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MOVIMENTO

Observações sobre questão geracional: jovens podem fazer política?

O candidato a prefeito de Esteio, no RS, pelo PP, Leonardo Pascoal moveu uma ação contra jovens de esquerda acusando-os de crimes eleitorais e pedindo até R$ 25 mil de indenização, tudo com o objetivo de coagir o movimento #EsteiodaEsquerda e silenciar qualquer crítica. A partir da denúncia realizada pelo movimento uma onda de indignação contra Pascoal movimentou a cidade na semana passada. Muitas foram as críticas, e quase todas com razão. Ao tentar censurar as críticas, Pascoal só legitimou a argumentação de que ele e o partido tem tradições autoritárias e conservadoras. Mas, houve uma crítica a Leonardo Pascoal que os socialistas não devem concordar, pelo fato de ele ter 25 anos chamaram-no de infantil, criança, moleque incapaz de governar a cidade e aí por diante. Querem dizer que a a condição de jovem é incompatível com ser prefeito. Que em suma os jovens devem seguir os mais velhos.

Jovens muito capazes
Karl Marx com 24 anos era redator-chefe da Gazeta Renana. O atleta Usain Bolt aos 22 anos quebrava vários recordes mundiais e faturava três medalhas de ouro nas Olimpíadas de Pequim. Anita Malffati aos 24 anos realiza a primeira exposição individual de pinturas dela e poucos anos depois é uma das lideranças da Semana de Arte Moderna. A cientista Marie Curie, aos 33 anos, foi a primeira professora mulher na história da universidade de Paris-Sorbonne. Albert Eistein, aos 26, já publicava teses revolucionárias para a física. Alan Turing, que além de matemático era homossexual, aos 24 anos ganhava projeção mundial com uma máquina que fazia operações computacionais. Com 25 anos, Nina Simone já estampava uma canção no top 20 dos EUA.

Jovens no mundo do trabalho
Há uma tendência mundial em curso: a crise econômica está tendo efeitos mais severos para uma faixa etária de 18 a 24 anos. No Brasil, a taxa de desocupação dos jovens em 2015 foi a que mais cresceu entre os grupos etários, ficando em 16,8%. A taxa média mundial de desemprego entre jovens no ano de 2015 estimada pela OIT foi de 13,1%.

No Brasil, 12,5% dos jovens entre 15 e 17 anos realizam trabalhos considerados perigosos, ou insalubres, com risco de morte ou de enfermidades, diz o estudo. Esse número é acima do registrado por Uganda. Na Rússia, o índice de adolescentes nessas condições é de 6,3%, de acordo com a OIT. Na Espanha, no auge da crise econômica, o desemprego entre os jovens chegou a 50%.

Laís Abramo, diretora do Escritório da OIT no Brasil afirmou que a entrada dos jovens no mercado de trabalho é fortemente marcada pelas desigualdades sociais. Isso porque o trabalho é mais intenso entre os jovens das famílias mais pobres. Poucas vezes é exercido nas condições protegidas pela Lei de Aprendizagem e, muitas vezes, equivale às piores formas de trabalho infantil e adolescente, proibidas até os 18 anos.

A partir dos 18 anos, a diferença principal não está na disposição para o trabalho, mas sim nas chances de encontrá-lo e nas condições em que ele se exerce. Os jovens de baixa renda são os mais afetados pelo desemprego e piores condições de trabalho, muitas vezes sem completar o Ensino Fundamental. Os jovens com renda mais alta, por outro lado, tendem a ser menos afetados pelo desemprego e encontram melhores empregos.

Jovens na fábrica
Nas fábricas, os jovens ocupam os papeis mais subalternos. Os lacaios dos capitalistas nos tratam com grosserias e impaciências diferentes dos mais velhos. Se aconteceu algum problema na produção, é exigido dos considerados mais vigorosos e disponíveis que fiquem mais algumas horas na empresa, afinal são jovens cheios de energia, não têm filhos, entre outros argumentos. Se por falta de matéria-prima, manutenção, ou qualquer outro motivo as máquinas na célula ao lado param, o operário das máquinas paradas ‘mais experiente, mais qualificado, mais capaz’ toma o lugar do jovem na máquina e este irá varrer o chão, limpar as máquinas, ou qualquer outro serviço mais desagradável. Se são mulheres negras jovens é certo que dificilmente estarão na produção. A combinação das diferentes opressões as torna a mão de obra mais barata e, portanto, nos postos de trabalho mais bestiais.

Pascoal não pode ser prefeito porque é conservador e representa a elite e não porque é jovem
Leonardo Pascoal é inimigo dos interesses do povo. Um conservador autoritário. E por isso não pode ser prefeito, representa os interesses do 1% lá do topo. Não é correto os movimentos sociais e os ativistas de esquerda entrarem na onda das ideias burguesas de difundir preconceito contra os jovens. Este preconceito é muito útil e lucrativo aos capitalistas. Deve-se, portanto, enfrentá-lo.

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Esteio / juventude