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BRASIL

O povo no país das maravilhas: O que se esconde por trás da inércia e o que não se enxerga através do espelho

Por: Alinne do Rosário Brito, de Macapá

 Introdução

 A conjuntura política do pós-impeachment no Brasil gerou a catástase a qual se busca compreender a história a que o país se afundou, se afogando em retrocessos fundamentalistas, arriscando a classificar até como o primeiro estado do positivismo (teológico). Além do sentimento de “traídos pela esquerda” e o horror às bandeiras vermelhas, se vive na letargia provocada pela farsa burguesa em que fomenta uma pseudo-esperança depositada nas urnas e na representatividade das cores verde e amarela, na exaltação a um patriotismo vinculado ao esporte, no amor futebolístico que cega a autocrítica sem associar a semiótica (CBF e corrupção). Assim como no conto “Alice no pais das maravilhas” esse artigo tenta metaforicamente entender o que seria esse mergulho introspecto no buraco,  na tentativa de se autoconhecer e a partir desta queda se erguer e se estruturar para se reorganizar para uma grande ação, bem como nos sugere a própria leitura política ao que se refere a esquerda.

 

  1. Por que o corvo se parece com uma escrivaninha?

 Apesar de inicialmente não se ter a resposta ao enigma lançado pelo chapeleiro, após ser muito questionado o autor do conto carol decide responder: “Porque pode produzir algumas notas, embora sejam muito chatas; e nunca é posto de trás para frente!”“never” (nunca)“raven” (corvo).Tal frase reverbera com o se diz  sobre a análise do discurso da própria esquerda que ao produzir a dialética acaba por incomodar um sistema, porém não se pode ser dita de outra forma.

Negar a realidade é se omitir de confrontar sua existência que aparentemente seria um desafio ao olhar infantil (pueril), mas que facilmente se desmitifica quando se percebe que quem não consegue responder são os que tecem uma crítica abrangente (conservadores).

A esquerda tem dificuldade de ser entendida pelas massas, dada a profundidade “complexa” de seu programa político, parafraseando Emicida: “esses boys conhecem Marx, nós conhece a fome”.

 

  1. Quem sou eu? Sou o que sou ou sou o que serei?

 Bem como a própria Alice ao ser questionada sobre quem ela era diante da lagarta e que responde ser Alice a lagarta afirma nem de longe você é quem diz ser! Nos  sugere que o próprio povo não se reconhece ate mesmo quanto povo. Que identidade foi pregada as massas? Como se enxergar em meios de uma história contada pelo capital acaba por virar uma verdade?  Como a esquerda pode responder a esse enigma? São perguntas necessárias para que a imersão do buraco aconteça.

O discurso de identidade perpassa pela descoberta intimista de quem você é despido daquilo que querem que você seja.  Para isso o proletariado necessita se enxergar através do espelho e perceber sua condição de explorado, se desfazendo do ideário ao qual foi doutrinado pelo Estado atrelado ao capital que o fez seintitular como um pequeno burguês.

No conto, a lagarta também afirma “para aquele que não sabe aonde vai, qualquer caminho serve” e desta maneira se segue acreditando nas “verdades” contadas pela burguesia, a modo de ser conivente com ações que só enfatizam a condição de explorados ao exemplo disto pode-se atribuir a Ascenção da direita conservadora nas disputas eleitorais dos municípios, que avançou com muito mais de mil prefeituras.

 

  1. Cortem-lhe a cabeça!

A Rainha de Copas em um momento de temperamento feroz violentamente condena Alice à decapitação, constrói um tribunal de júri, o qual testemunhos são descartados, bem próximos do que foi a Operação Lava-Jato. “A rainha ordena, primeiro a sentença, depois o veredito”.

Para isso a mídia cumpriu bem o seu papel, camuflando uma realidade que fortaleceu a necessidade de um impeachment e de todas as medidas adotadas pelo governo que se escondem atrás do discurso de crise e em nome dela eu justifico as reformas que retiram direitos e precarizam o que em linha gerais já são precarizados.

Deve se compreender também que não é qualquer cabeça quer é cortada, a rainha só corta de quem pode destituí-la de seus privilégios. Posso citar a passagem do conto onde um de seus soldados famintos come uma de suas tortas e que é submetido a essa punição e fora decapitado.

 

  1. Considerações

 Alice, ao perguntar quanto tempo dura o eterno tem a resposta do coelho: muitas vezes, só um segundo. Isso pode possibilitar a seguinte indagação sobre a inércia a que o povo tem se submetido.  Será que é eterna? As ações tem que se materializar para que essa inércia dure apenas um segundo? Sabendo que não estamos em uma avenida aberta para as mudanças de paradigmas e tão pouco favoráveis para a revolução, São sentimentos que acompanharam a desilusão com o PT, e porque não dizer com o que se acreditou ser de esquerda no Brasil.

Daí volto a afirmar a necessidade de se saber quem realmente é, de se localizar identitáriamente enquanto povo oprimido e explorado, para se trazer à tona uma realidade, a um estado de lucidez em que as massas visualizem a importância de se organizar seja em partidos ou em movimentos sociais para combaterem a obscuridade do buraco que o capital nos impõe.