Falar para o vazio

Por: Gabriela Barboza, de Palmas, TO

As cortinas se abrem, o ator entra em cena, a respiração marcada, concentrado. Ele inicia a peça, o texto sai, visceral.
Ao seu redor o palco italiano, as cadeiras de madeira de lei.
 
É o cenário perfeito, a iluminação precisa, a sonoplastia tocante, a indumentária exata.
 
A melhor peça, o melhor palco, os mais talentosos atores.
O que é falar para o nada?
O que é mergulhar-se no vazio?
O ator fala para um público vazio.
 
Ele derrama lágrimas para ninguém.

RAIA

Mais uma eleição…

Eu volto do hospital e me deparo com algumas notícias:
1.SP volta para as asas tucanas do PSDB;
2.A Amanda Gurgel, a vereadora mais bem votada do Brasil nas últimas eleições, não conseguiu se reeleger, por causa do COEFICIENTE ELEITORAL;
3. O FREIXO ESTÁ NO SEGUNDO TURNO, no RJ ( ainda não acredito)…

Hoje reflito muito sobre todos os meus anos de militância, sobre como talvez eu tenha sido educada a desprezar enormemente o espaço do parlamento. Ao contrário daqueles que vivem para a eleição, eu fui formada a desmascará-la, pois sei que não é através dela que a vida do povo pobre muda. Entretanto, a nós marxistas cabe o papel reflexivo e autocrítico, pois a realidade é dialética.E agora, ao olhar a imagem de um teatro vazio reflito qual o papel da esquerda socialista e revolucionária. Como um ator que fala para uma platéia esvaziada, de um público viciado, não estaríamos nós falando para o vazio?

É triste, mas do que adianta dizermos exatamente o que acreditamos se usamos uma língua morta, de uma fala engessada, para um público desinteressado?

Companheiros, o muro de Berlim caiu, não há mais socialismo no mundo, e o pior, não há mais socialismo para o mundo. A queda do stalinismo representou sim uma vitória do povo,mas representou também a queda dos estados operários, logo, uma vitória para o capital. O socialismo morreu na mente e nos corações de nossa classe, que já não se vê como classe, que não vê classe. O socialismo foi assassinado com uma foice estancada no peito. É duro, é triste, é real. E diante disso, o que resta a nós socialistas?

Em um Brasil de Bolsonaros, ACMs neto, em que a reforma política ataca partidos pequenos, numa democracia recheada de “cláusulas de barreira”, que impedem que a segunda vereadora mais bem votada de Natal seja eleita, num mundo cuja maior economia global tem Trump com 43% de aprovação, com seu discurso de ódio às mulheres e aos latinos ganhando força…
Nesse mundo, o que resta a esquerda revolucionária?

De que me adianta dizer exatamente o que quero, se o faço para ninguém (1%, 2%)? 
A consciência de nossa classe retrocedeu, não se sonha mais, e senão há sonho, não há luta, não há revolução. Não acreditar nas instituições do regime não é ignorá-las, menosprezá-las. A tática do isolamento nos enfraquece. Nós precisamos, em meio a um mar de cobras, nos unir, darmos as mãos, e isso em nada significa anularmos nossas diferenças, polêmicas, e desacordos.


O papel da esquerda socialista e revolucionária nesse país não é falar para o vazio, é falar para as massas, é falar a língua das massas, é chegar onde as massas estão. E juntos somos MAIS fortes. Por isso digo, para 2º turno no RJ, é frente de esquerda: (PSTU, PSOL, PCB), é FREIXO!


Mas não só nas urnas, temos que somar, avivar a esperança do povo, fazer o povo questionar o capitalismo, construir frentes na LUTA, rumo a greve geral para derrotar o ajuste fiscal, pelo Fora Temer e por Eleições Gerais já!

Vamos encher esse teatro de gente, vamos lotar os 800 lugares.

Palmas, Tocantins, 02/10/2016.

Gabriela.