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EDITORIAL

Equipe de Trump: o que esperar da Saúde, Educação, Habitação, Transporte e Justiça?

Por: Bernardo Lima, Belo Horizonte, MG

A equipe de secretários de Donald Trump está quase toda indicada e espera apenas a aprovação do Senado. Embora não seja nosso objetivo analisar qual o programa de ação do governo Trump, as indicações realizadas já nos permitem determinar algumas coordenadas sobre o que realmente pretende o novo presidente dos Estados Unidos.

Em dois artigos anteriores analisamos o que fazem e como pensam o novo estrategista-chefe da Casa Branca e o novo chefão da toda poderosa CIA. Uma análise do perfil daqueles que ficarão em posições muito valorizadas pela esquerda é chave para entender os rumos dos direitos sociais dos trabalhadores que vivem dentro do país.

Tom Price (Saúde), inimigo do Obamacare

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O médico e deputado pela Georgia Tom Price foi o indicado por Donald Trump para secretário de saúde. O político, filiado ao Tea Party, se destacou nos últimos anos como opositor do ObamaCare e de todo o tipo de serviço público e gratuito na área. Sua nomeação foi considerada pela imprensa norte-americana como uma clara intenção de pôr fim ao programa de Obama que tem um orçamento de mais de US$ 1 trilhão para o período entre 2016 e 2025.

O novo secretário também quer privatizar o Medicare, um seguro gerido pelo governo para pessoas com mais de 65 anos ou que tenham certas doenças graves. Além disso, como parlamentar, tem sido um perseguidor implacável da Planned Parenthood, rede de clínicas pró-aborto.

A indicação de Tom Price mostra que o novo governo aplicará a fundo uma agenda conservadora e privatista na saúde dos norte-americanos, restringirá ao máximo o direito ao aborto e à saúde pública e deixará todo o setor regulado diretamente pelo mercado.

Betsy DeVos (Educação): direitos LGBTs ameaçados e vouchers

 

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A Secretária de Educação de Trump é bilionária, “filantropa” da área educacional e uma das maiores doadoras para o Partido Republicano. Sua família, que inclui Eric Prince (fundador do grupo BlackWater), é conhecida por doar centenas de milhares de dólares a grupos que combatem o movimento LGBT e preconizam a “cura gay”. É uma apoiadora dos vouchers da educação. Trata-se de um repasse do dinheiro público da pasta para as instituições privadas, ou seja, é o Estado financiando as vagas nas escolas privadas ao invés de investir diretamente nas escolas públicas.

Os movimentos em defesa dos direitos humanos, em particular os LGBTs, demonstraram muita preocupação com sua nomeação. Temem que as últimas conquistas do movimento, como o direito das alunas Trans de frequentarem o banheiro conforme sua identidade de gênero seja revogada. A futura secretária, porém, tem evitado declarações sobre o tema e alguns veículos de mídia estão divulgando que ela mudou suas posições preconceituosas sobre os LGBTs.

Ben Carson (Habitação): negro, bem-sucedido e conservador

 

Retired neurosurgeon Ben Carson, left, talks to businessman Donald Trump prior to the start of the debate. The GOP Debate Hall at the Ronald Reagan Library. Wednesday September 16, 2015. Simi Valley, CA, USA (Aristide Economopoulos | NJ Advance Media for NJ.com)

Para a Secretaria de Habitação e Desenvolvimento Urbano o presidente eleito escolheu o neurocirurgião negro Ben Carson, seu rival nas prévias republicanas que, após retirar-se da disputa, declarou apoio a Trump.

O médico aposentado tem um currículo invejável na área da medicina. Fez a única separação bem-sucedida de gêmeos siameses ligados pela nuca enquanto ainda eram fetos. Além disso, foi o mais jovem chefe-cirurgião pediátrico da história do país. Recebeu mais de 60 títulos de doutor honoris causa e publicou mais de 100 publicações de referência em sua área.

Na política, porém, possui uma trajetória conservadora e obscurantista. Filiado do Partido Republicano, é presidente do My Faith Votes (grupo que encoraja os cristãos a votarem nas eleições segundo suas crenças) e adventista do sétimo dia. É abertamente contra o direito ao aborto. Acredita que o aquecimento global não tem relação com as ações humanas e já fez declarações associando os LGBTs à prática de pedofilia.

Apesar de sua agenda política claramente conservadora, não se sabe ao certo o que fará na área de habitação. Ao ser nomeado, falou em revitalização urbana e investimentos nas cidades do interior, mas não especificou ainda muito bem o que isso significaria. Ele não tem experiência na área e, aparentemente, foi nomeado mais para fortalecer o perfil do gabinete conservador de Trump do que por suas ideias sobre habitação.

Elaine Chao (Transporte): establishment na pasta de US$ 1 trilhão

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Donald Trump indicou Elaine Chao como Secretária do Transporte. Nascida em Taiwan, empresária, primeira mulher de ascendência asiática a assumir uma secretaria no país, ela tem uma larga trajetória na política e faz parte do establishment republicano. Foi secretária do trabalho de George W. Bush entre 2001 e 2009. Trabalhou na secretaria de transportes de Bush pai e é casada com o líder da maioria no Senado, Mitch McConnell.

Quando esteve à frente da pasta do trabalho ocorreu o desabamento da mina de Sago, que matou 11 trabalhadores da mineração. A secretaria foi acusada de não ter fiscalizado corretamente as minas antes do acidente. Também foi acusada de não apurar denúncias de empresas que pagavam salários inferiores ao mínimo legal.

A nomeação de Elaine Chao visa com uma tacada só agradar ao establishment republicano, garantir boas relações com o Senado e trazer os empresários do transporte para a pasta que, segundo as promessas de campanha de Trump, receberá US$ 1 trilhão para a construção de rodovias e pontes.

Jeff Sessions (Justiça): um preconceituoso no poder

 

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O Senador Jeff Sessions será o Attorney General (equivalente ao nosso Ministro da Justiça) da administração Trump. Um dos mais conservadores políticos norte-americanos, já esteve à frente da Justiça do Alabama, mas teve sua candidatura a Juiz Federal rejeitada devido às suas declarações contra organizações de direitos humanos.

No Senado, votou a favor do projeto de lei que considerava inconstitucional o casamento LGBT e se opôs ao fim da proibição de LGBTs nas Forças Armadas. Também foi contra considerar a violência lgbtfóbica como “crime de ódio”. Em diversas circunstâncias fez declarações xenofóbicas e contra os imigrantes, como quando disse numa entrevista de rádio que imigrantes são mais propensos a tornarem-se espiões quando servem às Forças Armadas.

Esse é o homem que terá grandes responsabilidades a frente da Justiça norte-americana. Tempos sombrios para as minorias, os imigrantes, os trabalhadores e todos aqueles que representam uma ameaça para sua visão conservadora de mundo.

Balanço das pastas: conservadorismo extremo e acenos aos políticos tradicionais

As cinco pastas analisadas acima indicam que, embora Trump tenha nomeado mulheres e um negro para sua equipe, é impossível esconder que realmente fará profundos ataques aos direitos das minorias e aos poucos direitos sociais que os americanos possuem.

Porém, ao mesmo tempo, elas mostram que o presidente está preocupado em não ser excessivamente “outsider”. Por isso, teve também o cuidado de fazer nomeações que buscam agradar os senadores e o establishment do Partido Republicano. Além dos nomes acima, como o da Secretária da Educação, da Habitação, do Transporte, este é também o sentido da indicação de Reince Priebus, presidente do Partido Republicano, para seu Chefe de Gabinete.