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Qual o caráter político, econômico e de classe da Operação Lava Jato? (Parte 1)

Por: Euclides de Agrela, de Fortaleza, CE

As recentes prisões de Cunha Golpista (PMDB), ex-presidente da Câmara dos Deputados e Sérgio Cabral (PMDB), ex-governador do Rio de Janeiro, pela Operação Lava Jato, realizadas pela Polícia Federal a mando do Juiz Sérgio Moro, causaram uma verdadeira comoção nacional. O prestígio do Juiz Sérgio Moro e da Polícia Federal diante do povo em geral aumentou mais ainda depois dessas prisões.

Muitos ativistas, militantes e até mesmo dirigentes da esquerda socialista têm comemorado essas prisões como uma vitória do movimento de massas. Mas, como diz o velho ditado: esmola grande demais o cego desconfia. E é exatamente esta desconfiança que nos motivou a escrever a presente série de 3 artigos que serão publicados um por dia pelo Portal Esquerda Online até quarta-feira.

PARTE 1
As perguntas que não querem calar
Até agora a Operação Lava Jato tinha prendido apenas grandes dirigentes do PT, como José Dirceu, Antônio Palocci e Genoíno Neto e peixes pequenos de partidos burgueses menos importantes. Com as prisões de Cunha e Cabral, as perguntas que não querem calar são: Essas prisões sinalizam uma devassa nos quadros do PMDB, atingirá o governo Golpista, os figurões do PSDB e DEM, chegando até Aécio Neves, Geraldo Alckmin e José Serra, sem esquecer de Jair Bolsonaro (PSC)? Seria a Operação Lava Jato um golpe mortal na corrupção governamental no Brasil e o Juiz Sérgio Moro o “caçador de marajás” do século XXI?

Essas são perguntas chaves para entender o caráter da Operação Lava Jato, na medida em que, até agora, esta limitou-se, fundamentalmente, a fazer do PT e de seus quadros dirigentes os bodes expiatórios da corrupção governamental e das relações promíscuas entre políticos e partidos com empreiteiras, bancos e grandes empresas no que diz respeito a obras públicas, compras governamentais, processos de privatização e terceirização, tudo isso amalgamado com o financiamento privado de campanhas eleitorais, Caixa 2 e lavagem de dinheiro.

Justiça seja feita ao PT: o partido de Lula é um aluno do nível básico na escola da corrupção governamental. Neste terreno, os grandes partidos burgueses como o PMDB, PSDB e DEM são pós-graduados. O drama do PT é que, depois de generosos serviços prestados ao capital financeiro durante 14 anos dos governos de Lula e Dilma, a burguesia e o imperialismo resolveram pôr fim à sucessão de governos petistas da forma mais agressiva e desmoralizante possível, sem se limitar ao calendário eleitoral, através de um golpe parlamentar que levou ao impeachment da presidente Dilma e pode redundar, quase seguramente, à prisão ou, no mínimo, à inabilitação da candidatura de Lula a presidente em 2018.

Ainda no terreno da análise e da caracterização da Operação Lava Jato cabe perguntar: Por que o Supremo Tribunal Federal (STF) permite que um juiz de primeira instância, até então um ilustre desconhecido do grande público, assuma o papel de supremo juiz da corrupção política, partidária e governamental? Por que o STF não chamou para si essa responsabilidade e a deixou alegremente nas mãos de Sérgio Moro? Quem é Sérgio Moro? A quem ele presta contas? Quais seus interesses políticos? Quais suas relações com os poderes político e econômico? Por que o Ministério Público adquiriu tamanha força na Operação Lava Jato, particularmente no Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro?

Todas essas perguntas precisam ser debatidas e respondidas pela esquerda socialista com vistas a entender o significado, magnitude e objetivos estratégicos da Operação Lava Jato, na medida em que a bandeira do combate à corrupção está sendo usada habilmente para hipertrofiar o Poder Judiciário e a Polícia Federal, como parte de um processo de endurecimento do regime político que passa a adquirir traços cada vez mais autoritários.