Por: André Freire, colunista do Esquerda Online
Vivemos um momento político fortemente marcado pelos ataques dos patrões e todos os governos contra os direitos da classe trabalhadora e da maioria do povo. O chamado ajuste fiscal tem como objetivo jogar todo o peso da crise econômica nos ombros do povo trabalhador, preservando os lucros exorbitantes das grandes empresas e bancos e os privilégios revoltantes dos políticos.
Um dos grandes exemplos desta política é a PEC 55 do Senado (ex-PEC 241 da Câmara), que congela por até 20 anos os investimentos sociais e, por exemplo, deixa totalmente livre a elevação do pagamento de juros e amortizações da dívida pública, que já hoje consome mais de 40% do Orçamento da União.
As medidas não vão parar por aí. Já está em fase de finalização uma proposta de Reforma da Previdência que vai mexer nos direitos dos aposentados e aumentar a idade mínima para acesso à aposentadoria. Também ao nível dos Estados e Municípios, os servidores públicos sofrem ataques com o congelamento, atraso, parcelamento e até tentativas de confisco de parte de seus salários.
Estas medidas draconianas exigem uma ampla unidade de ação, uma verdadeira frente única para lutar, entre todas as centrais sindicais, movimentos populares combativos e entidades estudantis, independente das direções políticas que estão à frente delas, para buscar fazer tudo o que tiver ao nosso alcance para frear esta verdadeira onda de ataques aos nossos direitos. Caso se imponha, vai significar uma piora ainda maior do nível de vida da maioria da população. Nas manifestações de resistência, sem dúvida, o objetivo deve ser unir todos que se oponham ao verdadeiro ‘pacote de maldades’ dos governos e dos patrões.
Não repetir os erros da direção do PT
Mas, para além da necessária unidade para lutar e resistir a estes ataques, outra discussão fundamental precisa ser feita abertamente entre os ativistas e os setores mais consciente da classe trabalhadora e da juventude. Qual alternativa política deve ser construída contra esse governo?
Nesse governo está a chamada “velha direita”. Ele é formado pelos partidos que representam diretamente os interesses dos grandes empresários, banqueiros e latifundiários, como o PMDB, PSDB, DEM, entre outros. Mas, afinal, temos que apostar em unificar todos os setores de oposição numa mesma frente política para, inclusive, preparar uma alternativa conjunta para as eleições de 2018?
Essa é a política da direção do PT, encabeçada, inclusive, pelo ex-presidente Lula. Querem nos fazer crer que o único caminho para os trabalhadores, a juventude, o conjunto dos oprimidos, os movimentos sociais combativos e as organizações da esquerda socialista é se disciplinar a uma nova frente, mais uma vez hegemonizada por uma política de alianças com setores do grande empresariado e seus representantes na política, para aplicar um programa que não rompa com nenhum pressuposto fundamental da política econômica aplicada pelos 13 anos de governo do PT, e que agora está sendo intensificada pelo governo Temer e Meirelles.
Infelizmente, a direção do PT não está nem um pouco disposta a rever a política que aplicou em seus governos. Não querem romper seus acordos com o grande empresariado, nem suas alianças com os partidos que representam a grande burguesia, como ficou nítido nas alianças eleitorais com partidos que articularam a manobra reacionária do Impeachment, nas últimas eleições municipais.
Nesse momento, inclusive, alguns governadores do PT cogitam assinar um pacto com Temer pelo ajuste fiscal. Um absurdo! Semear ilusões em uma refundação ou mudança qualitativa da política e programa do PT é colocar nossos movimentos e organizações em uma via que só vai gerar mais decepção para os trabalhadores e a juventude.
A direção do PT usa o nome Frente Ampla, o mesmo nome da frente política eleitoral que governa o Uruguai na última década – e que conta com ampla simpatia dos ativistas brasileiros. Mas, apesar de avanços mínimos pontuais também é uma aliança política de colaboração de classes, para tentar dar nova ‘roupagem’ ao velho e falido projeto político de governo da direção petista.
Por uma nova alternativa de esquerda e socialista
Nosso caminho deve ser outro, diferente e, em certo sentido, oposto a este. Temos que construir uma Frente de Esquerda Socialista, formada por todos os setores que se opuseram pela esquerda ao que foram os governos de conciliação de classes do PT e que hoje estão na linha de frente das lutas contra Temer e seus ataques. Um bloco que tenha como ponto fundamental de acordo lutar permanentemente pela independência política do povo trabalhador, contra toda a aliança com os representantes das grandes empresas e bancos.
Uma frente que apresente um programa com medidas realmente anticapitalistas, que atinja os lucros exorbitantes das grandes empresas e não aceite aplicar uma política econômica que mantenha intactos os interesses do grande capital em detrimento da miséria da maioria do povo.
Não será possível a construção de uma nova alternativa de esquerda e socialista sem uma negação e superação do que foi a experiência desastrosa dos governos do PT, que em última instância, explica, inclusive, a retomada da ofensiva da burguesia e de governos como o de Temer, o vice-presidente de Dilma.
Por outro lado, não entender a importância da construção desta frente de independência de classe, se autoproclamando como a única alternativa socialista ao PT é, de fato, não enxergar a gravidade e as dificuldades do momento no qual estamos vivendo.
Essa Frente de Esquerda Socialista deve ser constituída a partir dos partidos que fizeram oposição de esquerda aos governos do PT, como o PSOL, o PSTU e o PCB, movimentos sociais combativos, como o MTST, e organizações socialistas sem legalidade.
Quanto mais forte e decidida for esta frente, mais capacidade teremos para atrair para ela os trabalhadores e jovens que, de alguma forma, ainda acreditam no PT. Temos que ter a ousadia, inclusive, de intensificar o diálogo com setores da militância honesta do PT, para que rompam definitivamente com este projeto de conciliação de classes e construam coletivamente esta nova alternativa da classe trabalhadora, da juventude e da maioria do povo.
Esta é a importância deste debate e o tamanho do desafio que temos pela frente. É hora de ousadia. Não temos tempo a perder!
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