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MOVIMENTO

Nove dias de Ocupa Letras UFRGS: Lutamos pelo nosso futuro

Por: Ana Laura Horbach, de Porto Alegre, RS

São 7h, no Prédio de Aulas da Letras. O barulho da cafeteira e o cheiro do café quentinho tomam todo o corredor. Frutas e bolachas decoram as classes que servem de mesa, avisando que podem servir de alimento a qualquer hora. Nos murais, reconheço a letra de uma colega com a seguinte mensagem: “obrigada por ocupar e resistir”. Os colegas que estão na segurança já saem avisando quem ainda está dormindo que já é chegada a alvorada e logo mais vai ter Assembleia. A programação do dia já está fixada na parede, assim como o cardápio das refeições. Hoje – ainda bem! – temos RU, assim o trabalho da alimentação vai ser menor. Os que vão chegando nas mesas do café, ainda que com os olhos baixos, abrem um sorriso e dizem bom dia como se não importasse o corpo dolorido e a noite mau dormida: estamos a fazer história. Assim começa o nono dia de ocupação da Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Há nove dias, eu tenho aprendido muito mais do que em dois anos de movimento estudantil. Aprendi a escrever cartas abertas, manifestos. A fazer roteiro de vídeo, a ler projetos de lei, a furar o bloqueio da grande mídia. Aprendi que a gente não pode endurecer e sempre que gritamos um Fora Temer! abraçamos o colega do lado. É preciso confiar. Tenho visto as minhas colegas darem saltos de consciência: muitas delas sabem que somente a nossa luta e a nossa organização podem mudar a nossa realidade. As mulheres, que aqui elaboram a política e organizam a nossa ocupa, também são linha de frente nos outros trinta e um Cursos ocupados da universidade. Aqui, a opressão não é tomada como um box: ela transversaliza a nossa política.

Sabemos que o pano de fundo da PEC 55 e da MP da Reforma do E.M. é a precarização e a não perspectiva de futuro de quem sempre esteve a margem: é a precarização das mulheres, da população negra, das LGBTs. E por saber disso, juntamos a nossa justa revolta e o choro que nos tomou quando nos demos conta da violência do projeto privatista do Temer.  Que devíamos radicalizar. Que iríamos resistir. Que iríamos tomar o resto da Universidade e o resto da sociedade com o nosso debate. Que não iríamos aceitar que congelem nosso futuro. E que iríamos reconstruir os nossos sonhos de uma sociedade mais justa. Que se ficarmos sem futuro, não vamos Temer: vamos lutar até conquistá-lo de volta.

*Eu dedico esse texto a todas as mulheres da Letras, que foram a vanguarda das ocupações da UFRGS. É primavera no movimento estudantil!

Foto: Reprodução Facebook