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O que não está em jogo no segundo turno em Recife?

Por: Diogo Xavier, de Recife, PE

Diante de uma vitória eleitoral em quase todo o país das forças reacionárias que sustentam o governo Temer (PMDB), os poucos locais onde as forças de esquerda conseguiram chegar ao segundo turno estão sendo vistos como pontos importantes de resistência a essa expressão eleitoral de avanço do PSDB.

O Rio de Janeiro é o caso mais expressivo. A candidatura de Marcelo Freixo (PSOL) é uma clara contraposição aos setores reacionários espelhados no seu opositor, Crivella (PRB), e nos governos do PMDB que dirigiram a capital fluminense nos últimos anos.

No Recife, a situação não é de uma polarização entre os setores conservadores e progressistas. Não está em jogo uma candidatura golpista e uma candidatura do amplo setor da esquerda que vai servir de apoio contra os ataques que virão, pois a candidatura do PT se uniu ao que há de mais reacionário na política pernambucana, para conseguir fazer oposição ao atual prefeito. Com isso, dá provas nítidas de para onde irá levar o mandato, caso ganhe as eleições no próximo dia 30.

O atual prefeito foi o primeiro modelo de gestor empurrado de goela abaixo pelo falecido Eduardo Campos (PSB), aproveitando a alta popularidade e brigas internas no PT, que demorou muito e expôs para toda a sociedade a dificuldade de escolher um candidato. O então governador vendeu a imagem de um grande gestor, que iria colocar o Recife no rumo certo. Geraldo Júlio (PSB) passou de um completo desconhecido, ao braço direito de Eduardo, como aquele que teria feito todas as coisas. A máquina eleitoral pesou para a eleição ainda no primeiro turno. Foi a primeira derrota do PT desde 2000 e já mostrava as debilidades do partido. O mandato de Geraldo Júlio replicou na Prefeitura o descaso que acontecia no governo do estado.

Do outro lado, está a candidatura de João Paulo (PT). O candidato foi o primeiro prefeito do Recife pelo partido, ganhou a eleição de 2000 do então imbatível Roberto Magalhães (DEM) e fez dois mandatos que são muito reconhecidos, principalmente nos morros do Recife. É inquestionável a popularidade do nome do petista e de que o mesmo tem na população mais pobre da cidade uma ampla aceitação. No entanto, qual João Paulo está disputando essa eleição é o cerne da questão. O principal aliado é o PRB, partido da Igreja Universal e que representa os maiores retrocessos na sociedade. O vice é deste partido, Silvio Costa Filho, herdeiro de um dos caciques da política pernambucana, Silvio Costa, que é deputado federal e votou por diversas vezes contra a classe trabalhadora, inclusive na PEC 241.

Foi na Prefeitura do petista que o terreno do Cais José Estelita foi leiloado. Todas as lutas travadas nos últimos anos pela não construção de torres no espaço defende um projeto totalmente diferente daquele que a Prefeitura de João Paulo fez ao leiloar o terreno e entregá-lo à iniciativa privada, deixando o terreno para a especulação imobiliária.

O PT reproduz em Recife o mesmo que aplicou em todo o país, quando esteve no Governo Federal. Se alia com o que de mais reacionário existe pela tal ‘governabilidade’.  Não estamos diante de uma disputa entre campos opostos, mas sim de uma disputa entre um atual prefeito, que aplica medidas antipopulares e um ex-prefeito que governará para os mesmos que o atual governa.

Ainda nesse jogo político, o PCdoB tem uma postura completamente contraditória, sendo um aliado histórico dos governos petistas. O partido em 2012, ao perceber a crise do PT, se aliou ao PSB, ocupando o cargo da vice- Prefeitura. Fez, assim, uma aliança estreita com os golpistas que tanto a base do partido criticou durante todo o processo de impeachment. É possível ver os limites desse partido, que se aliou com Cabral e Paes, ambos do PMDB, no Rio, e no Recife se alia com os herdeiros do legado de Eduardo Campos.

Por isso, é incorreto acreditar que na única capital que o PT chegou no segundo turno estão em disputa dois projetos distintos de cidade. O que está em jogo é se a figura do ex-prefeito conseguirá ser maior do que o desgaste nacional que sofreu o partido. Mesmo nos locais onde houveram atos massivos contra o impedimento da Presidenta Dilma, as candidaturas do PT optaram por se aliar ao que há de mais reacionário na política brasileira.

Foto: Reprodução Facebook