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Eleições Itabuna: uma vitória do coronelismo e a necessária reorganização da esquerda

Primeiramente, Fora Temer!

Passado o primeiro turno das eleições municipais, o que ainda paira por Itabuna é uma sucessão de dúvidas a respeito de quem assumirá o Centro Administrativo Firmino Alves a partir do dia 1º de janeiro. O que se sabe é que, independente do resultado, o prognóstico não é nada positivo para a maioria da população.

A direita avançou e trouxe consigo novos e velhos rostos, uma série de ilusões e as práticas já conhecidas de sempre. Os números em Itabuna refletem em muito o cenário nacional.

O DEM e o PMDB ficaram em 1º primeiro lugar na disputa ao executivo. Até então, nada muito diferente do que já vinha apontando as pesquisas de boca de urna. No entanto, o até então prefeiturável Fernando Gomes pode não assumir devido a processos que responde na justiça, deixando o município sobre a incógnita em ter ou não nova eleição ao Executivo. Na lista, do segundo ao nono colocado ficaram, respectivamente, Drº Mangabeira (PDT), Augusto Castro (PSDB), Azevedo (PTB), Geraldo (PT), Davidson (PCdoB), Zé Roberto (PSTU), Coronel Santana (PTN), e Mister Cuca (PSOL). A surpresa veio na composição do legislativo itabunense para 2017, com a reeleição de sete vereadores e a volta de outros dois ex-vereadores. Além disso, das 21 cadeiras, os partidos de direita e centro-direita conquistaram 18.

A volta do coronelismo e a vitória do PMDB
Os grandes vitoriosos desse processo foram o governo ilegítimo do Michel Temer e, sobretudo, os velhos coronéis da região. A ofensiva da direita, liderada na Bahia pelo ACM Neto (DEM) e Geddel (PMDB), apostou todas as fichas, em um segundo momento, na candidatura de Fernando. A vitória na cidade é estratégica e reforça qualitativamente os planos do DEM em ganhar as eleições para o Governo Estadual em 2018. Para além disso, o triunfo da base aliada nas urnas confere mais força ao governo golpista para a aprovação de suas contrarreformas no Congresso Nacional.

Partidos que no último período foram protagonistas do golpe parlamentar, assumiram também o protagonismo nas urnas. Demonstrando, assim, que parte importante das e dos trabalhadores e da juventude foram ganhos pela política construída pela direita diante da acentuação na crise política.

Vale ressaltar, também, o peso alcançado por partidos de extrema direita. Por exemplo, o PTC e o PHS, que em outros momentos não possuíam nenhuma ou muito pouca expressão na cidade, conseguiram eleger dois vereadores cada um.

A derrota do PT e PCdoB
O partido de Geraldo Simões sofreu uma derrota histórica. Além de perder as eleições, o PT viu seu peso político desmoronar. O partido desabou inclusive em seus antigos bastiões políticos-eleitorais, como em setores periféricos onde possuem um trabalho histórico.

Com o PCdoB não foi diferente. Acreditavam estar com a faca e o queijo na mão e por isso insistiram em uma candidatura própria, mesmo quando as pesquisas diziam o contrário. Moral da história: Geraldo e Davidson saem dessa eleição contabilizando juntos exatos 19,76% dos votos, ficando atrás do quarto colocado na corrida ao executivo.

Por fim, a insistência em governar com/para os ricos que se reproduziu, mais uma vez, nas alianças para as eleições, cobrou o seu preço. Porém, quem vem capitalizando a crise do PT/PCdoB é a direita tradicional. Os erros consecutivos, aliado as traições cometidas por esses partidos e seus aliados, deram a base à ofensiva reacionária que observamos.

É urgente a superação do petismo no ponto de vista programático e estratégico. Sem tirar as devidas lições dessa experiência, não teremos condições de superar os erros do passado. Assim, é fundamental o fortalecimento ativo das alternativas da esquerda socialista e que se evite os caminhos desastrosos trilhados pelo Partido dos Trabalhadores.

Fortalecimento do PSTU
Se por um lado é bem verdade que a direita foi a grande vitoriosa desse processo, contudo, também foi possível detectar que há um espaço à esquerda, ainda que pequeno. O significativo crescimento do PSTU expressa um sentimento legítimo por parte da população e um rechaço a velha política coronelista da direita e as traições do PT e PCdoB.

Setores importantes de trabalhadores e da juventude buscam uma nova alternativa à esquerda. Esse é um movimento positivo, ainda que cheio de contradições e limitações. A rigor, o PSTU foi aquele que melhor se colocou para isso. Apresentando um programa socialista para o município, sempre o conectando a realidade local.

Por outro lado, é fundamental o debate sobre as perspectivas do partido, afinal, o crescimento eleitoral não tem sido sinônimo de esforço para construção de uma ampla frente de esquerda socialista. Em meio a um cenário de tantas dificuldades, é inadmissível que o mesmo se mantenha isolado e que não use desse saldo eleitoral para fortalecer todo o campo da esquerda socialista. Isso seria um erro grave.

No âmbito da esquerda socialista, o enfraquecimento do PSOL é reflexo de uma política deslocada da realidade e da dificuldade em apresentar um programa para a cidade.

As eleições e seus limites
O processo eleitoral expressa um momento importante onde às pessoas voltam suas atenções para a política. Entretanto, a correlação de força entre ricos e pobres apresenta uma série de distorções na forma como é colocada. Embora sejam os menos favorecidos que possuem o maior número de votos e, consequentemente, o poder de decisão; são os ricos aqueles que possuem o controle da mídia hegemônica e que dão conta das campanhas milionárias. Juntas, elas confundem a cabeça da população e controlam todo o processo.

A quantidade significativa de votos nulos e brancos é o retrato de uma negativa a essa lógica e localiza um setor importante da população. As eleições, devido a todas suas contradições, já provaram que não são capazes de arrancar as profundas transformações que desejamos. De outra forma, esse é também um espaço aberto e que deve ser disputado por aqueles e aquelas que não se renderam as velhas alianças em nome da governabilidade, tão pouco aos interesses da direita.

Uma análise sobre as forças partidárias é importante para a avaliação da dinâmica política. Porém, é nas ruas, greves e ocupações o espaço central para a disputa entre as classes sociais. Nas eleições, os ricos controlam o jogo. Nas lutas, é onde ocorrem os embates decisivos.

É tempo de preparar a resistência e avançar na construção de outro projeto para Itabuna e o Brasil. Um projeto de esquerda e socialista, que tem por tarefa ser do tamanho dos nossos anseios e sonhos. Para isso, será necessário a máxima unidade em torno do Movimento Sul da Bahia pelo Fora Temer e de todas as iniciativas que visem enfrentar e derrotar a ofensiva da direita. Esses passos precisam guiar a esquerda durante esse período.

Foto: Reprodução Facebook