Carta da tendência Leninista de abertura de processo de fusão com o MAIS, em PE

O Esquerda Online divulga, na íntegra, a carta da Tendência Leninista (ex-Insurgência). No documento, afirmam abertura de processo de fusão com o MAIS, em Pernambuco..

Leia abaixo, na íntegra:

CARTA DE RUPTURA COM INSURGÊNCIA
e ABERTURA DE PROCESSO DE FUSÃO COM O MAIS-PE

Em 07 de julho de 2013, no contexto do aprofundamento da crise do capitalismo global, das Jornadas de Junho no Brasil e nos marcos da batalha por um PSOL anticapitalista, democrático e de massas, foi lançado um Manifesto intitulado “Manifesto por uma nova corrente revolucionária”, assinado pelas correntes CSOL, Enlace e CLV que sintetizou seus objetivos em lançar-se “…no processo de construção de uma nova organização política que esteja à altura dos desafios de nossa época, convidando outras organizações, correntes e militantes para, conosco, tornarem-se protagonistas dessa iniciativa – a construção de uma organização revolucionária que esteja à altura de nossos sonhos”.

Os militantes e simpatizantes que constituíam o Movimento Síntese Socialista em Pernambuco reivindicaram o método do chamado público e do estímulo à fusão entre organizações revolucionárias de origens e tradições distintas, com vistas ao fortalecimento do projeto estratégico. Uma parte daqueles militantes aderiram ao chamado daquele Manifesto que resultou na Conferência de Fundação de Insurgência, ocorrida em outubro daquele memorável ano. Acreditamos e apostamos nossas forças militantes na construção de uma corrente que aparentava ser o polo mais dinâmico e coerente para a disputa dos rumos do PSOL como um partido anticapitalista, democrático e de massas.

Na práxis militante, vimos porém, que Insurgência não avançou nos objetivos do Manifesto, senão que retrocedeu. Desde nossa experiência em Pernambuco, muitas das respostas políticas e de concepção de organização, ou mesmo a ausência delas, não se traduziram em ação coletiva militante nacionalmente, muito menos na conversão da Corrente em um dos polos aglutinadores do processo de reorganização da esquerda socialista revolucionária.

Avaliamos que temas estratégicos de concepção de funcionamento e organização, atualização do programa e a necessária relação com as estruturas das classes subalternas, não resolvidos, estão na raiz e na centralidade da crise de Insurgência. Além disso, empiricamente impôs-se a perigosa atuação prioritária, nos diretórios/instâncias/gabinetes do Psol, em detrimento das relações sociais e políticas, nos territórios e nas estruturas das classes trabalhadoras e suas demandas programáticas e políticas. Dinâmica essa que – como já vimos com outras correntes de origens revolucionária, no PT (Democracia Socialista e O Trabalho) – já levou a adaptação ao parlamentarismo reformista, submetido à ordem do Estado do capital, seguida do praticamente desaparecimento daquelas experiências.

Lamentavelmente diante de uma importante aquisição e atração organizadora de centenas de militantes, gerou-se ainda mais imobilidade do funcionamento nacional, no contexto do principal episódio político dos últimos anos – que foi a batalha contra o impeachment – e, mais recentemente, na falta de projeto nacional, uma derrota eleitoral em algumas capitais, nas eleições municipais de 2016.

Entre os reflexos do regime interno deteriorado, identificamos também a ausência de um projeto de construção que pudesse sintetizar as necessidades de atualização programática para atual etapa da luta de classes, sintetizando as demandas contra as opressões com a luta de classes, no que se evidencia também no desprezo pela formação teórica marxista e pela militância internacionalista. Achamos também equivocado a falta de propostas concretas para novas fusões com outras organizações revolucionárias, além de uma indefinição permanente quanto ao campo prioritário de atuação sindical, perdendo de vista a importância estratégica que possui a luta por fortalecer a CONLUTAS, uma importante organização sindical e popular, em oposição à CUT.

A Tendência Leninista/PE atuou em defesa da Corrente e das Normas Constitutivas, com vistas a continuar com o Projeto Insurgência. No entanto, vimos que seria necessário que a Corrente adotasse essencialmente um novo processo de construção que deveria se centralizar por iniciar o debate interno e externo com vistas às novas fusões entre organizações “irmãs” que surgiram como possíveis para o próximo período, nos marcos do projeto original do Manifesto, em vista das exemplares e profícuas movimentações indicadas pelo surgimento da NOS (Nova Organização Socialista) e do MAIS (Movimento por uma Alternativa Independente Socialista), entre outros grupos regionais.

Entendemos que, nesse contexto de recrudescimento dos ataques neoliberais do obscurantista governo Temer, temos uma necessidade urgente de superar as vacilações, os localismos regionalistas, tanto quanto a auto-proclamação. É imperioso CONSTRUIR NOVAS FUSÕES ENTRE ORGANIZAÇÕES, CORRENTES e GRUPOS REVOLUCIONÁRIOS, VALORIZAR A ORGANIZAÇÃO E A COERÊNCIA MILITANTE e o PROGRAMA SOCIALISTA ESTRATÉGICO para se contrapor à dinâmica dispersiva e desmoralizadora gerada pela crise histórica e estrutural do petismo e do lulismo.

Este caminho pode ser muito mais amplo e representativo, no mesmo campo programático e estratégico, do que foi as forças que originalmente fundaram a Insurgência e que poderá impactar um importante espectro da esquerda anticapitalista, não somente no Brasil. Esse horizonte nos fez adotar o caminho da saída da Corrente, reivindicando, porém, a essência do Manifesto de Fundação.

Neste âmbito, sem desprezar a importante trajetória que vivemos dentro de Insurgência para futuras construções no campo da esquerda revolucionária, bem como o aprendizado com o intercâmbio de experiências de valorosos e valorosas camaradas que se dedicam à Construção da Corrente, sabendo que num futuro próximo poderemos nos encontrar nos embates da luta de classes, vimos anunciar nossa saída fraternal da Insurgência e abrir um processo de fusão com o MAIS-PE, que deu exemplo de metodologia no trato das diferenças com sua organização originária, sem abdicar dos princípios, do centralismo democrático e da estratégia. Conclamamos os diversos agrupamentos militantes socialistas do Brasil a construir o mesmo caminho.

Recife, 24 de outubro de 2016.
Tendência Leninista/PE (ex-Insurgência)