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EDITORIAL

Duelo macabro nos EUA

A turbulenta eleição presidencial dos EUA terá seu desfecho nesta terça-feira (08). De um lado, o magnata do setor imobiliário e estrela de reality show, o republicano Donald Trump. De outro, a democrata Hillary Clinton, candidata estreitamente vinculada ao establishment [elite política e econômica].

Por fora dos dois grandes partidos, há centenas de outros candidatos, mas apenas dois nomes aparecem nas pesquisas de intenção de voto: o direitista Gary Johnson, do Partido Libertário e a candidata da esquerda Jill Stein, do Partido Verde.

Após as denúncias vazadas pelo FBI contra Hilllary na semana passada, Donald Trump viu as chances aumentarem. A inesperada subida do republicano na reta final levou à queda dos índices de Wall Street e a abalos nas Bolsas de todo o mundo. Contudo, as pesquisas dos últimos dias sinalizaram uma aparente estabilização no quadro da disputa pela Casa Branca. Na média das pesquisas nacionais, Hillary Clinton aparece três pontos percentuais à frente do republicano.

Porém, as incertezas em relação ao resultado final seguem elevadas. Como o voto nos EUA é facultativo, torna-se menos previsível o grau de engajamento do eleitorado, de modo que os segmentos mais mobilizados podem fazer a diferença. Por exemplo, se a população hispânica, na qual predomina o voto anti-Trump, comparece em grande número às urnas, a possibilidade de vitória da democrata aumenta consideravelmente.

Por outro lado, como se trata de uma eleição indireta, o triunfo nos estados nos quais a disputa é mais apertada pode definir o pleito. Ao contrário do Brasil, onde a totalidade dos votos é somada e o candidato com mais votos é eleito presidente, nos Estados Unidos o voto serve para definir delegados ao Colégio Eleitoral. O candidato com mais votos em um estado leva, na maioria dos casos, todos os delegados da localidade. Desse modo, a quantidade de votos obtidos no Colégio Eleitoral, composto por 538 assentos e que define o presidente do país, dificilmente corresponde à proporção de votos nas urnas.

 Tendo em conta essa especificidade do sistema eleitoral, a vitória do republicano depende de um êxito em série nos estados nos quais a disputa é mais acirrada: Flórida, Carolina do Norte, Nevada e New Hampshire.

Perspectivas sombrias

Donald Trump, o sinistro líder do emergente populismo de extrema-direita americano, se nutre do descontentamento de amplos setores médios e da classe trabalhadora branca com os efeitos da Grande Recessão de 2008.  Donald canalizou, habilmente, a raiva sentida com a decadência do American way of life [estilo americano de vida] para um discurso de ódio aos imigrantes, às mulheres, aos negros e árabes. O triunfo de Trump teria consequências imprevisíveis.

Hillary Clinton, por sua vez, apoia-se no discurso social-liberal para angariar os votos das ‘minorias’ e das camadas ‘democráticas’ da população, assustadas com o troglodita republicano. Financiada pelos principais monopólios financeiros e empresariais, a candidata predileta da elite é vista com antipatia pela maioria da população. Sua força reside mais na rejeição a Trump do que na esperança que desperta.

Num contexto internacional marcado pela crescente instabilidade, seja qual for o desfecho das eleições dessa terça-feira (8), o mundo assistirá, muito provavelmente, à exacerbação da violência imperialista no próximo período. A disputa eleitoral definirá a modalidade da agressão, se chefiará o governo o racista e arqui-reacionário, Donald Trump, ou a agente liberal eleita por Wall Street, Hillary Clinton.

Foto: RICK WILKING / REUTERS