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EDITORIAL

Europa: Derrota da extrema-direita na Áustria

Por Vicente Marconi, de Frankfurt, Alemanha

A Áustria viveu uma nova edição de suas eleições presidenciais neste domingo (04\12). A  votação original foi em maio deste ano, mas foi anulada pela Justiça austríaca devido a denúncias de irregularidades no processo. Naquela ocasião, Alexander Van de Bellen, candidato independente (ligado aos Verdes) em uma coalizão de centro-esquerda venceu Norbert Hofer, do ultra-direitista Partido da Liberdade (FPO) por menos de 1% dos votos.

O FPO é um partido fascista, fundado por um ex-oficial da SS. É conhecido por seu discurso ultra racista e xenófobo, principalmente contra povos de origem muçulmana. Ultimamente, centra sua campanha política em ataques a imigrantes e refugiados. Este tema vem ganhando espaço na agenda política austríaca, uma vez que o governo já vinha endurecendo sua linha para imigração e asilo a refugiados. Organizações humanitárias já vinham denunciado essa dinâmica, desde o primeiro semestre desse ano. A perspectiva era que, no caso de uma vitória do FPO, esta situação se agravaria consideravelmente.

Hofer era tido como favorito para as eleições de ontem. Embalado pelo “efeito Trump”, além da vitória do Brexit e o crescimento da extrema-direita na França, o candidato do FPO já discursava como seria seu mandato. Seria o primeiro chefe de estado da União Européia diretamente ligado à ultra-direita.

No sábado, véspera da votação, um ato anti-racista (chamado por alguns de “Fuck Hofer”) reuniu mais de 5 mil ativistas na capital Viena. Com uma margem maior que a da eleição de maio, ampliada ainda mais nas áreas urbanas, a FPO foi derrotada. O resultado foi celebrado em toda a Europa como uma importante vitória contra o crescimento da ultra-direita e do populismo reacionário.

Porém, é necessário que se tirem as lições deste processo. A ultra-direita conseguiu capitalizar boa parte do discurso anti-establishment, e teve uma boa votação. O secretário-geral da FPO, Herbert Kickl, disse para a imprensa que “o establishment, que se opõe às mudanças necessárias no país, ganhou dessa vez”. Van de Bellen, o candidato vencedor, aposta em um discurso de conciliação de classes e submissão ao chefes da UE que não dará a resposta necessária para a classe trabalhadora austríaca sair da crise. Cabe à esquerda socialista construir um caminho de classe contra os ajustes fiscais, o racismo e em defesa das liberdades na Áustria. Caso contrário, só estará pavimentando o caminho para o fascismo voltar com carga total em um futuro não tão distante.

Foto: Ato em Viena – 03\12. (Fonte: Neue Linkswende | Socialist Worker.org)