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EDITORIAL

Mudanças no governo Syriza e novo ataque aos trabalhadores

Por: Miguel Sanches

No último fim de semana, de 5 e 6 de novembro, o governo Syriza e do partido de direita ANEL, liderado por Tsipras, foi remodelado. As mudanças deram-se com a passagem de alguns ministros para outros ministérios, como por exemplo a saída de Georges Stathakis do Ministério da Economia para o Ministério do Ambiente e Energia e a saída do titular deste último, Panos Skourletis, para o Ministério do Interior. Houve ainda a saída do ministro da Marinha Mercante, Theodoros Dritsas, do governo. Além destas mudanças, dá entrada para Secretário de Estado da Economia Stergios Pitsiorlas, e para Ministro da Economia Dimitris Papadimitriou, que preside desde 1986 a Levy Economics Institute do Bard College, no estado norte-americano de Nova Iorque. É importante lembrar que o ministro das finanças, Euclides Tsakalotos, mantêm-se no cargo, assim como os dois ministros que pertencem ao partido ANEL, que é parceiro de governo.

A remodelação é uma resposta do governo de Tsipras à sua impopularidade crescente, decorrente das medidas que têm vindo a aplicar. Algumas destas, mais graves, foram contra os pensionistas que já viram as suas reformas reduzidas por 12 vezes. Em resposta, tem ocorrido manifestações em Atenas, onde tem acontecido confrontos entre pensionistas e a polícia com uso de gás lacrimogênio e spray de pimenta. Esta reação da polícia gerou e agravou o descontentamento da população com o governo. As mais recentes sondagens dão 15% ao Syriza e 30% à Nova Democracia (partido de direita). Por outro lado, esta remodelação parece ter o objetivo de dar um novo fôlego ao governo para uma nova ofensiva sobre os trabalhadores, pensionistas e jovens.

Tsipras disse: “Temos a oportunidade de um novo começo que nos dará o ímpeto necessário para os últimos passos críticos de uma maratona que nos leve a dias melhores” e ainda “Temos de melhorar o que não funciona para mudar certas atitudes e tomar todas as medidas necessárias para tirar o país da longa crise econômica. Por isso, fizemos todas as alterações necessárias no gabinete”. Ou seja, a intenção é apresentar um governo renovado para acelerar as reformas negociadas com os credores que o Syriza se comprometeu a implementar no contexto do acordo internacional.

Nesse sentido, esta remodelação governamental obedeceu aos critérios de cumprimento, a todo o custo, do programa de austeridade. E os ministros que eram contrários a continuar com mais privatizações nos ministérios que tutelavam, como era o caso de Panos Skourletis, ex-ministro do Ambiente e Energia, e de Theodoros Dritsas, ex-ministro da Marinha Mercante, foram retirados dos ministérios. Além do afastamento dos seus opositores, Tsipras colocou no governo personagens como Stergios Pitsiorlas, que era o responsável da agência grega para as privatizações. As privatizações das companhias de eletricidade (DEI) e da água (EYDAL) e a flexibilização das relações trabalhistas são algumas das medidas exigidas pelos credores. Dessa forma, fica claro que a prioridade máxima do governo de Tsipras é fechar a segunda avaliação do programa de “resgate” que está a acontecer, para poder ter acesso a 6.110 milhões de euros e prosseguir no caminho de ‘bom aluno’ da União Européia.

Tsipras tem utilizado o argumento de que é necessário fazer estas últimas reformas para depois poder colocar o debate da renegociação da dívida grega. Esta também tem sido a posição defendida por François Hollande. No entanto, Wolfgang Schäuble, o ministro das Finanças alemão, já deixou claro que a questão da dívida grega só será discutida em 2018. Diante disso, a resposta dos trabalhadores e das trabalhadoras à austeridade e à promessa de Tsipras sobre a renegociação da dívida, tem sido dada na rua. Já está marcada uma greve para o dia 24 de novembro pelo Sindicato do Funcionalismo Público (ADEDY), com um apelo ao setor privado e aos pensionistas para que se unifiquem.

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grécia / syriza / tsipras