Por: Henrique Carneiro, colunista do Esquerda Online
Ouvi com atenção o discurso de Lula ontem. Foi patético, não só porque ele chorou duas vezes, mas pelo que esse discurso propõe. Lula teve uma função básica que ele se orgulha e continua a repetir: conciliar as classes sociais.
Dizer que o Brasil sob seu governo era “o país mais feliz do mundo” e o “que mais crescia” é tão megalomaníaco como comparar-se a Jesus Cristo.
Embora se orgulhe de que houve “a maior inclusão social da história”, “sem fazer uma revolução”, assim como o crescimento do salário mínimo, também declara que “não foram os trabalhadores os que mais ganharam”.”Bancos têm que crescer”, reafirma ele. Dirigindo-se a Guilherme Boulos, afirma que os empresários ganharam mais no seu governo do que poderão ter em dez anos de prejuízos e o provoca: “empresário falido não presta, ô Guilherme”.
Seu choro é de sentir-se abandonado pela burguesia a quem ele tanto ajudou, da Globo ao judiciário ‘independente’ que ele mesmo nomeou. Mas, ainda há burgueses aliados. Kátia Abreu do agronegócio e Armando Monteiro, da indústria, aos quais faz questão de agradecer.
Mas, o que ele propõe agora? O que, concretamente, além do anúncio do terceiro mandato, que poderia de novo ter um país conciliado e feliz? No concreto, seu ministro favorito é o atual, Meirelles.
Mas, se Lula não tem mais como cumprir um papel de pacificador, tampouco poderá voltar a ser um líder operário.
Lula tornou-se um híbrido, seu prestígio advém do que ele foi e já não é. Seu desprestígio é resultado do que ele é e não poderá deixar de ser. Sem ser mais útil à burguesia, tampouco serve para qualquer interesse da classe operária.
Sua superação, entretanto, só pode ser feita pela vontade popular.
Quando ele exaltou a “honestidade” dos políticos, acima dos “concursados”, porque os primeiros, “por mais ladrões que sejam tem de ir para a rua e disputar o voto”, não sabemos se pensava em seus ex-aliados Maluf e Collor, ou em si mesmo. Mas, de fato, ele só poderá ser superado se puder ser submetido ao julgamento popular das eleições.
Tentar cassar seu direito de candidatar-se, sendo hoje o primeiro nas pesquisas eleitorais, é um gesto político discriminatório e antidemocrático.
Foto: Roberto Parizotti / CUT
Comentários