humanidade que ainda nos cabe viver.

Na esquerda revolucionária? Bem eu conheci Pierre Lambert, Ernest Mandel, Ernesto Gonzalez, Mário Doglio Pedro Pujals, Aldo Casas, Martin Hernandez, Hugo Blanco. Claro, não conheci (ao vivo) Che, Fidel e tantos outros “monstros”.

Moreno era um fora de série. Um fora de série é forte em muitas áreas. Um dirigente político bom ou até muito bom é forte em uma, duas, sei lá, talvez três áreas. Ou forte teoricamente, ou forte organizador ou forte no campo da retórica. Ele tinha uma cultura muito acma da média; era um orador brilhante, um construtor e organizador genial.

Onde ele passava “cresciam flores”, ou seja, surgiam partidos com dezenas primeiro e centenas depois e até milhares de militantes.

Com situações ofensivas, com situações pré ou mesmo revolucionárias mas também com situações defensivas, não revolucionárias e até de ditadura. Ele era forte a ‘fazer finanças’, forte a ‘mobilizar tropas’, via primeiro e mais longe os processos políticos. Ele era argentino mas ‘previu’ a revolução portuguesa e a queda do império português com a devida antecedência. Ele viu que o trotskismo dedicado às guerrilhas na América Latina iam ao desastre. E foram.

Se pouco possa ter aprendido com ele porque estava a quilómetros de distância em talento, aprendi, sem margem para dúvida, que o caminho é árduo para erguer forças revolucionárias com influência de massas e que sem Moreno tudo se tornou mais difícil, mesmo para todos os morenistas de diversas correntes que se reclamam ainda hoje do seu legado político, militante e teórico.

As futuras revoluções que eventualmente vierem a ser vitoriosas, de uma forma ou de outra, contarão com a experiência do passado. Lénin estudou Engels e Marx e até Plekanov. Moreno estudou todos eles e mais dezenas de filósofos e outros intelectuais importantes na sua época. Nós estudaremos todos eles e, também Hugo Bressano ou melhor Nanhuel Moreno.

Que falta nos faz hoje. Como a revolução argentina (2001) teria sido totalmente diferente (e a própria história do morenismo) se no início deste século tivesse contado com Moreno vivo. Ele continuará vivo nas lutas da classe trabalhadora. Disso não tenho qualquer dúvida.

*Preservamos a língua de origem do autor, português de Portugal