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BRASIL

Em 2017, paz entre nós, guerra aos senhores

Por Carlos Zacarias de Sena Júnior, Colunista do Esquerda Online

Pretendia dedicar meu último artigo do ano, justo este que sai publicado na noite em que boa parte do mundo comemora o Natal, para falar de paz, amor e esperança, mas devo pedir desculpas aos leitores, mas não sou capaz. Então sugiro a quem começou a ler esta coluna e que pretende entrar no clima para as festas que marcam o final do ano, festas, sobretudo, das famílias que cultivam a tradição, que parem por aqui, pois não vou falar de concórdia e minha esperança, como a última que morre, anda bastante abalada em função do que foi o ano de 2016.

O leitor que me acompanha quinzenalmente nesta coluna, se chegou até aqui, está disposto a ir adiante, então vamos lá. Michel Temer e o Congresso Nacional nos roubaram os motivos do Natal. Sou daqueles que gostam das festas de fim de ano. Mesmo sem ser cristão, compraz-me ver como as pessoas comemoram fraternalmente a data quando se encontram, comem e bebem juntas, celebram a vida, cultivam o amor e a esperança e desejam a paz para o mundo. É verdade que nem sempre há sinceridade entre os membros de uma família que se reúne, mas não importa o quão pouco sincero sejam muitos encontros, pois prevalece um espírito festivo, de verdadeira alegria, que, no Brasil, tem a ver com a coincidência do verão e das férias estudantis e de boa parte dos trabalhadores. Mas este ano, ao que parece, será difícil celebrar.

Como posso falar de paz, amor e esperança se tudo o que vi nos últimos meses foi um convite à guerra, um chamado ao ódio, e uma persistente desesperança? Como posso esquecer que 2016 me fez sentir saudades do terrível 2015 e posso chegar a 2017 lembrando com nostalgia do ano findo? Como posso dormir tranquilo quando este governo e o Congresso, ambos golpistas, maculados por denúncias de corrupção, que acabaram de aprovar um Projeto de Emenda Constitucional que congela os gastos públicos por 20 anos, agora prepara uma absurda reforma da previdência que vai representar o maior ataque aos direitos dos trabalhadores da história do país? Como posso sorrir e celebrar a vida, se antevejo um futuro sem esperança para os meus filhos e os filhos de milhões de trabalhadores brasileiros?

Não, caro leitor, não posso desejar neste fim de ano o de sempre. Mas posso puxar os que estão próximos a um abraço amigo e cochichar ao pé do ouvido um convite para que nos preparemos para a guerra em 2017. Porque se amor não há, se paz não é possível, que pelo menos a vontade possa nos mover a resistir, a travar batalhas e a lutar como nunca antes. Lutar para que esse odioso governo venha abaixo, para que o Congresso renuncie em bloco e para que eleições gerais sejam convocadas, com base em novas regras. Se for assim, então seremos capazes de, em 2017, novamente celebrar um convite a paz, ao amor e a esperança.

Artigo publicado originalmente no Jornal A Tarde

Foto: Andre Penner(AP)