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MOVIMENTO

O que vi e senti na Marcha a Brasília

Por: Leo Araújo, servidor público municipal de Belém, PA

Era um colorido de cores, raças e regiões. Os números falam entre 20 e 30 mil pessoas, mas nós nos sentíamos como se fôssemos todos os brasileiros ali. A passeata iniciou-se no Museu Nacional e foi até as portas do Congresso Nacional. Lá, como ocorre pelo menos em todos os atos que eu fui, o movimento anarquista, composto majoritariamente por pessoas muito jovens, muito jovens mesmo, começou a realizar atos mais radicalizados como virar um carro. Neste momento, a polícia parte com muita violência sobre todos. Eu vi logo eles atacando uma moça que protagonizou uma das fotos mais expressivas dessa marcha.

Eu com uma certa experiência imaginei que eles iriam reprimir o setor mais radicalizado, mas que deixaria os manifestantes pacíficos protestarem, assim era na época até do FHC. Ledo engano meu, eles partiram com tudo sobre todos, nos forçando cada vez mais a recuar, em uma nítida afronta ao direito de livre manifestação. Algumas pessoas que vinham sendo duramente atacadas começam a reagir também formando barricadas e queimando e quebrando o que podiam, extravasando um ódio que todos nós sentíamos, pois não entendíamos o por quê de partir para cima de jovens com tanta violência.

Gente, meu celular descarregou, mas eram praticamente crianças, como a minha filha, pensando que iriam exercer seus direitos democráticos, mas não foi isso que apreenderam.

A PEC foi aprovada no primeiro turno do Senado, mas a luta vai continuar agora mais forte e mais organizada. Apreenderam que o regime democrático de direito vem legitimando os mais duros ataques à sociedade brasileira. Seja no Judiciário, Executivo, ou Legislativo, tal fenômeno está se mostrando de forma mais aprofundada nesse governo de Temer. Como ele não tem legitimidade para o exercício do cargo, precisa da força para implementar os mais duros ataques aos mais desfavorecidos.

O que ocorreu no ato de ontem não foi uma reação em defesa do patrimônio público, ou da instituição. A correlação de força era extremamente favorável aos policiais. O setor que radicalizou era muito minoritário. O que ocorreu foi uma política deliberada, a política do medo. O governo não poderia permitir que um ato que reuniu entre 20 a 30 mil pessoas fosse pacífico, pois se isto ocorresse, nos próximos sempre dariam mais pessoas e, no final, venceríamos.

Portanto, a intenção de amedrontar o povo também era um dos objetivos de tanta truculência, mas pelo que senti o tiro saiu pela culatra, a juventude está ainda mais revoltada e agora estão voltando para suas ocupações em escolas e universidades. Lá, ao que me parece, o bicho vai pegar!