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Colunas

Um diálogo necessário com a esquerda socialista

André Freire

Historiador e membro da Coordenação Nacional da Resistência/PSOL

O MAIS propõe um diálogo ao conjunto da esquerda socialista brasileira

Por: André Freire, Colunista do Esquerda Online

Nos dias 3 e 4 de dezembro, o MAIS – Movimento por uma Alternativa Independente e Socialista – realizou sua terceira reunião de coordenação nacional, desde sua fundação como organização política independente.

Esta reunião foi de grande importância para a nossa jovem organização, pois ela convocou nosso I Congresso Nacional para abril de 2017, definindo sua pauta e principais debates. E, estão entre estes importantes debates, a definição mais nítida de nossas bases programáticas e a nossa política para o que chamamos de “um processo de crise e reorganização no interior da esquerda socialista brasileira”. Sobre este segundo tema, dedico estas poucas linhas.

Acreditamos que os contornos políticos e os desdobramentos do Impeachment do governo de conciliação de classes de Dilma e do PT, para nós, uma manobra reacionária do parlamento brasileiro, chefiada pelos principais partidos burgueses da velha direita, gerou muita perplexidade e confusão na classe trabalhadora, atingindo a esquerda de conjunto.

É sabido que muitos ativistas e organizações já tinham entendimento sobre os limites dos governos petistas, que eles nunca romperiam com uma política econômica que garantisse a preservação dos lucros exorbitantes das grandes empresas e bancos, se limitando a pequenas doses de políticas sociais compensatórias.

Mas, é um fato, hoje inconteste, que o processo de crise e decadência do PT não gerou, pelo menos até o momento, uma alternativa realmente da classe trabalhadora e socialista que tivesse condições de ser vista como uma saída pela maioria do povo trabalhador e pela juventude.

Houve sim um fortalecimento relativo do PSOL nos últimos anos e, em especial, nas últimas duas eleições e como desaguadouro partidário da maioria das rupturas à esquerda com o petismo. Mas, ainda é precipitado afirmar que o PSOL já é essa alternativa posta.

De fato, vale ainda a máxima que hoje nenhuma organização sozinha, por mais acertos políticos que tenha, pode se arvorar ser ela própria uma alternativa acabada para o processo de crise e degeneração do PT.

Será neste contexto complexo que a esquerda socialista deverá atuar nos próximos anos. Em nossa humilde opinião, lutando para construir uma alternativa de independência de classe, que negue a velha direita e seu governo ilegítimo, mas que seja também uma superação do projeto de conciliação de classes do PT.

Nas lutas contra Temer e seus brutais ataques, devemos insistir na necessidade de uma frente única para lutar, com o objetivo de defender os direitos da classe trabalhadora e da maioria do povo. Nessa frente única devem estar todos os movimentos, partidos de origem na classe trabalhadora e entidades que querem derrotar as reformas reacionárias e o ajuste fiscal, independente de suas direções.

Mas, seria um erro grave insistir em construir uma alternativa política para o país junto com a direção petista. A política da direção do PT e do PCdoB é construir o que eles chamam de “frente ampla”, um nome novo para uma mesma política requentada de se aliar com setores da burguesia para aplicar um programa de continuidade econômica, e que já mostrou fracasso nos últimos anos.

O fato de alguns governadores petistas estarem negociando nesse momento um pacto pelo ajuste com o presidente Temer e a postura do senador petista Jorge Viana defendendo o mandato de Renan na presidência do Senado são mais dois exemplos do grave erro que seria apostarmos em uma alternativa política em conjunto com a direção do PT.

Nossa saída política deve ser outra. Desde já, queremos construir uma nova proposta de verdade, uma Frente de Esquerda e Socialista, uma alternativa de independência de classe, formada pelo PSOL, PSTU, PCB, organizações socialistas sem legalidade e movimentos sociais combativos.

Um chamado particular à esquerda marxista revolucionária
No calor dos acontecimentos da luta de classes, entendemos que seja uma tarefa importante no próximo período buscar permanentemente a superação da fragmentação da esquerda marxista revolucionária em nosso país. Desde o nosso lançamento, deixamos bem nítido que não entendíamos o MAIS como uma organização acabada em si, e muito menos que seríamos os únicos revolucionários brasileiros.

Mas, mesmo tendo essa localização, avaliamos que não temos jogado todo o peso necessário nessa importante tarefa. Portanto, queremos intensificar essa política nos próximos meses e, especialmente, no ano que vem, onde se completa o centenário da Revolução Russa de 1917, uma grande referência para a esquerda socialista e revolucionária em todo o mundo.

Nossa proposta é estabelecermos um diálogo permanente com todos os ativistas e organizações que estejam dispostos a lutar cotidianamente pelo programa da revolução socialista, pela independência política dos trabalhadores, pela democracia dos trabalhadores nos sindicatos e entidades dos movimentos sociais combativos, pelo internacionalismo proletário, pela luta contra todo tipo de exploração e opressão, pelo respeito e a solidariedade entre os militantes e organizações marxistas, entre outros pontos programáticos.

Enxergamos um espaço amplo, que pode se ampliar no próximo período, mesmo com todas as dificuldades da realidade brasileira, para a construção de uma forte organização marxista e revolucionária em nosso país. Uma organização ainda de vanguarda, de alguns milhares de militantes, mas que tenha força para intervir decididamente em processos futuros de polarização da luta de classes.

Essa organização deve buscar superar dois caminhos equivocados, infelizmente, muito presentes na esquerda brasileira hoje. Um deles é apostar novamente numa via que já foi testada pelo PT, de rebaixamento programático e de conciliação com setores da grande burguesia, que de progressivos não têm nada, vide o desfecho “golpista” do Impeachment de Dilma.

E, também, superar a via da autoproclamação e do sectarismo, de organizações e correntes que se consideram as únicas revolucionárias e esperam toda e qualquer oportunidade para atacar e tentar destruir um oponente, mesmo que ele ou ela defendam a revolução socialista como estratégia. É necessário superar estas duas perspectivas, que, com sinais trocados, levam ao mesmo desfecho, ou seja, mais desmoralização e derrotas para os trabalhadores e a juventude.

Como dissemos, em nosso ato de lançamento – “Arrancar Alegria ao Futuro”, não temos uma proposta fechada para este processo, seria, inclusive, muita pretensão da nossa parte se tivéssemos. Mas, temos algumas sugestões iniciais para começarmos a trilhar juntos um caminho de superação da fragmentação dos revolucionários brasileiros.

Pensamos que um primeiro passo importante é nos articularmos em espaços comuns de atuação e discussão programática. Como são as “Frentes e / ou Blocos de Esquerda e Socialista”, que já existem em vários estados. Alguns foram lançados ainda antes da criação do MAIS. Nossa proposta, a partir dos limites de nossas forças, é nacionalizar a construção e o fortalecimento desses espaços fundamentais.

Nele devemos avançar na intervenção comum na luta de classes, se organizando para intervir conjuntamente nas lutas de resistência contra os ataques de Temer e de todos os governos e patrões. Discutir também a possibilidade de intervirmos conjuntamente nas entidades e movimentos sociais combativos, como a CSP-Conlutas e a Frente Povo sem Medo.

Além de espaços para organizar a intervenção comum, pensamos que neles devemos encarar o desafio de realizarmos discussões políticas e programáticas conjuntas. Por exemplo, organizar grandes atividades de comemoração e debates sobre o significado para a atualidade do centenário da Revolução Russa, ou também impulsionar a polêmica contra a saída petista da “frente ampla”, defendendo a construção de uma autêntica Frente de Esquerda e Socialista.

Para além da construção desses espaços comuns, temos o objetivo de, à medida que avancem os debates programáticos e nossa intervenção comum na luta de classes, estabelecer um diálogo mais profundo sobre a possibilidade da unificação dos marxistas revolucionários em uma mesma organização política.

Sabemos que os obstáculos são muitos. Desde as diferentes relações internacionais dos distintos agrupamentos, ou mesmo a relação a ter com os partidos legais anteriormente constituídos. Não desconhecemos as nossas polêmicas políticas e programáticas, nem as desvalorizamos, nem muito menos queremos escondê-las. Mas, acreditamos que a política correta e o nosso programa devem justamente surgir deste embate de tradições e ideias distintas.

Sabemos que são passos iniciais, ainda limitados, mas entendemos que essa jornada deve começar já, justamente com os seus primeiros passos. “O MAIS veio para somar”, acreditamos que essa expressão, esse trocadilho, meio brincalhão, deve virar política e iniciativas concretas.

Apesar de nosso pouco tempo de existência e dos limites de nossas forças organizadas, nos propomos a nos jogar nessa tarefa com ainda mais afinco no próximo período. Queremos convidar todos e todas que acreditam nesta perspectiva a que somemos forças. Mãos à obra!

Foto: I Seminário do Bloco de Esquerda Socialista em Fortaleza, composto pelo PCB, NOS, MAIS, Insurgência e LSR