Pular para o conteúdo
CULTURA

Depressão, álcool e desilusão amorosa pegaram pesado nas rádios em 2016

Por: Ademar Rodrigues, de Brasília

Cerca de 40% da população ainda não usa internet no Brasil. Mais de 90% ouve rádio. O “povão” ainda tem o gosto definido pelo que toca nas estações. É o que nos diz a lista das 100 música mais tocadas nas rádios do Brasil em 2016? A empresa Crowley faz a medição todo ano e mostrou que, se em outros anos o clima era mais alegre, 2016 foi o ano da “sofrência”.

Desilusão amorosa sempre  foi um dos temas mais cantados nas rádios, mas em 2016 ela tomou conta. Das dez músicas mais tocadas, sete falam de relacionamentos que acabaram ou que estão em crise. Das vinte mais tocadas, foram treze.

Para termos uma comparação, das 20 músicas mais tocadas em 2012, apenas três falavam da pessoa que está em crise no amor. Eram os tempos da ostentação, do “Show das poderosas” e do “Amor de chocolate”. Era outro clima. As músicas que falam de balada e ostentação foram menos ouvidas em 2016.

Bebida e depressão marcaram forte presença no último ano nas rádios. “Enquanto ela não voltar eu vou continuar me afundando no álcool”, diz um verso da música “Seu Polícia”, da dupla Zé Neto & Cristiano, a mais tocada nas rádios em 2016. Na música “10%”, da dupla Maiara & Maraisa, além de beber até “quase cair da cadeira” a pessoa ainda se preocupa em não ter dinheiro para pagar a conta.

A crise e o desemprego com certeza contribuem para que a depressão aumente. As pessoas parecem menos otimistas. Se antes elas gostavam de músicas que falavam sobre aproveitar o padrão de vida conquistado, hoje elas preferem músicas que falam sobre suas derrotas. Sinal dos tempos.

Cantoras Sertanejas tomam conta, rock morreu

Das 100 músicas mais tocadas nas rádios em 2016, 74 foram sertanejas. O sertanejo lembra as raízes rurais da maior parte dos brasileiros, se adapta aos tempos, dialoga com outros estilos, e, claro, fala de amor. Não tem como não ser popular.

E a novidade desse ano foi a ascensão das cantoras sertanejas. Marília Mendonça, Maiara & Maraísa e Naiara Azevedo tomaram em 2016 um espaço que sempre foi masculino. Suas músicas falam de desilusão amorosa, mas na visão de uma mulher. Elas não são mais apenas o “objeto” do amor perdido do homem, mas o sujeito que também sabe falar de suas perdas. Depois da jogadora Marta brilhar no futebol, a música sertaneja também é obrigada a dar outro papel para as mulheres.

Enquanto isso, o rock morre nas rádios. Em 2012, pela primeira vez, ele não apareceu entre as 30 mais tocadas. Em 2016, pela segunda vez seguida, ele não esteve nem entre as 100. Porque isso?

Há alguns anos, montar uma banda de rock era o sonho de jovens que queriam expressar seus sentimentos. Hoje basta fazer vídeos no youtube. Além de ser mais barato, não incomoda os vizinhos. Além disso, o rap parece ser uma expressão de rebeldia mais autêntica, voz direta do povo da periferia. O rock, em sua maioria, é expressão de homens brancos de classe média. Sem o apelo da rebeldia juvenil, o estilo musical perde seu apelo.

Marcado como:
comportamento / música