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MOVIMENTO

As ocupações estudantis e a resistência aos ataques do Governo Federal

Publicado originalmente na revista Paideia*

Desde que assumiu o governo através de um golpe parlamentar o presidente Michel Temer – apoiado por Rodrigo Maia (DEM) na Câmara dos Deputados, Renan Calheiros (PMDB) no Senado além dos grandes representantes do capital como, por exemplo, a Federação das Indústrias de São Paulo (FIEP), Rio de Janeiro (FIERJ), Agronegócio, Bancos e Meios de Comunicação – vem anunciando uma série de ataques aos trabalhadores e seus filhos.

Para agradar o sistema financeiro e garantir o superávit primário o governo aprofunda o processo de recolonização brasileira que reserva ao nosso país a tarefa de mero exportador de produtos primários (commodities) e plataforma para as multinacionais exportarem para a América Latina, tendo seus lucros remetidos ao exterior.

Os economistas da burguesia de plantão e charlatões em geral dizem que o Brasil quebrou e que é preciso tornar o país mais atrativo para os investimentos. Bradam aos quatro cantos que é necessário um “remédio amargo”; é preciso privatizar tudo, tornar as leis trabalhistas mais “flexíveis”, parar de gastar, tornar a mão de obra mais eficiente. O problema da crise é imediatamente jogado nas costas dos trabalhadores e da juventude. Dizem que os salários são muito altos, trabalhamos pouco e ainda nos aposentamos cedo demais. Isso tudo garante que os 0,9% dos mais ricos detenham até 68,49% da riqueza total do país.

Para garantir a acumulação de riquezas em períodos de crise os representantes da burguesia se utilizam de todos os métodos possíveis. É importante ressaltar que o governo Dilma (PT) também desferiu uma série de ataques aos trabalhadores, mas a burguesia sempre quer mais. Foi para isso que Temer foi colocado como presidente.

Logo no início de seu mandato anunciou uma série de privatizações. Colocou em prática a proposta de Dilma do Projeto de Lei Complementar 257. Foi além e lançou uma proposta de alteração da Constituição limitando por até 20 anos os investimentos públicos, a PEC 241; encomendou uma Reforma da Previdência aumentando a idade de aposentadoria e contribuição e encaminhou por Medida Provisória uma Reforma do Ensino Médio que ataca brutalmente a educação pública, os estudantes e os trabalhadores em educação. Essa Reforma foi a gota que faltava para o copo transbordar. E transbordou…

O sentimento de indignação e a necessidade de lutar vieram à tona. Acabou a paciência! Os trabalhadores começam a discutir a necessidade de uma greve geral, porém, nem todas as direções estão dispostas a isso. As centrais batem cabeça. Os estudantes mostram o caminho. Mais uma vez o Paraná se torna o epicentro das lutas. No dia 03 de outubro o Colégio Estadual Padre Arnaldo Jansen em São José dos Pinhais é ocupado. Após essa ocupação uma série sacode o Paraná chegando a seu ápice com aproximadamente 900 escolas ocupadas.

Essa atitude dos estudantes torna-se exemplo para outros estados que começam a ocupar ampliando a pauta para a luta contra todos os ataques e envolvendo não só os secundaristas, mas também os universitários ocupando universidades e institutos. No dia 17 de outubro a educação básica do Paraná entra em greve fortalecendo a luta contra os ataques.

Os estudantes secundaristas do Paraná demonstraram muita capacidade de organização. As oficinas e os debates organizados diariamente nas ocupas trouxeram o domínio e a amplitude dos ataques organizados pelo governo, além de ampliar a forma de ver o mundo e de se inserir nele como seres transformadores demonstrando qual deve ser realmente a reforma da educação. E os debates não ficaram somente na educação, se estendem a que tipo de sociedade os filhos dos trabalhadores e seus pais precisam.

Os debates tomavam corpo a cada dia, as manifestações de rua também, a logística de garantia de mantimentos funcionou muito bem, a solidariedade entre os estudantes das diversas escolas e também entre os trabalhadores mostrou que é possível a unidade entre o movimento dos trabalhadores e o movimento estudantil. É possível e necessário unificar as lutas. As várias noites e madrugadas lutando contra a raivosa direita que não se conformava com a luta contra seus planos e tentava desocupar as escolas a todo custo mostrou que temos que debater seriamente a questão de segurança em nossos movimentos. Eles também não estão para brincadeira.

Os estudantes fizeram sua parte e fizeram muito bem. Deram um grande exemplo ao Brasil e ao mundo. Demonstraram que também aprenderam muito com o 29 de abril e que estão dispostos a resistir sem titubear um só segundo. Organizaram coletivos, cordões, reuniões estudantis reapareceram e a luta está sendo pautada com entusiasmo. Ocuparam Câmaras de Vereadores, Prefeituras, Núcleos de Educação. O governo Temer sentiu a força desse movimento. Mas só os estudantes não bastam.

A categoria dos trabalhadores em educação não unificou a luta. A Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) não chamou a greve geral ,o que naquele momento seria mais uma arma para golpear o governo e, ao mesmo tempo, fortalecer as ocupações. As centrais sindicais foram incapazes de acordar uma data em comum. Por fim, no dia 31 de outubro a greve dos educadores é encerrada jogando um balde de água fria nas ocupações e na tentativa de uma unidade na luta. Os dias nacionais de greves, paralisações e mobilizações foram fracos e mostraram novamente que nem todos estão dispostos a construir.

O PLP 257 é negociado com os governadores e é aprovado. A PEC 241 é aprovada com folga em primeiro e segundo turno na Câmara dos Deputados, vai ao senado com o nome de PEC 55 e também é aprovada com facilidade. A voracidade da burguesia é tanta que o governo manda reprimir brutalmente mais de 30 mil estudantes e trabalhadores que se manifestavam em frente ao Senado. Bombas de gás lacrimogêneo, spray de pimenta, balas de borracha, cassetetes, cavalaria e helicópteros provam que não é somente Beto Richa (PSDB) que assume o risco de matar para garantir seus ataques. Essa é a lógica do capital.

Assim como os lutadores do 29 de abril, os manifestantes do 29 de novembro lutaram bravamente com todas as suas forças e enfrentaram de cabeça erguida a brutalidade do Estado. Agora não eram somente paranaenses. Lutadores de norte a sul do país estiveram lado a lado para defender seus direitos. E saíram do campo de batalha com uma única certeza. Só a luta muda a vida!

Parabéns aos estudantes! Parabéns aos trabalhadores que entenderam a necessidade da luta unificada! Precisamos avançar muito mais e o faremos, pois como diz uma música de uma banda que gosto muito: O futuro nos pertence!

 

*Por Rodrigo Tomazini, Curitiba, Paraná

Para o Site e Blog de Filosofia e Sociologia do Colégio Estadual do Paraná

Endereço da revista Paideia: http://projetopaideia.wixsite.com/projetopaideia/revista-paideia

Endereço do artigo de opinião: http://media.wix.com/ugd/e84b17_c795a498288240eeb434731dca90c080.pdf

Foto: Escola ocupada em Curitiba no mês de outubro, retirada em https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Escola_ocupada_em_Curitiba.jpg