Livro discute legado da Pedagogia e Psicologia Soviética

Por Marcel Cunha, Professor da Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA/CE)

 

O revolucionário não é uma abstração psicológica. A revolução em si não é um princípio abstrato, mas um feito histórico material nascente dos antagonismos de classe, da dominação violenta de uma classe sobre outra. […] estamos longe da tarefa de educação do harmonioso cidadão da comuna, em formá-lo por meio de um cuidadoso trabalho de laboratório no curso de um estado transitório da sociedade muito menos harmoniosa. Tal empreendimento seria uma utopia de uma lamentável puerilidade. O que queremos fazer são lutadores, revolucionários, que herdarão e completarão nossas tradições históricas que, todavia, temos levado a termo. (Leon Trotski)

O livro Pedagogia e Psicologia Marxistas: a revolução teórica no interior da revolução social, lançado pela Editora Prismas, é uma produção coletiva organizado por Natália Ayres, Niágara Cunha e Marcel Cunha, professores do ensino superior público. Os autores tentam trazer a tona algumas valiosas contribuições que a Revolução Bolchevique de 1917 pôs em marcha, especialmente nos seus primeiros anos, no plano do desenvolvimento humano.

O livro é dedicado à Cecília Toledo. Uma militante socialista, internacionalista, jornalista, artista e revolucionária, conhecida como Cilinha, que dedicou uma vida inteira à luta contra a exploração e a opressão. Cilinha lutou contra a ditadura militar no Brasil e seguiu construindo a luta socialista até sua morte, em setembro de 2015, pouco depois de prefaciar a obra que agora lhe é dedicada in memorian.

Apesar de ser uma coletânea de textos colaborativos, o livro possui continuidade e um concatenamento lógico que tem o objetivo de levar o leitor a compreender as contribuições da Pedagogia e da Psicologia Soviética e, consequentemente, desenvolver uma crítica aos moldes educacionais da atualidade impostos pela luta de classes na sociedade capitalista.

Pedagogia Soviética

A primeira parte se dedica ao legado da Pedagogia Soviética, discutindo A perspectiva da educação socialista em Lenin e Krupskaia, capítulo de Edison Oyama (UFF/RJ), Escola do trabalho soviética: dois passos à frente, um passo atrás, de Marcel Cunha (UVA/CE), além de uma reflexão articulada pelo capítulo de Lorene Figueiredo (UFF/RJ) em um questionamento instigante: Quais lições a escola do trabalho da Rússia revolucionária pode ensinar à escola brasileira de hoje? Contamos também com uma contribuição da professora Kênia Miranda (UFF/RJ) sobre Anton Makarenko e a educação do coletivo na sociedade socialista.

Ainda na primeira parte, José Pereira (UECE/CE) e Andreyson Mariano (SEDUC/CE) nos brindam com o capítulo A revolução socialista e a construção de uma teoria da educação: as revoluções no interior da revolução, que discute o mérito de uma construção teórica própria de uma revolução social. Tal capítulo revela ao leitor nossa compreensão que gerou o subtítulo do livro, a revolução teórica no interior da revolução.

Psicologia Soviética
A segunda parte é destinada à Psicologia Soviética com os capítulos Lev Vigotski e os desafios da educação socialista, de Zoia Prestes (UFF/RJ), A gênese e desenvolvimento das funções psíquicas superiores na obra de A. R. Luria, de Natália Ayres (UECE/CE), O papel da brincadeira no desenvolvimento histórico e cultural da criança: uma leitura a partir da Psicologia Histórico-Cultural, de Niágara Cunha (UVA/CE) e, seguindo a mesma lógica da primeira parte, encerra-se com uma discussão sobre O papel da educação escolar para o desenvolvimento das funções psicológicas superiores na adolescência: considerações a partir da Psicologia Histórico-Cultural, de Silvana Tuleski (UEM/PR).

Educação Hoje
O exemplar se encerra com o desenvolvimento de alguns aspectos da educação na atualidade. Aborda a educação na sociedade capitalista e os princípios (neo) pragmáticos no campo da formação docente que tencionam boa parte da classe trabalhadora, professores e estudantes, para apenas reproduzir a ideologia da acumulação capitalista como base da formação para a nossa classe.  São eles os capítulos Psicologia da Educação e Psicologia Histórico-Cultural: convergências para uma atividade educativa emancipatória, de Emanoela Terceiro (UECE/CE) e Natália Ayres (UECE/CE), Considerações críticas sobre o papel social da educação na sociedade capitalista, de Raquel Dias (UECE/CE) e Os príncipios (neo) pragmáticos no campo da formação docente: análise sob a ótica marxista, de Diana Monteiro, professora da Rede Básica de Ensino de Fortaleza.

Assim como para Leon Trotsky, “o que queremos fazer são lutadores, revolucionários, que herdarão e completarão nossas tradições históricas que, todavia, temos levado a termo”.