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BRASIL

Brasil: A terra do tupiquinim em depressão

Por: Vitor Diego, Rio de Janeiro, RJ

A conjuntura brasileira

O Brasil vive nos últimos meses uma onda conservadora real. Golpe derrubando a Dilma e um governo interino, completamente esquizofrênico, ataca diariamente os trabalhadores.

As mídias burguesas propagam cada vez mais a ideologia capitalista e a classe média fantasiada e iludida com a burguesia. Muitos são os fatores que fazem com que o país esteja inserido nesse processo conservador.

Os governos atuais, e os que irão assumir já na semana que vem as prefeituras e estados, começam agora a mostrar as suas garras. Eles irão implementar o mais do mesmo, a exemplo do Rio de Janeiro e São Paulo. Ambos os futuros prefeitos apresentaram os nomes de suas secretarias, nomes antigos, corruptos, bandidos e que compunham a velha política de favores.

A calamidade pública propagandeada pelos governos estaduais e municipais para o não pagamento dos servidores revela um único objetivo: a precarização total dos serviços visando a terceirização e privatização dos setores sociais.

Sabe-se que com a precarização de hospitais, escolas e universidades do setor público, com a prerrogativa de que não existe dinheiro para manutenção estrutural e de servidores, se abre as portas para leilões milionários e terceirizações.

O governo FHC na prática fez o que os governos atuais fazem. Hoje vemos que a privatização é algo de extrema burrice³, já que, num intervalo de tempo o próprio governo acaba tendo que injetar dinheiro público para salvar essas empresas.

A PEC 55 é um dos maiores ataques ao desenvolvimento econômico e social do Brasil. Foi vendida como salvadora através de banquetes e manobras políticas, como a de Renan que negou uma sentença¹, foi aprovada com grande decoro. Uma emenda absurda. Todos os meios internacionais apontaram os erros da PEC do Fim do Mundo.

Isso mostra um grande despreparo do governo vigente que só faz pensar no seu próprio bem-estar, com empresários esses que formam o governo. É preciso de um artigo inteiro (o que já tem bastante) para falar da PEC.

As reformas propostas pelo governo golpista Temer, tentam sem nenhum senso de justiça derrubar direitos conquistados há mais de 60 anos pelos trabalhadores.
O interesse deste governo em forçar o trabalhador a procurar uma previdência privada, atacando a CLT com a premissa de “modernização” e dando ao patrão o direito de coagir seu funcionário são uma afronta muito grande aos trabalhadores.

Impressões, vontade e luta

O que esperar numa conjuntura dessas da esquerda?

Na visão de um trabalhador, com alguma formação política, residente de uma favela na Zona Norte do Rio de Janeiro: Muitas coisas.

Existe hoje, um problema no diálogo entre a esquerda e a população. Parte pela derrocada moral do PT nesse último ano, e parte por certa resistência da própria esquerda em se aproximar da população – seja por política pouco prestativa no sentido de um morador de favela levar a sério ou por se concentrar em nichos como as universidades.

Em um certo comício do Freixo, feito na própria Zona Norte, notava-se a presença massiva da base universitária que compôs a campanha de Freixo e pouco da população da região. Nas ruas, em momento de debate, notava-se pouco a presença de Freixo na voz do povo e muito mais a de que iriam votar nulo.

É claro que conseguir a quantidade de votos que o Freixo conseguiu numa conjuntura como essa é uma vitória a ser comemorada, mas a questão que sobressaiu na visão desse trabalhador é: Perdemos realmente para o nulo?

Em um momento em que a direita cresce desordenadamente nas massas através de propaganda das mídias e nas redes sociais, onde o trabalhador se vê representado por burgueses travestidos com discursos evasivos, a esquerda se vê sendo um nicho muito específico.

Alguns trabalhadores organizados através dos seus sindicatos vão às ruas e compõe atos de cinco a dez mil pessoas, e são fortemente reprimidos. Os grandes sindicatos ainda são do PT. Estes já se renderam ao sistema burguês de governar, ajoelhando-se aos primos PMDB e PSDB.

A CUT hoje não representa realmente os interesses da população, e sim, vende um lulismo enfadonho. Puxa coro para as eleições de 2018 e negligencia toda a luta atual da esquerda contra o governo.

A população é bombardeada de informações falsas. Alarmada com discursos de que o Estado não tem dinheiro e que a corrupção é uma seção exclusiva do PT. Enquanto isso, o próprio Partido dos Trabalhadores mostra à população que não há uma real saída que não seja pela eleição do Lula em 2018.

Ademais, temos uma esquerda fragilizada por culpa do PT, o PT exercendo seu papel retardatário com a população e uma tentativa de blindagem e personalização de um quadro político que é o Lula.

A lei do desenvolvimento desigual e combinado talvez possa ser aplicada no sentido de que temos uma população fragilizada e com acesso online de informações, ao mesmo tempo em que as mídias televisivas representadas aqui por Globo, Record, Band e SBT propagandeiam a Lava Jato como a saída mais provável para limpar o Brasil.

As mídias sociais como o Facebook e o Youtube também ganham forças entre a população. Os partidos burgueses financiam iniciativas como MBL e Mamãe Falei para atacar as ocupações e as manifestações estudantis, como ocorreu neste ano.

Desta maneira, a população ao mesmo tempo em que usa dos mais avançados recursos de informação, que é a própria internet, também é capturada pelos velhos barões da política com esses mesmos recursos.

É preciso um diálogo real da esquerda com o proletariado. Chamar o povo para atos durante a semana, e em horários de expediente é um erro muito grave. Acreditar que o trabalhador tenha total disponibilidade é um completo erro. Trotsky já nos ensinou que a revolução é um conjunto de fatores extraordinários que acontecem numa conjuntura extraordinária.

A esquerda precisa trabalhar nesses fatores e fazer com que cada vez mais eles sejam alcançáveis. Isso só se dará no momento em que o trabalhador de marketing, do comércio e das fábricas sentirem que a luta é o único caminho para a mudança e isso só se conquistará através de uma longa jornada de ganho de consciência.

Os militantes precisam saber ouvir e dialogar. A consciência da massa precisa ser disputada nos pormenores. A fórmula para ganhar o máximo da consciência dos trabalhadores já foi nos passada anos atrás por Marx, Engels, Trotsky, Lenin e até mesmo Moreno. Levar a luta de classes, a dúvida e o questionamento só se consegue através da disputa no trem, com os amigos e as pessoas em seu meio social.

O militante deve falar, mas muito antes disso, deve saber também escutar. O sectarismo é um mal a ser combatido dentro do movimento. A população mais “politizada” sente que a esquerda é preenchida de arrogantes e blasfêmicos, por culpa do movimento, por culpa da postura arrogante e da falta do ouvir.