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BRASIL

O mundo faliu: os oito homens mais ricos do planeta têm renda equivalente a 3,6 bilhões de pessoas.

EDITORIAL 16 DE JANEIRO | A Oxfam, uma entidade que reúne organizações não-governamentais, acaba de publicar um novo relatório sobre a desigualdade no mundo. Segundo os dados coletados pelo Credit Suisse e pela revista Forbes, os oito homens mais ricos do mundo têm um patrimônio equivalente à riqueza de toda a metade mais pobre da população mundial (cerca de 426 bilhões de dólares).

O relatório, publicado hoje por ocasião da abertura do Fórum Mundial Econômico de Davos, traz ainda uma série de outros dados alarmantes sobre o estado atual e também a evolução passada e futura da concentração de renda no mundo.

Ao que tudo indica, o abismo social e econômico no mundo se ampliou porque a China e a Índia, países com mais de 1 bilhão de habitantes cada, tiveram uma piora significativa na distribuição de renda no último ano, fazendo com que a situação da metade mais pobre do mundo ficasse ainda pior do que o previsto.

Ainda segundo o relatório, muito em breve, o mundo terá o seu primeiro trilionário, ao mesmo tempo em que a renda dos mais pobres deve seguir caindo nos próximos anos.

Os mais ricos do mundo são todos homens, brancos e moradores do hemisfério norte. No topo da lista está Bill Gates, fundador da Microsoft; em segundo lugar, Amâncio Ortega, fundador da rede de lojas Zara, conhecida por utilizar trabalho escravo e infantil em suas confecções; em terceiro está Warren Buffett, conhecido megaespeculador mundial; em quarto, Carlos Slim Helú, megaempresário mexicano das telecomunicações; em quinto, Jeff Bezos, fundador da Amazon; em sexto, Mark Zuckerberg, criador do Facebook; em sétimo, Larry Ellison, presidente da empresa de softwares e tecnologia Oracle; e por fim, Michael Bloomberg, ex-prefeito de Nova Iorque e empresário da área de comunicação e finanças.

O relatório qualifica a situação da distribuição de renda no mundo como “além do grotesco”, e alerta que a crise social decorrente da má distribuição de renda deve ser o grande fator de instabilidade global nos próximos anos. “A saída do Reino Unido da União Europeia, o sucesso da campanha eleitoral de Donald Trump, o aumento preocupante do racismo e a desilusão generalizada com a elite política são sinais de que mais e mais pessoas nos países ricos não estão mais dispostas a aceitar o status quo”, afirma o relatório.

Entre os países que melhor distribuem renda no mundo estão, nesta ordem: Noruega, Luxemburgo, Suíça, Islândia e Dinamarca. Neste ponto, a entidade faz questão de afirmar que o crescimento da desigualdade não é uma “lei de aço do capitalismo”, mas uma questão de fazer as escolhas certas em política econômica.

É aqui que o relatório da Oxfam tem que ser analisado criticamente. A existência desses “oásis sociais” no mundo acaba induzindo os autores do relatório a um erro. Na verdade, a concentração de renda é sim uma “lei de aço” do capitalismo. Ela tem sido observada desde a formação do sistema e segue operando com toda a força. Se não fosse assim, não chegaríamos ao ponto que chegamos em termos de concentração de renda.

Concentrar riqueza e renda faz parte da própria natureza do sistema capitalista. Além disso, não devemos esquecer que o capitalismo é um sistema mundial, e a distribuição de renda só pode ser calculada mundialmente. A existência de “oásis sociais” no mundo não demonstra a viabilidade de algum tipo especial de capitalismo ou de alguma saída para esse sistema.

Ao contrário, a dinâmica geral do capitalismo é determinada mundialmente, pela produção e pelo comércio mundiais. Esta produção e este comércio levaram o mundo até a barbárie social em que nos encontramos hoje. Se esta barbárie não for parada, o abismo social mundial tende a se aprofundar.

A direita, claro, sempre terá alguma besteira a dizer, mesmo diante de dados tão contundentes.

Mark Littlewood, diretor geral da ONG Instituto de Assuntos Econômicos, afirmou: “De novo, a Oxfam saiu com uma relatório que demoniza o capitalismo, ignorando convenientemente o fato de que o livre-mercado ajudou mais de 100 milhões de pessoas a saírem da pobreza somente no último ano”.

Na verdade, o relatório da Oxfam responde indiretamente a esse argumento, mostrando que entre 1988 e 2011 a renda dos 10% mais pobres aumentou em cerca de 65 dólares, enquanto a renda dos 1% mais ricos aumentou em 11.800 dólares, ou seja, 182 vezes mais.

Sobre o futuro, a Oxfam afirma que a desigualdade tende a crescer nos próximos anos. Se nada for feito, dentro de 20 anos, 500 pessoas terão um patrimônio de 2,1 trilhões de dólares, um montante igual ao PIB da Índia, país com 1,3 bilhões de habitantes.

Dados como como esses do relatório da Oxfam servem para desmascarar mais uma vez a farsa do capitalismo. Eles mostram que o verdadeiro objetivo do sistema não é a produção de riquezas, de mercadorias, bens ou serviços. Isso é apenas o que os capitalistas dizem.

O verdadeiro objetivo do sistema é a reprodução do próprio capital, quer dizer, o enriquecimento daqueles que já são ricos, mesmo às custas do empobrecimento ainda maior dos que já são pobres.

Um sistema que produz uma tal desigualdade não merece existir. Está falido, morto. Mas na história das sociedades, os mortos não saem de cena voluntariamente. Resistem, se debatem. É preciso quem os enterre, à força. Grande cataclismas sociais e políticos se avizinham.