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BRASIL

Três consequências do aumento das tarifas no transporte público

EDITORIAL 06 DE JANEIRO | Janeiro. Ano novo, velhos problemas. Prefeitos e governadores anunciam o aumento das tarifas do transporte público em pelo menos seis capitais. Com o peso da crise, muitos municípios ultrapassaram todos os limites do bom senso.

Este tema tem dimensão nacional porque para conseguir implementar o arrocho da PEC 55 e os acordos entre Municípios, Estado e União a redução de despesas tem que ser radical. Os aumentos nas tarifas são o “passe livre” para os empresários cobrarem dos trabalhadores e da juventude a compensação por possíveis quedas nos subsídios.

Quando se fala em tarifas de ônibus um aumento de centavos já pesa nas contas do final de mês. Neste ano chegamos ao absurdo de ver um aumento de R$ 1 real nas tarifas, como ocorreu em Brasília, onde o valor do bilhete do metrô e de algumas linhas de ônibus passou de R$ 4,00 para R$ 5,00 reais.

Belo Horizonte, Florianópolis, Campo Grande, Salvador e Teresina também anunciaram aumentos nos preços. Não se pode falar em reajuste, não é uma simples adequação de preços. Na capital paulista o valor da passagem não subiu, mas a integração teve aumento de até 50%. Ou seja, o maior prejudicado é o morador da periferia, que precisa pegar dois ou três conduções para chegar ao centro.

O transporte é um direito social, portanto o aumento das tarifas afeta em variados aspectos a vida da população. Neste editorial apresentamos a você, jovem ou idoso, estudante e/ou trabalhador, usuário ou não do transporte público três consequências sociais do aumento das tarifas:

Aumenta a evasão escolar

Os dados do Censo Escolar 2015 mostram que 1,6 milhão de jovens de 15 a 17 anos estão fora da escola, apenas 56,7% dos jovens brasileiros terminam o ensino médio na idade adequada. Uma das maiores causas da evasão escolar é a distância até o local de estudo e a falta de transporte escolar.

No ensino superior o mesmo problema também afeta os jovens. A falta de condições de permanência estudantil leva muitos universitários a deixar o curso superior ou o curso técnico. Neste caso o valor do transporte também pesa muito no orçamento mensal.

O passe livre e meio passe estudantil existem em algumas capitais, mas é restrito e, em geral vem reduzindo com o tempo.

Apenas a título de exemplo vejamos o caso do Rio de Janeiro. Há 15 anos atrás, qualquer jovem estudante usava o transporte público com facilidade para ir à escola ou a qualquer atividade de cultura e lazer. Para isso bastava estar vestindo o uniforme. Isso mesmo! Qualquer estudante com uniforme usava de graça o transporte público. Hoje isso é impensável na grande maioria das capitais brasileiras.

Restringe o direito ao lazer e à cultura

Ir à uma praça, um museu, ou, se estiver no litoral, passar o dia na praia parece aparentemente ser uma atividade de lazer acessível a todos, afinal são locais públicos. Na prática não é bem assim que funciona. Vejamos alguns exemplos.

Para ir à praia em Florianópolis uma família de quatro pessoas passará a gastar só de transporte R$ 31,20.  Para visitar a Lagoa da Pampulha em Belo Horizonte uma família que mora na capital terá que gastar R$ 32,40. O valor pode ser muito maior se tiver que pegar dois ônibus ou o metro.

Assim um passeio num local público, que em tese deveria ser acessível a todos, é cada vez mais distante da grande maioria da população. O aumento do transporte afeta a vida na cidade, restringe o lazer, a cultura e o acesso à um patrimônio que deveria ser de todos.

Enriquece os empresários do transporte

Vejamos o aumento de 2017 mais de perto. Na capital paulista a integração aumentou em 50%. Em Salvador a passagem foi de R$ 3,30 para R$ 3,60, subiu 9,09%. Em Brasília a tarifa teve aumento de 11% nas linhas auxiliares do BRT, 16% nas linhas metropolitanas e 25% no metro e nas linhas metropolitanas mais longas. Em Belo Horizonte o reajuste médio foi de 9,04%.

Em todas as capitais o aumento superou muito a inflação do período na cidade.

Assim os empresários do transporte que já lucraram muito em 2016 pretendem lucrar mais ainda em 2017. O ramo é controlado por grandes empresas familiares que apoiadas em concessões de décadas recebem subsídio público, oferecem um transporte de péssima qualidade e ainda tem lucro garantido.

As empresas alegam que os seus lucros estão caindo. Ainda que isso seja verdade, embora os números das planilhas sejam totalmente questionáveis, estamos falando de lucros e não de prejuízos. Em tempos de crise, onde fica agora o discurso de que cada um deve fazer a sua parte? Qual é a parte dos empresários do transporte? Até aqui nenhuma. Mais uma vez os custos da crise vão para o andar de baixo.

Organizar a resistência

Em várias cidades do país estão sendo organizados protestos para questionar os aumentos. Até mesmo a justiça questionou a legalidade dos reajustes no Distrito Federal, em Guarulhos e em Campo Grande. Em Belo Horizonte ocorreu um protesto na última terça feira, dia 3. Nesta quinta feira, dia 5 moradores de Diadema protestaram contra a cobrança de taxa em ônibus intermunicipal. O próximo GRANDE ATO CONTRA O AUMENTO já está marcado para o dia 12.