Dilma se defende atacando em depoimento no processo do impeachment

Brasília- DF 29-08-2016 Presidenta Dilma faz sua defesa no plenário do senado. Foto Lula Marques/Agência PT

Por: Ademar, de Brasília, DF

Dilma acaba de terminar seu depoimento no Senado no julgamento do impeachment. Mais que uma defesa dos crimes que vão tirá-la da Presidência, sua fala foi um discurso político. Ela falou em golpe e de interesses das elites contra os avanços sociais conquistados pelo PT. O quanto ela foi sincera?

Dilma comparou sua saída ao golpe de 64, quando militares depuseram o então presidente João Goulart. Falou que “sempre que interesses das elites foram feridos pelas urnas, golpes foram tramados”. Falou que Temer quer “congelar gastos por 20 anos com saúde, educação e habitação”. E que sua saída é fruto do trabalho de “elites conservadoras e autoritárias”.

Muitos pensavam que ela iria chorar e apelar à emoção. Não foi bem assim, apesar do discreto choro em alguns momentos. Ela também não ficou entrando em detalhes da acusação de pedaladas fiscais, pretexto usado pelo grupo pró-Temer para tirar Dilma. Dilma se defendeu atacando, acusando os políticos que a julgam de atuar em defesa de interesses escusos.

Em alguns pontos, ela falou a verdade. De fato a posse de Temer na Presidência é algo que a burguesia do país espera há muito tempo. O objetivo é acabar com direitos dos trabalhadores e privatizar o patrimônio público. Se não fosse o interesse dos bancos em aprofundar a atual política econômica, não haveria impeachment.

Mas, Dilma se esqueceu que ela própria foi cúmplice do que ela chama de golpe. Foi ela que durante seu mandato manteve o pagamento de juros da dívida pública aos bancos. Dívida que nunca passou por uma auditoria. Auditoria que ela teve a chance de sancionar, ma preferiu vetar.

Foi ela que aprovou a lei antiterrorismo, que está sendo usada para reprimir manifestações do povo. Foi ela que promoveu um dos maiores pacotes de privatização dos últimos anos. Aeroportos, rodovias e estradas foram entregues à iniciativa privada. Foi ela que colocou políticos de moral mais que duvidosa em ministérios.

Michel Temer só está na Presidência porque o próprio PT o escolheu como vice. Não é conversa de “coxinha”, é verdade factual. O PT por treze anos se aliou com o que existe de mais sujo da política brasileira. O compromisso com essas alianças foi tão grande que foi o próprio PMDB que rompeu com o PT.

O resultado do impeachment já está definido. Dilma sairá para a posse definitiva de Michel Temer. Mas, nesse julgamento existe a disputa por qual versão da história vai prevalecer. De um lado o PSDB, o DEM e o PMDB, que sustentem a versão de que Dilma sai porque cometeu crimes. Do outro, a versão do PT de que tudo é um golpe. A realidade é muito mais complexa.

De fato houve uma manobra parlamentar para que Temer entrasse no governo e aplicasse o programa do PSDB. Também é verdade que isso é um ataque aos direitos democráticos do povo. Mas o próprio PT fez parte dessa manobra ao se curvar aos banqueiros, grandes empresários e políticos corruptos. Agora o povo paga o pato.