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EDITORIAL

A adaptação e a impotência do PT

Nesta sexta-feira (26), não foi um dia qualquer. Primeiro, porque o ex-presidente Lula (PT) e a esposa Marisa foram indiciados pela Polícia Federal, acusados de corrupção passiva, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro. As suspeitas contra o líder do PT são parte do inquérito que investiga a reforma do apartamento tríplex no Guarujá, litoral paulista, feita pela OAS, empreiteira envolvida no escândalo da Petrobrás.

Segundo, porque começou o depoimento das testemunhas de defesa da presidenta Dilma no Senado, durante a sessão do impeachment, comandada pelo presidente do STF, Ricardo Lewandowski. A petista está sendo acusada de crime de responsabilidade por ter realizado as famosas pedaladas fiscais no segundo mandato. A votação do impeachment no Senado, portanto, o julgamento final de Dilma, acontecerá, provavelmente, na próxima quarta-feira (31).

A esquerda socialista deve ser categoricamente contra o impeachment da presidenta Dilma, pelos motivos que já apresentamos em editorias passados. Nós devemos, igualmente, denunciar a farsa da operação Lava Jato, que está orientada menos para combater a corrupção e mais para liquidar, política e eleitoralmente, o PT e principais lideranças do partido. Mas, é necessário entender, também, que a ofensiva da velha direita revela a profundidade da adaptação do PT às classes inimigas.

Por um lado, independentemente de Lula ser, ou não, proprietário do sítio em Atibaia e do tríplex no Guarujá, a Lava Jato apontou, mais uma vez, as relações promíscuas da direção petista com os grandes capitalistas, em particular com as empreiteiras, setor do empresariado mais favorecido pelos governos do PT.

Por outro, o processo de impeachment, que já dura vários meses, mostra a impotência do PT frente aos ataques dos antigos aliados nos poderes Executivo e Legislativo, incapaz de mobilizar a base social e eleitoral histórica em defesa da manutenção do mandato de Dilma.

A operação Lava Jato, com a seletividade e parcialidade descaradas, e o processo de impeachment, uma manobra parlamentar dos partidos e políticos da direita tradicional, demonstram não só o esgotamento do projeto petista de poder, baseado na conciliação de classes, mas também a enorme ingratidão da burguesia para com a cúpula petista. O PT, que traiu o povo, é traído pelos seus melhores amigos desses treze anos de governo.

A crise política, alimentada pela crise econômica, rompeu a aliança do PT com os grandes capitalistas e representantes políticos, exclusivamente pela iniciativa destes últimos. A burguesia começou a descartar os serviços prestados pela direção petista, assim que o governo Dilma perdeu a popularidade, depois do estelionato eleitoral de 2014.

Retirar as lições corretas desses acontecimentos é uma tarefa urgente da esquerda e dos movimentos sociais independentes. A construção de uma nova alternativa política socialista passa, inevitavelmente, por superar o eleitoralismo, os conchavos com os poderosos e o projeto de conciliação de classes, que já cooptou e desmoralizou milhares de trabalhadores e, agora, está destruindo o PT.

Foto: Ricardo Stuckert/ Institulo Lula

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